sexta-feira, 30 de outubro de 2009

CASA GRANDE DO ENGENHO JACOCA

CASA GRANDE DO ENGENHO JACOCA
O engenho Jacoca pertenceu a Maneco França e sua casa grande foi construída em 1917 conforme está gravado na fachada frontal do casarão
Hoje, 30 de outubro de 2009, quando regressava do passeio/pesquisa em Ponta do Mato, resolvi visitar as ruínas do velho casarão da Jacoca, pois, em 2002 andei fotografando suas paredes e o que restava do antigo engenho.

A vontade e a ansidade de rever os escombros da velha casa e, poder imaginar como seria no áureo período em que era um engenho produtivo, provavelmente, aquela estrada seria tomada por animais e carros de bois, vindos do canavial, transportando a cana e o cheiro do mel deveria encher o espaço misturando-se à negras fumaça expulsa pela chaminé, obelisco canavieiro.


Para minha surpresa tudo havia se transformado na velha fazenda. Ao chegar à primeira porteira, vislumbrei uma enorme mansão construída no alto de uma colina e, imaginei o pior: o velho casarão deveria ter sido demolido. Isso me deixou muito triste e parecia que minha visita não ia valer à pena.

Quando cheguei à velha ruína meu coração bateu mais forte e fiquei deveras emocionado, ela estava lá, firme, imponente, parecia uma guardiã da história.


Em meio a tantas maldades e incompreensões presentes nos casarões e engenhos do vale encantado de Ceará-Mirim, o novo proprietário da fazenda, o senhor Gilmar da construtora Montana, teve a sensibilidade e valorizou aquele patrimônio histórico, cultural e arquitetônio, preservando sua fachada e dando-lhe uma nova funcionalidade.

Parabéns ao Sr. Gilmar e seria importante que outros proprietários de patrimônios arquitetônicos de Ceará-Mirim se espelhassem na sua atitude e restaurassem esses bens porque, assim, estariam preservando parte da história de nosso município, como por exemplo: Carnaúbal, Cruzeiro, Oiteiro, Morrinhos, Laranjeiras, Santa Rita, Santa Isabel, Guaramiranga, Ilha Bela, Santa Tereza, a antiga cadeia pública, o casarão dos Soares (Correira),a velha casa dos Meiras (proximo a Camara), o antigo olheiro, o cine paroquial entre outros.

VASSOURA DA PALHA DE CARNAÚBA

FABRICAÇÃO ARTESANAL DE VASSOURAS DA FIBRA DE CARNAÚBA


A carnaubeira é uma planta nativa do Nordeste brasileiro que, em condições normais cresce, em média, cerca de 30 cm por ano, atingindo a maturidade botânica (primeira floração) entre 12 e 15 anos de idade, podendo atingir uma altura superior a 10 metros e produzir entre 45 e 60 folhas anuais.
A palha é um produto da carnaúba que tem importância no Nordeste, principalmente na produção artesanal. A atividade artesanal existe nos três estados produtores, aproveitando a palha na confecção de inúmeros objetos como tarrafas, escovas, cordas, chapéus, bolsas, vassouras, redes, esteiras e cobertura de casas.
O corte da folha de carnaúba é feito com varas de bambu de três tipos, de acordo com a altura da planta (variando de 5 a 12 metros de comprimento), conhecida como “vara de cortar olho”, com uma foice presa na extremidade. O talo seco da palha serve para amolar a foice, com ajuda de terra e pedra de amolar. O trabalho de corte é árduo e oferece sérios riscos: as hastes pontiagudas das folhas podem cair sobre o operador com alta velocidade, podendo, inclusive, mudar de direção pela ação do vento; ao realizar a operação de corte, o foiceiro puxa a foice em sua direção, o que aumenta a probabilidade da folha cair sobre ele e provocar acidentes, inclusive cegueira. Apesar destas desvantagens, o foiceiro consegue obter elevada produtividade com essa ferramenta (laça 3 a 5 folhas de cada vez e corta de 1.500 a 2.000 folhas por dia).
Em geral, são cortadas de 35 a 40 folhas por palmeira, as quais, após derrubadas, sofrem o corte do talo e são aparadas em feixes com 20, 25 ou 50 folhas, dependendo da região e tipo de transporte utilizado. Os feixes, presos de 2 em 2, formam os “cambos”, os quais servem de base para o pagamento aos trabalhadores, se for o caso de serem remunerados por produtividade.
Durante a coleta, as folhas da carnaubeira são separadas em “olho”, que são as folhas mais novas, ainda fechadas, e “palha”, que são as folhas mais velhas, completamente abertas. Elas produzem o “pó de olho” e o “pó de palha”, sendo o primeiro mais valorizado por conter menos impurezas e produzir uma cera de melhor qualidade.
Do local do corte, as folhas são levadas ao lastro. O lastro é o local, ainda no campo e exposto ao sol, onde é feita a separação da palha “olho” das demais e a secagem das mesmas. O transporte das palhas até o lastro pode ser feito por jumento, carroça (puxada a boi ou burro) ou caminhão, dependendo da região. A coleta dura, em média, 120 dias, no período do verão (em que não há ocorrência de chuvas). A operação de secagem é demorada (dura entre seis e doze dias) e feita no chão, expondo o produto à chuva, desperdiçando grande quantidade de pó, principalmente no manuseio das folhas secas.
Infelizmente as reservas de carnaúba existentes em Ceará-Mirim foram derrubadas para o cultivo da cana de açúcar. Atualmente são poucas as ilhas de matas de carnaúba preservadas, podemos encontrá-las em Carnaubal e em alguns pontos no vale, principalmente entre o Engenho Igarapé e engenho laranjeira. Assim mesmo, os artesãos que utilizavam a fibra da carnaúba abandonaram o ofício em função da proibição e escassez da matéria prima.
É difícil entender o porquê das proibições, uma vez que a palha da carnaúba é renovável, e, em pouco tempo, brota e cresce para mais uma coleta. Essa atividade poderia tirar várias famílias de situação de miséria, e, também, daria atividade para jovens e adolescentes em situação de risco, evitando o êxodo para a área urbana.
Em Ceará-Mirim a Carnaúba já foi grande fonte de renda para os artesãos que viviam da fabricação artesanal dos produtos oriundos da folha de carnaúba. Aqui eram produzidos chapéus, esteiras, bolsas, tipiti, usada em casa de farinha e vassouras. Esta última ainda é produzida pela família do Sr, Manoel, conhecido por Maninho, no distrito de Ponta do Mato.



