terça-feira, 10 de novembro de 2009

Discurso de abertura da Exposição Itinerante Ceará-Mirim memória iconográfica
Câmara Municipal de Ceará-Mirim de 10/11 a 13/11/2009


Neste último dia 05 o Congresso Nacional comemorou o Dia Nacional da Cultura, dia esse que é o mesmo do nascimento do grande Ruy Barbosa.
Sabemos que o Brasil é um dos países mais ricos em diversidade cultural. Nós recebemos influências de todos os povos que para aqui vieram neste permanente processo de colonização sobre o qual vivemos.
O Senador Cristovão Buarque dizia que o Brasil saiu da crise econômica antes de outros países, mas, do ponto de vista da cultura, nós continuamos quase um deserto. Ele defendeu medidas de incentivo direto à cultura, como a redução do preço dos livros, a criação de mais bibliotecas, a implantação do projeto Cesta Básica do livro de sua autoria, e a aprovação pelo Legislativo da proposta do Executivo da criação do Vale-Cultura, além disso, sugeriu também a escola de tempo integral para que o aluno tenha tempo de ler.
É um fato que não existem políticas públicas voltadas diretamente para o desenvolvimento e incentivo cultural e isso mostra a nossa deficiência em termo de acesso à cultura, e segundo o Senador Cristovão, isso reflete-se na Alma dos Brasileiros, contribuindo para a falta dos valores de solidariedade, para a elevação da corrupção e da violência. Segundo ele “O corpo não vai mal, mas a nossa alma continua deserta, doente.”
Segundo dados do Ministério da Cultura apenas 13% dos brasileiros frequentam cinema uma vez por ano; 92% nunca foram a um museu; 93,4% jamais freqüentaram qualquer exposição de arte; 78% nunca assistiram um espetáculo de dança; 82% não possuem computador em casa; 95,6% dos gastos familiares vão para outros bens que não os de cultura e 90% dos municípios não possuem uma única sala para qualquer atividade cultural. Além disso os brasileiros lêem apenas 1,8 livros por ano, enquanto na Colômbia esse percentual é duas vezes maior, e, na França, seis vezes superior.
Essa é uma radiografia do Brasil e Ceará-Mirim não poderia ficar fora dessa realidade.
Nós somos uma das cidades mais ricas culturalmente, aqui, temos os quatro maiores autos folclóricos, que certamente, serão encontrados em poucos lugares do Brasil. Cito como exemplo O Pastoril (tradição européia que faz louvações ao nascimento do menino Jesus), O Congo de Guerra (tradição remanescente da África e Europa, que fazem referências às batalhas medievais travadas entre moiros e cristãos e embaixadas à Rainha Ginga soberana africana), O Boi de Reis (auto nascido nos terreiros dos engenhos) e Os Cabocolinhos (tradição indígena que fazem referências as guerras e rituais tradicionais) e que só existe um grupo autêntico que o nosso.
Aqui encontramos diversas tradições que resistem as intempéries do tempo e às novas tecnologias, como por exemplo, as centenárias rendeiras de Muriú e jacumã, os artesãos em cipó de Aningas, de palha de carnaúba e agave de Ponta do Mato e Massaranduba, o santeiro de São Miguel, as tradicionais fábricas de bolo, grude e beijur do baixo vale, além disso, há os patrimônios imateriais representados pelas nossas anônimas rezadeiras, parteiras, vaqueiros, lavadeiras, a sabedoria popular dos agricultores e os artistas representados pelos escultor Santana, único do Estado com um estilo particular, o clã de Etevaldo, seus filhos Naldo e Careca produzindo produtos reconhecidos internacionalmente. A música tem grande representação através de artistas como Iranildo, Alexandre Lacerda, Tita, Marcos Câmara, Luciano e não poderia deixar de citar os grandes atores Mucio Vicente e Cresio Torres cujo trabalho é reconhecido em todo território nacional.
Diante do exposto, é necessário que todos nós, cada um fazendo a sua parte, contribua para o fortalecimento dessas tradições, assim, não veremos o futuro, sem reflexo do passado.
Precisamos construir o presente, norteado por ações pretéritas e assim projetaremos o futuro com dignidade valorizando a memória e as tradições na construção da história do nosso povo.


Poucos pensam sobre isso, mas a fotografia é tácita na vida de todos. Em nossas lembranças mais longínquas, em nossas histórias familiares e na formação da memória. A imagem fotográfica restitui narrativas emocionais, contempla a atmosfera de tempos passados e nos envolve em sua complacência de guardar o efêmero da vida para futuros enternecidos observadores. As sensações resultantes ante um documento fotográfico nos remetem a uma realidade a ser examinada delicadamente. Nesse sentido, não é a razão que rege o interesse pela fotografia. E sim, a sensibilidade do instinto que direciona o olhar.