Processo de fabricação: palha aberta - primeira amarra, segunda amarra, confecção da vassoura e acabamento final

Saindo de Ceará-Mirim com destino ao distrito de Ponta do Mato cerca de 8 quilômetros, encontramos a residência do Sr. Maninho. Lá, sob um enorme cajueiro, estão espalhadas as folhas de carnaúbas já secas e prontas para serem manuseadas.

A produção de artesanato é familiar e já é uma tradição de muitos anos na comunidade e na própria família. Todos os membros da família desenvolvem uma atividade, seja na limpa das fibras até o acabamento das vassouras.

Maninho fazendo a limpeza e abrindo a palha da carnaúba.

A tarefa é dividida por etapas, primeiro Maninho abre as palhas e, com a faca, vai soltando as fibras uma das outras. Em seguida sua esposa, junta as fibras e faz uma amarração nos talos das folhas. A terceira etapa é realizada pelo filho do artesão, que evolve a parte superior das folhas com embiras de agave e em seguida faz o acabamento aparando as pontas da palha e envolve um cordão onde será posteriormente introduzido o cabo.
A produção é comercializada através de encomendas para as cidades circunvizinhas e, também, para a feira livre realizada em Ceará-Mirim aos sábados. A média de preço varia de R$ 1,50 (um real e cinqüenta centavos), depende do produto fabricado, que pode ser espanador, vassoura ou vassourão.

Maninho passa o dia trabalhando na confecção de vassouras e, à noite, vai a Ceará-Mirim para frequentar a Escola Estadual Otto de Brito Guerra onde cursa o terceiro ano do Ensino Médio. Tenho o maior orgulho de ser seu professor de Artes e foi através de um ensaio fotográfico, sobre nosso patrimônio histórico e cultural, que descobri um "patrimônio" na propria sala de aula.

Apesar de toda a luta pela sobrevivência com o trabalho artesanal, Maninho tem um objetivo de vida: cursar o IFRN - Instituto Federal de João Câmara em 2010. Faço votos que lute e persista porque assim você conseguirá seus ideais. Vá em frente!!! Você é um exemplo a ser seguido!!

domingo, 25 de outubro de 2009

HOMENAGEM AO MESTRE TIÃO OLEIRO E MESTRE JOSÉ BARACHO

HOMENAGEM AOS MESTRES TIÃO OLEIRO E JOSÉ BARACHO

Hoje, 25 de outubro de 2009, no distrito de Massangana, foi realizada ação de cidadania pela Câmara Municipal de Ceará-Mirim, cujo proponente foi o vereador Julio César.
A Câmara Municipal com essas ações vem cumprindo seu papel como instituição do povo. É importante promovê-las uma vez que são beneficiados vários cidadãos através de carteira de identidade, carteira de trabalho, certidão de nascimento, higiene bucal, atendimento médico, atendimento jurídico, palestras,lazer para as crianças presentes e etc.
Fiquei muito feliz porque o vereador Julio César sensibilizou-se e homenageou o Mestre Sebastião João da Rocha – o Tião Oleiro e José Severino da Silva – o José Baracho, durante o evento em Massangana.

Gibson Machado fazendo a apresentação dos mestres

Na oportunidade fui convidado para apresentar os homenageados à população e falar um pouco sobre suas trajetórias de vida. Segue abaixo o que pude dizer a respeito dos senis amigos... a emoção tomou conta de mim porque é difícil proporcionar momentos como este e, entre a voz e as mãos trêmulas, fui discorrendo sobre cada um deles e de sua importância para o desenvolvimento sócio-cultural de nossa Ceará-Mirim:
"Quero agradecer ao presidente da Câmara o vereador Roberto Lima e ao vereador Julio César, proponente desta homenagem, pela oportunidade de apresentar duas personalidades tão importantes na formação cultural de nosso município.
É com muita alegria que venho nesse momento apresentar duas personalidades muito importantes para a história e a cultura de nosso município, e por que não dizer, do nosso país.

Vereador Julio César durante a entrega da placa ao mestre Tião Oleiro


É um fato a questão da desvalorização dos atores culturais no Brasil. Há uma grande batalha pela preservação e fortalecimento de nossas tradições, através da tenacidade e da luta heróica de seus representantes populares.
Hoje a Câmara Municipal de Ceará-Mirim, através do vereador Julio César, vem reconhecer a importância do Mestre Sebastião João da Rocha – o Tião Oleiro e de José Severino da Silva – José Baracho – na divulgação e preservação das tradições seculares através da transmissão de valores e costumes referentes às culturas ameríndias, africanas e européias, às novas gerações.


Prefeito Antonio Peixoto fazenda a entrega da placa ao mestre José Baracho

O mestre Tião, nasceu em 14 de maio de 1914, foi menino de engenho logo cedo, cuidando da porteira da bagaceira, e, ao longo da vida labutou desde carreiro de boi, inclusive, trabalhando em Marcualhada, fazenda de propriedade do bisavô do vereador Julio César, Manoel Juvêncio. O mestre passou por todas as etapas de engenho e, entre o lazer, identificou-se com a cultura popular.
Em 1935 reestruturou a congada no engenho Guanabara, herança de seu pai o mestre João José da Rocha. Desde então tem procurado divulgar a tradição em todo o território nacional. Seu brinquedo, hoje, é conhecido no Brasil e em vários países, através do programa Toda Beleza exibido pelo Canal Futura e Fundação Roberto Marinho.
O Mestre Tião recentemente foi selecionado, pela Fundação José Augusto, como Registro do Patrimônio Vivo do RN, projeto do deputado Mineiro, que selecionou sete mestres e três grupos folclóricos do RN. Ceará-Mirim foi contemplado com a seleção do Grupo Cabocolinhos e com o mestre Tião.
O Bardo Menestrel José Baracho nasceu José Severino da Silva em 04 de julho de 1929 e, desde os 12 anos assumiu a responsabilidade da casa quando seu pai Faleceu. Ainda criança tomou para si a responsabilidade sobre seus irmãos e sua mãe e desde então nunca parou de trabalhar.
Sempre teve sua vida voltada para a agricultura, no entanto, ouvindo os cantadores de viola, que floreavam o vale com suas canções e romances medievais, resolveu que seria poeta e divulgador das histórias e romances do seu povo. Além de poeta José Baracho participou de muitas tertúlias onde a atração principal era o côco de roda, tem orgulho de ser poeta, de recitar poesias medievais em décima, sétima, oitava e decassílaba, não importa a rítmica do poema, o que interessa é interagir com a platéia improvisando e recitando uma longa toada onde o mais importante são os temas, os motes...os galopes à beira mar: "mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor"... assim é o mestre.
Aos dez anos tomou gosto pela congada, brinquedo popular que faz referência a batalhas medievais travadas entre moiros e cristãos, mulçumanos e europeus e, também, a rainha Ginga, soberana africana que muito contribuiu para a história de nossa formação etnológica.
A Câmara Municipal de Ceará-Mirim, através do vereador Julio César, faz, hoje, o reconhecimento da contribuição que esses dois heróis têm dado para a formação da história sócio-cultural de Ceará-Mirim, que, apesar, de anônimos desconhecidos, construíram, ao longo de suas vidas, um verdadeiro patrimônio histórico, uma biblioteca de saberes populares que somente aqueles que têm sensibilidade, poderão digeri-los intelectualmente.
É preciso que valorizemos nossos pares, nossa terra, o berço onde nascemos, como diz o grande Picasso, para pintar o mundo, é preciso começar pintando nossa aldeia. E esse amor à terra está explícito na frase do mestre José Baracho: Em Tabuão eu nasci... em Tabuão eu cresci... e em Tabuão hei de morrer!!!"
Na oportunidade o vereador Julio César falou da honra que sentia em poder homenagear pessoas tão importantes e que apesar da humildade davam exemplo de dignidade e coragem em lutar pela preservação e divulgação de nossas tradições.
O prefeito Peixoto externou sua preocupação como administrador do município a respeito dos valores culturais e falou que a trajetória dos mestres servissem de exemplo e fossem seguidos pelos jovens para que as tradições fossem preservadas.
Dra. Leonor iniciou sua fala dizendo que ficou emocionada, pois sabia que este colunista, estava muito emocionado porque, certamente, aquele era um momento ímpar e acreditava na minha insistência com relação a divulgação de nossa história e que as memórias dos mestres fossem registradas e no futuro servissem de estudo e instrumento para o desenvolvimento intelectual das futuras gerações e parabenizou seu filho Julio Cesar por todas as iniciativas em prol do povo de Ceará-Mirim.

Discurso da ex-vereadora Leonor em homenagem aos mestres e ao seu filho o vereador julio Cesar

Acredito que as preocupações do prefeito Peixoto e do vereador Julio César com o fortalecimento e preservação de nossas tradições venham proporcionar estudos e ações voltadas para a cultura e arte de nosso município.
As ações e políticas de governo relacionadas a cultura devem ser implementadas com urgência, porque nosso patrimônio material e imaterial está sendo corcomido pela ação do tempo, pelas novas tecnologias, e, principalmente, pela falta de sensibilidade e desconhecimento da história e cultura de uma terra que já foi berço de grandes intelectuais e contribuiu para o desenvolvimento sócio-cultural do Estado do rio Grande do Norte .
As chaminés, esfíngies do vale, não podem deixar que o enigma da cana desapareça, na fulingem do tempo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BRASÃO DA FAMÍLIA SOBRAL

Sobral Família proveniente de Joaquim Inácio da Cruz Sobral, fidalgo da casa real do Conselho de D. José I, do Conselho da Fazenda, Tesoureiro do Real Erário e Morgado do Sobral de Monte Agraço a quem o mesmo príncipe, pelos serviços recebidos, concedeu carta de armas de mercê nova a 07 de dezembro de 1776. este Joaquim Inácio era irmão de José Francisco da Cruz Alagoa, morgado de Alagoas a que o Rei também concedeu carta de brasão de armas de mercê nova, relativas ao último apelido.
As armas de Joaquim Inácio da Cruz Sobral são cortados: o primeiro de azul, com cinco estrelas de ouro de seis raios postos em cruz; o segundo de prata ondado de azul: bordadura de vermelho, carregada da legenda Nomen Honorque Méis em letras de ouro, Timbre: um galgo de prata coleirado de vermelho, com uma chave de ouro na boca.