Através da produção de corriqueiros registros fotográficos familiares, alguns dos status mais importantes que a fotografia possui se refletem, ou seja: de papel cultural e de preservação da memória. De modo que será nos álbuns das famílias contemporâneas que gerações futuras conhecerão valores, costumes e símbolos sociais de determinada sociedade e seu contexto cultural.
O registro visual da vida privada - a princípio, fonte de interesse apenas do núcleo familiar retratado - é um valioso material iconográfico que cada um de nós constrói inconscientemente e que configura a nossa memória social. Assim, a fotografia, enquanto fonte primária de investigação, nos revela sua profícua e ampla latitude de significados e representações. Digamos que se trata da alteridade por excelência. Conhecer o outro retratado (seja qual for o indivíduo em foco) não é somente tentarmos apreender o passado, mas, sobretudo, vislumbrarmos traços que ajudem a entender a nós mesmos, nossa identidade e as sutilezas de como nos apresentávamos ao mundo (plasmada em representações e idealizações de outrora).
Discutir, refletir e apreender a sintaxe da imagem faz parte de minha trajetória nesta busca mágica de compreender os sentidos que o ato fotográfico deflagra.
A partir de uma análise sócio-cultural da iconografia pesquisada, remontamos narrativas simbólicas e pautas sociais determinantes para a aristocracia canavieira. De maneira que abordamos as representações visuais e conseqüentemente seus valores sociais * verdadeiros índices, quanto a questões de parentesco, gênero, cânones morais, religiosidade, costumes e relações interétnicas.
Entretanto, ao discutir sobre identidade (algo indelével aos retratos), se observa como se constrói a imagem do outro e, portanto, como os paradigmas estéticos são elaborados enquanto mecanismo de distinção social, como também expressão de poder e ideologia.
A consciência de preservar estas imagens do passado, através do empenho em colecionar retratos de famílias da nossa sociedade temos a certeza de que estamos produzindo a memória social de determinada sociedade e época. E aos que têm a devoção de colecionar, ou mesmo, de guardar fotografias, devemos a existência desta memória visual, sem a qual não teríamos surpreendente patrimônio e a possibilidade de retomá-la em nossos tempos.




Através dos registros fotográficos percebemos que boa parte da nossa história é contada por meio das fotografias. E isso acontece também com a nossa cidade, com o nosso país e com todo o mundo. A fotografia funciona como uma memória social, capaz de perpetuar momentos, pessoas e locais que nunca mais existirão da mesma forma.
Hoje temos inúmeros registros de como eram as nossas cidades, como as pessoas se vestiam, se comportavam e se relacionavam. Esses registros estão arquivados por meios de textos escritos e visuais (as fotografias) e são estes últimos, os responsáveis por deixar nossas memórias mais vivas.
Portanto, ao pensar na Exposição Itinerante com o material publicado no meu livro, objetivamos mostrar à população, principalmente a comunidade escolar, a importância que a fotografia tem como registro histórico e, também, como preservação da memória.
Dessa forma, poderemos proporcionar aos observadores e leitores do livro uma viagem ao passado onde poderão constatar que as memórias visuais são capazes de resgatar nossa história e, entendendo nosso passado, temos a possibilidade de vivermos mais seguramente nosso presente para construirmos um futuro mais sólido.