O GALGO


O galgo caracteriza-se essencialmente pelas formas esguias: pernas curtas e finas, corpo comprido, mas o tórax bastante largo, calda longa, delgada, ligeiramente curva, cabeça estreita, com focinho pontiagudo.
Essa beleza de formas faz com que o galgo fosse considerado essencialmente aristocrático, sendo comum nos quadros antigos aparecerem fidalgos em companhia de tais animais.
A pelagem é geralmente curta, lusídia e de coloração uniforme, ma existem também variedades de pelos compridos.
A sua constituição anatômica torna-o particularmente adaptado a corrida, sendo por isso muito apreciado para a caça de animais corredores, especialmente a lebre.

O TREM DE CEARÁ-MIRIM

JORNAL DE DOMINGO – Natal, Domingo, 18 de novembro de 1984
O TREM DE CEARÁ-MIRIM
Nilo Pereira

Foto do trem na Estação de Ceará-Mirim - 1939 - autor: Julio Senna


O trem e o automóvel são duas fixações de infância. Ambos representam duas etapas do progresso que chegava. Menino de engenho, vi o carro-de-boi aposentar-se, ou arrastar-se, langoroso, por velhas estradas. Nada mais triste do que aqueles bois imponentes, murchos, cabisbaixos, que só servem para puxar o carro. Lá vão eles, solitários, como quem perdeu tudo.
A precedência histórica do trem sobre o automóvel é apenas um fato consumado; não altera no sentimento de menino a constância lírica com que os novos tempos chegam e passam ao coração humano como páginas de um romance proustiano.
O cavalo de sela nunca foi para mim uma atração. Sei bem que fazia parte da paisagem dos engenhos. O senhor-de-engenho, diz Gilberto Freyre em NORDESTE,, é um centauro: metade homem, metade cavalo. Uma outra vez fui com meu pai da “rua” (a cidade) para o Guaporé. O que verdadeiramente me encantava era a viagem de trem e, depois, a de automóvel.
Quando ouço em velhos filmes o apito de uma locomotiva, sinto que desperta o menino que anda comigo. Que nunca me deixou. Bastava ouvir o silvo para correr à janela e esperar a máquina que resfolegava e lentamente se aproximava da estação.

Locomotiva Katita - primeira a fazer o transporte entre Natal - Ceará-Mirim - Museu do Trem em Recife/PE

O aspecto é de uma baronesa. Entra imperialmente na cidade. Ou vem dos lados dos tabuleiros como uma serpente em fogo, ou dos lados da casa do general João Varella. De qualquer maneira, uma soberana. Uma salamandra que não de queima nas casas.
A noite o seu farol dá a cidade adormecida fulgurações estranhas. Há figuras espectrais que se movem como que tangidas pela feeria daquele olho luminoso.
O trem chegava de Lages, ponto terminal. Tinha razão de vir cansado, exaurido. Um jogo de lanternas dizia se ele podia aproximar-se ou não. Um outro sinal mostrava que devia entrar num desvio. Tudo isso o menino da janela ia percebendo. Mas não sabia que estava incorporando a cena à sua futura lembrança. À curtição dos tempos.
O Ceará-Mirim é uma cidade urbana. Urbana e rural. Participa de duas naturezas. Do vale recebe a inspiração poética, a luz intermitente dos seus pirilampos, uma brisa suave, intemporal, que refresca as almas. A cidade basta-se a si mesma. Mas, sendo menos viçosa do que o vale dá a impressão de ser cidade morta. Pelo menos era assim na infância. Tal como a recordou Edgar Barbosa em páginas de Antologia, como se falasse de uma Itaoca ou de Oblívion, lembrando Monteiro Lobato.
Essa cidade morta de repente criou vida. Mas, permanece intocável na saudade dos verdes anos.
Sua vida começa a agitar-se com a chegada dos primeiros automóveis, tinha de ser fatalmente um Ford de bigodes, com faróis de acetileno. Pertencente a Pedro Fernandes, comerciante.
O Ford obrigou o preto Antônio Rufino a parar a sua carroça, transportadora de açúcar. Lembro-me perfeitamente desse bom homem. Era simples e obediente como um animal doméstico. Cuido ouvi-lo tangendo os seus bois, que acudiam, solícitos, pelos nomes: Maravilha, Generoso, Boi de Cambão, Espeto.
Era o caminhão de Julio e Severino Ramalho que dava entrava triunfal, inaugurando a civilização industrial, a tecnologia, que ainda não tinha esse nome. Quando se escrever a história do Ceará-Mirim, esses dois irmãos serão lembrados pelo sei pioneirismo. Foram eles que inauguraram a luz elétrica, no Ceará-Mirim. O motor ficava à rua da Aurora. Era barulhento.Lá em baixo na rua Grande, não se podia dormir com o ronco sincopado da nova maravilha. A máquina vencia a tranquilidade, o imobilismo da cidade antiga.
Depois, veio o caminhão “Saurer”, alemão, de Joel Villar, para quem olhávamos com um grande respeito: tinha um braço cortado, que perdeu em Canudos. Era nosso herói. O nosso Bayard, sem medo e sem mácula. Quando, mais tarde, li OS SERTÕES de Euclydes da Cunha, em vão procurei o nome de Joel. Era um soldado como outro qualquer, mas a quem não faltou, decerto, o heroísmo de tantos outros. Faltava-lhe a legenda.
Mas eu falava do trem do Ceará-Mirim. As locomotivas eram alemãs ou norte-americanas. As primeiras tinham mais majestade. Eu as associaria, mais tarde, ao poderio pan-germânico. Ao Kaiser, ao Kromprinz e mesmo Nietsche. (E o grande mal do homem, a imaginação. Só não somos felizes porque somos dotados de imaginação e com ela botamos tudo a perder).
Minha primeira viagem de trem foi com o meu cunhado Francisco Fernandes Sobral, promotor público do Ceará-Mirim. Ele, todo entregue a leitura do romance de Dannuzzio – IL FUOCO – uma coqueluche das épocas. Eu, embevecido pela paisagem. O verde do vale era uma fantasia para os olhos virgens de um adolescente. As árvores correndo, desabuladas. A parada de Extremoz.A lagoa. Um mundo que nascia. E o menino crescendo com essa visão mágica.
O momento supremo era a passagem pela ponte de Igapó. Sem nenhum anúncio a locomotiva entrava., airosa, destemida, naquele corredor metálico sobre o Potengy. Os vagões se agitavam como impulsionados por um movimento Infreme. O trem mostrava sua força, o seu vigor dominando aquele desafio.
Hoje, quando vejo a velha ponte partida ao meio, abandonada, simples ferro velho, curtindo o seu ostracismo, a sensação que tenho é que mutilaram a minha infância.
Se ela ficou imprestável, merecia outro tratamento. Morreu devagar, ela se dava pressa aos trens. Que sustentava os pesos daquelas composições fantásticas capazes de varar mundos. Na ponte, desarvorada, ficou o apito nostálgico da locomotiva como uma dobre de finados.
Não posso ser indiferente a esse espetáculo. Tudo se restaura, hoje em dia. Mas a ponte de Igapó definha. O tempo se encarrega de fazer dela um repasto de ingratidão.
Por solicitação de Edgar Barbosa (quantas vezes passamos pela mesma ponte e tivemos os mesmos sustos!) escrevi uma pequena nota sobre a nossa Ponte S. Luiz. Já não sei por onde anda essa antiga página. Sei que ela conserva uma nostalgia incurável. Gerações e mais gerações passaram por ela. Duvido que ela, já velhinha, tenha perdido a memória. Não, ela se lembra de tudo, a ponte da infância, que ainda me liga à utopia, a nossa maior realidade.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

QUEM FOI ZUMBA DO TIMBÓ

QUEM FOI ZUMBA DO TIMBÓ
Nota Biográfica nº 05 – Villar e Cia – apontamentos de história familiar - 1998
Alcides Francisco Villar de Queiroz


Câmara Cascudo, em “Acta Diurna” publicada em 1947 e reproduzida no Diário de Natal de 07/04/1998, assim se refere ao personagem da presente Nota: “Muitos lhe ignoravam o nome. Conheciam-no pelo título, como a um pregão nobiliárquico identifica-se o fidalgo. Quando diziam O Major! Todos sabiam que se tratava de Zumba do Timbó, outra razão feudal que liga o homem á posse da terra”. Mas quem foi Zumba do Timbó?

José Ribeiro Dantas Sobrinho (n. 17/05/1839 e f. 22/07/1889) – cujos pais foram Antonio Basílio Ribeiro Dantas,, o Velho, e Inácia da Silva Bastos – mais conhecido como Zumba do Timbó, foi uma pessoa que por diversos caminhos se “infiltrou” na família Villar e nela deixou descendentes que o tempo se incumbiu de multiplicar (...).

José Ribeiro Dantas Sobrinho foi casado em primeiras núpcias com Antonia Balbina Viana, gerando o casal sis filhos, dentre eles João Ribeiro Dantas, pai de Heráclio Villar Ribeiro Dantas e de Orlando Ribeiro Dantas. O segundo casamento do nosso biografado foi com Urcicina Raposo de Mello (nome de solteira0, filha do Dr. Manoel Hemetério raposo de Mello e resultou em três filhos, dos quais, José Ribeiro Dantas, esposo de Helena de Araújo Villar.

Zumba do Timbó, um dos grandes senhores de engenho da cidade de Ceará-Mirim, foi dono das seguintes propriedades: engenho Sapé (parte em Papari), Trigueiro, Timbó de Dentro (rebatizado com São Pedro), Porão, Veados, Barra de Levada, Oitizeiros, Joazeiro e Cafuca (estes dois em Santana de Matos) e Timbó de Fora. Foi, além disso, dono de muitos escravos que alforriou espontaneamente antes de decretada a Abolição.
Extremamente trabalhador, costumava ele acompanhar seus homens na faina diária dentro do engenho se antecipou a todos os demais senhores na introdução de meios mais modernos na produção do açúcar. Estabeleceu também mutirões para regularizar o fluxo das águas dentro dos canaviais. Rico, era também apurado no trajar e possuía liteiras, caleças e outros veículos para se locomover de maneira confortável e elegante.