domingo, 8 de novembro de 2009

BENILDE DANTAS DE MELO

BENILDE DANTAS DE MELO

Nascido em 25 de fevereiro de 1912, no Engenho Cajazeiras, município de Ceará-Mirim, Estado do Rio Grande do Norte.
Filho legítimo de Luiz Heretiano Gomes de Melo e Albertina Dantas de Melo, sendo seus avós paternos Luiz de França Gomes de Melo e Joaquina Felismina Fonseca de Melo e avós materno Miguel Antonio Ribeiro Dantas e Rita Generosa Tinoco Dantas.
Casou-se em 12 de julho de 1935 com Judite Marinho. Tendo três filhas: Benise, Vania e Lucia.
Em Ceará-Mirim sua primeira professora foi Adele de Oliveira e estudou, também, no Colégio Pedro II em 1923. Em 1927 foi residir com a sua família em Natal, estudando no Colégio Santo Antonio e posteriormente no Atheneu Norte-Riograndense.
Seus primeiros poemas foram “Exaltação”, “Fulô de Maio”, “Aos teus anos”, “As tuas santas cartas”, dedicados a Judite, na época sua namorada.
Escreveu o primeiro livro, um romance intitulado “MOLEQUE DE RUA” que não chegou a ser publicado por ter sido roubado a bordo.
Seu segundo livro foi o “CANTO DO CANAVIAL”, poemas, publicado em 1941, tendo escrito outros que não chegou a concluir.
Foi um homem excessivamente romântico e apaixonado por sua terra natal. Compôs várias músicas e a única a ser editada foi “SAUDADE DE MURIU”.
Teve como grande incentivadora a poetisa Maria Magdalena Antunes Pereira a qual chamava de “minha mãe espiritual”.
Escreveu para vários jornais, onde teve sua coluna especial pelas cidades onde residiu: Em Salvador, com o pseudônimo de Luiz Marinho, no jornal “IMPARCIAL”, em Fonte Nova/MG no “Jornal O POVO”, em São Manoel/MG no jornal “O LABOR”, em Carangola/MG na “GAZETA DE CARANGOLA, em Sapucaia/RJ, no jornal “A SAPUCAIA”, em Recife/PE no jornal “ESTRELAS DE JUNHO”, em Vitória/ES nos jornais “A TRIBUNA” e “FOLHA CAPIXABA” e no Rio de Janeiro/RJ no jornal “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”.
Em julho de 1932, contra a vontade de seu cunhado Bertino Dutra da Silva, na época interventor do Estado do Rio Grande do Norte, participou como voluntário, da Revolução Constitucionalista do Estado de São Paulo.
Na Intentona Comunista de 1935 teve participação comandando uma coluna que partiu de Ceará-Mirim para Baixa Verde. Tomando esta cidade assumiu o controle juntamente com Manuel Alberto da Silva Filho, que era conhecido com o nome de “Tenente Lins”. De Baixa Verde, Benilde, dirigiu-se para a cidade de Seridó comandando uma nova coluna de revolucionários.
Tendo conhecimento do fracasso da revolução na Serra do Doutor, empreendeu estão a caminhada cheia de percalços de volta a Ceará-Mirim.
Sofrido, abatido, perseguido pela polícia, conseguiu chegar a sua cidade natal, após ter passado por uma experiência terrível que quase de tirou a vida. Tal fato ocorreu quando um sertanejo, reconhecendo nele, por seus rastros, um homem da cidade, prendeu-o, ameaçando-o de morte com uma faca.
Ao ser primeiro revistado pelo sertanejo e seus filhos, encontraram m seu bolso apenas moedas, um de cem réis e outra de duzentos réis. (Estas moedas encontravam-se ainda guardadas com a sua família). Diante disto, e surpreso, o homem disse-lhe: “vejo que você é uma pessoa honesta, não é um ladrão. Nós vamos ajudá-lo a sair deste aperreio”. Deram-lhe uma calça velha, camisa, alpercata e um saco contendo farinha de mandioca e rapadura para ser carregado às costas, de maneira que ele se identificasse com qualquer um dos trabalhadores da região. Indicaram-lhe o caminho para atingir o sítio de José Tinoco, seu primo. Lá chegando, e não o encontrando, pediu ao empregado um cavalo selado e partiu em direção a Ceará-Mirim.
Por intermédio de Alfredo Edeltrudes e Isaías Guedes, que lhe conseguiram um barco de pesca, saiu de Ceará-Mirim, pela praia de Muriú, indo chegar às costas de Olinda em Pernambuco, onde permaneceu escondido na casa se sua madrinha Eliza Galhardo.
Teve também a ajuda de outras pessoas, dentre elas, especialmente, a do inesquecível Luiz Varella, um dos seus maiores amigos. Luiz e sua senhora Antonieta Varella, acolheram na sua propriedade na Usina São Francisco, em Ceará-Mirim, a esposa de Benilde, Judite Dantas, que na época esta grávida, sem tomarem represálias.
Após esta temporada em Olinda seguiu, também com o auxílio de parentes, para Salvador, ficando hospedado na casa de outro grande amigo. Gastão Câmara. A pedido deste, foi trabalhar como apontador na construção do aeroporto de Santo Amaro, onde a sua esposa, já com a sua filha Beniza, foi encontrá-lo.
Sendo mais tarde reconhecido voltou a ser perseguido, tendo de fugir com a família para a Ilha de Itaparica. Neste mesmo local encontrava-se também foragido Carlos Lacerda. Ao ser preso e temendo igual sorte, apesar da ajuda que lhe davam os pescadores da ilha, resolveu Benilde fazer regressarem a esposa e filha a Natal, ao mesmo tempo em que tornou a se refugiar na casa de Gastão Câmara em Salvador.
Foi neste período que começou a escrever, com o pseudônimo de Luiz Marinho, para o jornal “IMPARCIAL”, cujos artigos mereceram elogios do ilustre escritor baiano Carlos Chiaccio. Permaneceu com Gastão até a sua absolvição, decretada por sentença do M.M. Juiz Dr. Raul machado, em 20 de junho de 1938. Absolvido, foi encontrar-se com a esposa e filha no Rio de Janeiro.
Após sete meses sem conseguir emprego foi então nomeado no ano de 1939, para escrivão de coletoria, cargo para o qual havia feito concurso antes de estourar a revolução de 1935.
Em 1941 publicou o livro CANTO DO CANAVIAL, onde demonstra todo o romantismo e paixão por Ceará-Mirim. Neste período prestou novo concurso para o cargo de Agente Fiscal do Imposto de Consumo, atual Agente Fiscal de tributos Federais, sendo aprovado, foi nomeado pelo então Presidente da República, Getúlio Vargas, em 23 de junho de 1943, exercendo as suas funções até a data de seu falecimento no dia 13 de fevereiro de 1952.
O poema – título de seu livro – canto do Canavial nos leva ao imaginário e, numa quimera reveladora, vamos ouvindo o eco de cantos infantis, da melodia dos eixos primitivos de carros de bois se misturado aos gemidos permanentes dos riachos circundando o vale... é como ouvir os cânticos das lavadeiras...sinfonia de reminiscências!!!