Conhecido como O Major, era ele Coronel da Guarda nacional, guarnição do Ceará-Mirim e uma das figuras mais expressivas daquela comunidade (Zumba foi nomeado junto com Victor de Castro Barroca para formarem a comissão de socorro aos flagelados da seca de 1877).

Finalizemos o presente texto repetindo Cascudo na Acta Diurna mencionada: “Zumba do Timbó! Nome de Guerra! Quando eu passava pelas ruínas do seu engenho nunca deixei de parar e saudar a sombra do grande batalhador do vale, ensinando o segredo das obras miraculosas pelo processo de cooperação....” e nós, igualmente, saudamos a memória desse homem incansável no seu labor, idealista na antecipação do progresso e correto nas suas atitudes.

Obs: No ensaios sobre “Elementos para o estudo da escravidão no Ceará” de Guarino Alves:

Na página 93, Guarino diz que: No Ceará-Mirim (Rio Grande do Norte) aimda se recorda o Zumba do Timbó, apellido do Capitão José Ribeiro Dantas, proprietário de engenhos-de-açúcar. Se qualquer escravo de outrem desviava-se do dever, vinha logo a ameaça terrível de ser vendido ao Zumba do Timbó. Quando estive lá, colhendo subsídios históricos, ouvi dizer que o Zumba costumava pregar a orelha do escravo numa porta, depois senatava-se na cadeira e chamava-o: “venha cá, negro!” O pobre diabo receiando castigo pior atendia-o num repuxão de cabeça, rasgando a orelha. Ninguém sabe até que ponto a verdade se confunde com a lenda, mas me disseram que a mulher* de Zumba, não ficava atrás nesse mister: às negras desobedientes, mandava passar pimenta no anus.”

* A mulher de Zumba que o autor Guarino faz referência e, há muitos causos a ela relacionados, foi Antonia Balbina Viana filha do português do engenho Carnaubal Antonio Bento Viana e primeira esposa de Zumba.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

REMINISCÊNCIAS

REMINISCÊNCIAS
Texto do livro “ Oiteiro – memórias de uma sinhá moça” de Madalena Antunes Pereira
Da esquerda para a direita: Maria Antonieta (2º filha), Olympio Varela Pereira (genitor), Ruy Antunes Pereira (1º filho), Joana D'Arc Pereira (filha caçula), Maria Magdalna Antunes (Mãe), Abel Antunes (2º filho) e Vicente Ignácio (4º filho).
No outono da vida, recordar a infância é abrir pontos de luz na estrada abandonada do passado. Guardo com devoção a lembrança do meu primeiro dia de escola.
Maio! Ainda hoje o contemplo, no milagre da imaginação, no pólen de suas flores, na renovação de suas messes, sentindo em tudo a poeira das desilusões, polvilhando a trilha do passado.
Estávamos no Oiteiro. A folhinha pregada à parede da vasta sala de jantar marcava 25 de maio de 1887, dia do meu aniversário.
Eu fazia 7 anos de idade. Logo pela manhã as camponesas mimosearam-me com filhos que eu pus no altar de Nossa Senhora, improvisado no alpendre de nossa velha casa de campo, de biqueira e janelões envidraçados. Mãos piedosas adornavam de leques de palmeira e ramos verdes de estefanotes brancos, as paredes da capelinha rústica, em honra do santo mês mariano. As crianças, à hora do terço, levavam arcos de boninas enfiadas em palitos de coqueiro.
As camponesas sorriam para Nossa Senhora, e ela sorria para as camponesas.
“Feliz é o simples que sabe ser como o ar, a árvore, o rio: simples, mas simples sem saber...”
O encanto dos jardins do Oiteiro resumia-se em sua profusão de flores, porque os canteiros não tinham estética.
Eram orlados de fundos de garrafas e pedrinhas do sertão. As roseiras transbordavam de latas de querosene e os jasmineiros cresciam pujantes, beirando os velhos muros, gretados, da Casa Grande.
Pelos vidros partidos das varandas, penetravam os “mimos do céu”, delicada trepadeira de pétalas miudinhas, que alforjavam o solo, como róseas borboletas de asas despedaçadas, rolando pelo chão.
Os resedás — miosótis brancos — embalsamavam o ar, paralelos aos bogarís de folhas largas, delicadamente enrolados, quais brancos caracóis. As angélicas afloravam de varetas verdes, que se inclinavam salpicadas de estrelinhas brancas, como o cajado de São José.
Recordas-me o Oiteiro e ele a minha infância, fonte perene na qual cada um procura, vez por outra, nos momentos de desânimo, aquela paz benfazeja que a criança desperdiça, o homem ambiciona e os velhos recordam...
Atraía-me o culto às flores. Adorando-se, sentia-me feliz. Ungia-me de vibrações estranhas, extasiando-me diante do belo. Era a promessa da puberdade intelectual e humana.
Apertava as rosas ao peito, sem lhes sentir os espinhos. Mas, maltratava os cravos, lânguidos e sedosos. Talvez por não me picarem...
Trincava-se, destruindo as compridas hastes. E os pobres cravos rolavam pelo chão, alvos e crespos, como cálices sem pé, derramando odores.
No pátio de areia fofa, ao lado esquerdo de nossa velha casa de campo, crescia, um oitizeiro, que dava sombra às crianças e abrigava os xexéus de peito amarelo e “encontros” vermelhos.
Nas belas manhãs de sol, reuniam-se aos outros pássaros numa orquestração de notas maravilhosas. As grossas raízes saídas do tronco do Oitizeiro rasgavam a terra contornando as areias; cinzentas e lustrosas, pareciam velhos polvos lodosos sobre algas marinhas, espreguiçando-se ao sol.
Pelas noites enluaradas, os ramos da frondosa árvore refletiam sombras fantásticas nos muros da Casa Grande, envolvendo-a em misteriosa penumbra. Aquelas retorcidas vergônteas seculares lembravam envelhecidas formas humanas. Uma delas, qual braço estendido para frente, formava à extremidade uma garra que as escravas apontavam às crianças, asseverando ser a mão de um frade à espreita dos gurís mal criados, para estrangulá-los sem piedade.
Foi sob a sombra daquela frondosa árvore que recebi, na manhã de meus 7 anos, as felicitações e lembranças de minha família. Agradaram-me todos os mimos, menos o de meu pai, que foi uma carta de “a-b-c”.
Comparando-os aos dos anos anteriores, exclamei, indignada: Que presente horrível! E, no auge da indignação, piquei a carta de “a-b-c” em mil pedacinhos, soltando-os ao ar. Erguendo para o alto os olhos marejados de lágrimas, vi então agarrados à mão do “frade”, estilhaços de papel, que certamente o vento conduzira até alí. Estremeci de medo pensando que fora o monge que os apanhara. Horrorizada, esperei pelo castigo.
Vitoriava a superstição.
Ó velho oitizeiro! Figura do passado! Templo de minhas primeiras impressões! Tu que em criança me assombravas e hoje me inspiras respeito e saudade! Quantas coisas recordas, ó árvore do pomar de minha felicidade!
Tudo que abrigaste naquele tempo em tua dadivosa cúpula, já morreu, como já se extinguiram em mim o temor das superstições, a angústia dos mistérios e o prêmio da reprodução. Ambos estamos fanados: “Tu com o envelhecimento da nervura, eu, com o envelhecimento dos tecidos.”
A uma certa distância, meu pai observava tudo... E aproximando-se de mim:
— Que bela estréia, minha filha, para quem entra hoje, segundo a Igreja, no uso da razão!
E, afivelando-me no braço uma pulseirinha de coral, acrescentou:
— Não era somente a carta de “a-b-c”.
Perdoe-me, balbuciei envergonhada.
Ele chamou-me a si, beijando-me sem mágoa, na sublimidade do amor paternal. Repreendeu-me com brandura. Sabia que tudo quanto se diz às crianças deve ser revestido de simplicidade e leveza, para que não se rompa o fino véu que ainda as envolve, afastando-as da cruel realidade.
Que jamais se rasgue esse véu senão em mãos estranhas, talvez sem o risco de remorsos...
Meu pai! Como eu o adorava! E ao Deus que m’o deu como poderei pagar a oferta? Deveria haver uma consciência infinita para o infinito da bondade divina.
Jurei a mim mesma que daquele dia em diante procuraria corrigir o meu principal defeito: o estouvamento. E pela primeira vez chorei amargamente, sentindo no íntimo algo de estranho que me dilacerava.
Era a alma tocada pelo remorso da ação má que acabara de praticar, destruindo a carta de “a-b-c”. Era o meu Eu, desperto, para carregar aos ombros o “uso da razão”.
Assim terminou o primeiro dia de escola, à sombra acariciadora do Oitizeiro. Relembrando-me, lembro a sublime oração de Ruy Barbosa:
“Bendita seja, Senhor, a mão que tantas graças em mim tem derramado. Vós me destes progenitores imaculados que buscaram ensinar-me e não errar os vossos caminhos”.