CANTO DO CANAVIAL

Minha sombra musicada
Que mora nos meus ouvidos,
Canção de ninar meninos
Que ecoa nos meus ouvidos
Como o ciclo de um segredo....
Há quantos anos eu te escuto,
Canção que vem de minha infância,
Canção os engenhos românticos?
E esse apito dos engenhos nas madrugadas
Que eu escuto em todas as madrugadas de minha vida
Em todas as minhas tardes...
Em todas as minhas manhãs...
E essa música dos eixos dos carros de bois,
As vozes dos homens morenos nos eitos brutos
E as lavadeiras cantando na beira dos riachos...
Porque eu escuto essa sinfonia
Se estou tão longe de tudo, noutras terras?
E esse canto lamentoso do canavial
Como uma queixa de almas penadas
Que assombravam a minha meninice...
Porque ainda te escuto
Se estou longe, noutras terras?...

sábado, 7 de novembro de 2009

INÁCIO DE MEIRA PIRES

Inácio de Meira Pires, nasceu em Ceará-Mirim, no ano de 1928, na antiga rua São José, vizinho ao Centro Esportivo e Cultural. Descendente da estirpe dos Meira, sendo o Eminente Humanista e Jurista Dr. Olyntho José Meira, o seu bisavô. Desde muito cedo despertou-lhe a vocação teatral, fazendo teatro no quintal de sua casa. Estava nascendo aí, o maior homem de teatro do Rio Grande do Norte e o primeiro Teatrólogo filho de Ceará-Mirim.
Vindo morar em Natal, fundou o Teatro Mocidade e o teatro de Bairro. Escreveu a sua primeira peça que se chamou de Destino. Aos 19 anos ocorria o lançamento da sua comédia, nacionalmente, O Bonitão da Família, por nada mais, nada menos do que o maior ator da época Procópio Ferreira. De então em diante, não fez outra coisa, senão se dedicar de corpo e alma ao teatro, quer seja escrevendo, dirigindo ou representando.
Na peça - ainda inédita - O homem é o lobo do homem - a evocação do Ceará-Mirim está presente no diálogo de Bento e Dorinha, lembrando o bueiro do Engenho Jericó, a igreja de torres compridas, a Virgem da Conceição. Nesta peça, Meira Pires mostra todo o seu amor por Ceará-Mirim, a sua terra amada. Lembra o menino da rua São José, que passou a sua infância entre o seu Jericó e a rua que tanto amava.
Foi Meira Pires, o primeiro filho do Nordeste a ocupar o cargo de Diretor do Serviço Nacional de Teatro, onde lançou o Plano Nacional de Popularização do teatro, recebendo por isto, a homenagem da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), colocando no jardim do Teatro Alberto Maranhão, o seu busto. Além disso, várias placas em bronze assinalam as atividades fabulosas em benefício da cultura teatral brasileira.
Foi biógrafo amoroso e conservador do grande Alberto Maranhão, o mecenas da cultura do Rio Grande do Norte. Por mais de vinte e três anos Diretor e Superintendente do teatro Alberto Maranhão. Meira Pires fez do Teatro Alberto Maranhão, o seu lar artístico durante toda a sua vida.
Câmara Cascudo certa vez o chamou de Ventania do Nordeste. Na sua posse na Academia Norte-Riograndense de Letras, foi saudado, pelo Escritor filho de Ceará-Mirim, Nilo Pereira, que em seu discurso, chamou aquela noite maravilhosa, de a noite do Ceará-Mirim, pois lá estava o mestre Edgar Barbosa, filho também do Ceará-Mirim.
Na sua saudação a Meira Pires, disse o Mestre Nilo Pereira: “Creio que levais as folhas secas, para que na estrada, às vezes à espera, reverdeçam as árvores do idealismo sempre posto à prova. Mais do que, como disse o mestre Cascudo, ventania, acontece às vezes desabais como furacão. Podemos sentir à distância os prenúncios da tempestade”. Mostra Nilo Pereira, nesta saudação a Meira Pires, toda a força intelectual deste cearamirinense bravo e forte. Escrevendo na orelha do livro de Meira Pires, “Teatro Alberto Maranhão e seu Patrono” disse o escritor Veríssimo de Melo: “Tudo isto é trabalho de um homem lúcido e determinado, que não mede sacrifícios para a consecução dos seus ideais, que ama verdadeiramente a arte cênica e para a qual o teatro é a razão maior de ser de sua vida”. Meira Pires faleceu em 1982.
Vejamos abaixo as obras publicadas e não publicadas de Meira Pires: A mulher de preto (monólogo em dos atos); Um resto de tragédia (tragédia moderna em 3 atos); Teatro (contendo as peças Bonitão da Família e Senhora de Carrapicho); João Farrapo (peça em três atos); Cabeça do mundo (peça em três atos); Teatro que aprendí (estudos); Teatro Alberto Maranhão e seu Patrono (síntese histórica); O papel da Reserva Militar (conferência); Caxias, O Pacificador (conferência); TENAT (Um projeto cultural (discurso); Uma política de Teatro no desenvolvimento do Nordeste (estudo), dentre outras.