MATRIZ NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO


IGREJA MATRIZ DE CEARÁ-MIRIM

A pedra fundamental da Igreja Matriz de Ceará-Mirim, foi lançada a 21 de fevereiro de 1858 pelo Frei Serafim de Cattânia – Porém suas obras somente foram concluídas no ano de 1900.
O templo foi construído mediante projeto do Frei Sarafim e as torres pelo projeto do engenheiro Mr. David Williams, com recursos do governo da província do Rio Grande do Norte e contribuições da população local; a direção das obras ficou a cargo de José Joaquim de Castro Barroca, do Engenho Verde-Nasce.
A Matriz foi construída em terreno doado pelo Coronel Manoel Varela do Nascimento (futuro Barão de Ceará-Mirim) e pelo Sr. Antônio Bento Viana do Engenho Carnaúbal no ano de 1851.
Por suas dimensões, é a Matriz de Ceará-Mirim, uma das maiores igrejas do Rio Grande do Norte. Mede 260 palmos o que equivale a 57 m 20 cm de comprimento e 107 palmos de largura que equivale a 23 m 55 cm.
Foi construída com duas torres góticas de base quadrangular e terminal em agulha, medindo aproximadamente 36 metros e que foram concluídas em 1894.
Em 1889, foram trazidos os sinos em carro-de-boi por dois jovens da época vestidos a caráter – Fausto Varella e Heráclio Ribeiro de Paiva. Um dos sinos pesa 40 arrobas, cerca de 600 Kg, e foi doado pelo tenente-coronel Francisco José Soares do Engenho Cruzeiro. O outro possui 20 arrobas que equivale a 360 Kg, sendo este último feito pelas doações do povo. Os sinos só foram colocados em 01 de janeiro de 1901, na virada do século, tida como inaugural, estando registrada no marco encravado entre o 1º e 2º arco da nave principal. Outras ofertas importantes foram feitas por Josefa Cavalcanti Rocha – o Batistério – e por D. Vitória Duarte Ribeiro – a Pia Batismal toda em mármore. O Sacrário em bronze chegou a Matriz em 1951 por doação do Dr. Milton Varella.
Segundo Nilo Pereira em seu livro intitulado Imagens do Ceará-Mirim, Madalena Antunes, Jornalista e Poeta, declara em “O meu diário paulista – manuscrito”; que o altar-mor de nossa matriz foi inspirado no altar-mor da igreja Nossa Srª. do Carmo, de São Paulo, do início do século XIX. Diz ela: “O altar-mor era um verdadeiro milagre de pintura. Construído em degrauzinhos, deixava ver ao fundo belíssima cortina de veludo bordeau, presa aos lados por cordões em bolas de ouro com coruahevs góticos e colunatos douradas, desenho de um artista estrangeiro que igualmente decorou todo o forro da igreja com significativos emblemas”.
No início da década de 1930, o Então cônego Celso Cicco realiza uma reforma na matriz com a ajuda da população, inclusive a instalação da luz elétrica com as sua nove mil e trezentas velas distribuídas com precisão, custaram trinta e sete contos, seiscentos e quarenta e nove mil e quinhentos réis. As reformas realizadas foram, abertura de 10 arcadas, sendo quatro na capela-mor, 16 óculos envidraçados nas fachadas laterais, forros nos corredores dos segundos pavimentos e naves laterais da capela-mor, construção de uma gruta para N. S. de Lourdes com seu respectivo altar e mais 6 altares para as seguintes invocações: N.S. da Conceição (altar-mor), N.S. das Dores, Coração de Jesus, Santa Terezinha, São Sebastião e N.S. do Perpétuo Socorro; uma placa de cimento armado no batistério, com seu altar; um comungatório de mármore branco obedecendo à linha curva, levantamento das portas e substituição de janelas por venezianas; instalação de luz em série nos altares das naves principais, reparos nas escadas das torres e pintura a óleo dos altares.
Nesse período a matriz recebeu do Sr. Milton Varela, um sacrário de mármore; de D. Eugênia Miranda, uma imagem de N.S. do Perpétuo Socorro e respectivo altar; do Sr. Antonio Basílio Dantas Ribeiro, uma imagem de Sto. Antonio; de D. Etelvina Lopes Varela, uma gruta de N.S. de Lourdes e respectiva imagem; do Sr. Boaventura Dias de Sá, o mosaico para a capela-mor; do Sr. Nestor dos Santos Lima, uma via-sacra; do Sr. Manoel Marques, uma imagem de São Sebastião; de D. Mariinha Barreto, uma imagem de N.S. das Vitórias e dos Srs. Abel Correia e Luiz Varella, um baldaquim gótico.
Foi também reformada interna e externamente a residência paroquial, tendo sido gasto a quantia de três contos duzentos e cinqüenta e seis mil réis.
A República de 13 de setembro de 1936 informa que: “Esteve imponente a procissão realizada às 19 horas de domingo, 30 de agosto, de N.S. da Conceição, ultimamente “encarnada” pela exma. Senhorita Yayá Villarina. Mais de duas mil pessoas calculadamente, foram receber a imagem de sua querida padroeira no edifico do Grupo Escolar. Na matriz, o vigário, em nome do povo, saudou do púlpito, a excelsa protetora dos cearamirinenses, encerrando-se a cerimônia com a benção do Santíssimo Sacramento.
Funcionam mensalmente as confrarias do Apostolado da Oração, presidente a D. Senhorinha Wanderley; de Nossa Senhora das Dores, presidente D. Dolores Cavalcanti; da Pia União das Filhas de Maria, presidente, D. Adelaide Lima; Associação das Damas de Caridade, presidente, D. Annita Melo; Congregação da Doutrina Cristã, presidente, D. Senhorinha Wanderley; Associação das Almas do purgatório, presidente, D. Francisca Lago; Associação de São José, presidente, D. Senhorinha Wanderley; tendo já sido anunciado aos fiéis que brevemente será fundada a irmandade do Santíssimo. A Doutrina Cristã já matriculou 237 alunos e no próximo mês vai realizar a segunda turma de Primeiras Comunhão solene. O mapa religioso do ano passado acusa o seguinte resultado: casamentos: 195, casamento de consciência: 18; batismos: 871; comunhões distribuídas: 23.268; Primeiras Comunhões: 165; confissões de enfermos: 59; viáticos: 41 e extrema-unções: 72.
Festa cívico-religiosa promovida pela diretoria e professoras do Grupo escolar desta cidade, consoante determinação do revmo. Cônego-diretor geral do Departamento de Educação, realizou-se com desusado brilhantismo a festa de 7 de setembro, comemorativa ao “Dia da Pátria”. Coincidindo com o encerramento do 2º Congresso Eucarístico Nacional em Belo Horizonte, foi celebrada missa campal em frente ao Grupo Escolar, precedida de recitativos pelas alunas e alocução pela diretora e professoras sobre o magno acontecimento. Concluído o último evangelho, o vigário proferiu um discurso sobre o dever do Brasil na hora presente, tendo em seguida os alunos cantado o Hino da Bandeira ao tempo em que esta hasteada sob as palmas da multidão. Formou-se então extensa ala de alunos para a procissão eucarística, que também foi acompanhada por enorme massa humana. Na Matriz, depois da oração do Congresso, foi dada a benção do Santíssimo, entoando os alunos do Grupo Escolar, o Hino Nacional.