A importância de Meira Pires foi questionada pelo magnífico Ator e Diretor de teatro Mucio Vicente no blog de João André. É necessário respeitar as individualidades, os diferentes pontos de vistas, no entanto, na minha humilde opinião, MEIRA é reconhecido internacionalmente pela sua obra. O Serviço Brasileiro de Autores Teatrais (SBAT) reconheceu sua colaboração, à história do teatro brasileiro e do Rio Grande do Norte, alocando um busto de bronze no pátio do Teatro Alberto Maranhão em sua homenagem. Ele esteve diretor do Teatro Alberto Maranhão por mais de 20 anos e nesse período realizou vários projetos culturais relacionados ao teatro. Há ruas e salas de eventos em Natal em sua homenagem.
Penso que não podemos responsabilizar o eminente teatrólogo pela situação em que se encontram os movimentos culturais no município. Na época em que foi Diretor do SNT (Serviço Nacional de Teatro) a situação política e social era outra, o Brasil passava por um processo difícil, uma ditadura que coibia e censurava qualquer movimento artístico.
Acredito que é dever do poder público criar meios e equipamentos que proporcionem o desenvolvimento e a promoção cultural viabilizando o acesso da população as produções artísticas.
No entanto não devemos vincular homenagens a ruas, equipamentos sócio-culturais, etc, às pessoas que “somente” trouxeram benefícios materiais ao município, porque, senão, estaremos correndo o risco de nos tornarmos uma CIDADE NUMERAL.
A contribuição do teatrólogo, filho pobre do engenho Jericó, para a história do teatro em nosso estado está evidente em sua biografia, portanto, acredito que Ceará-Mirim deve homenageá-lo – como fez o SBAT – com um busto de bronze ou denominar – quando um dia existir – um teatro com o seu Ilustre Nome.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A HISTÓRIA DE EMMA

A HISTÓRIA DE EMMA




Marcello Olympio de Oliveira Barroca era filho de Victor José de Castro Barroca e nasceu em Ceará-Mirim no dia 16 de janeiro de 1856 e faleceu em São Gonçalo do Amarante.
Estudou na Inglaterra e lá conheceu a inglesa Emma Campbel nascida em 30 de novembro de 1854. Emma casou-se com Marcello e veio morar no Brasil, precisamente em Ceará-Mirim, no Engenho Verde Nasce.
Em 1880 Emma fica grávida de uma menina e, no dia 07 de fevereiro de 1881, quando está para dar à luz de sua filha, o parto complica e ela vem a falecer.
Marcello manda sepultá-la no ponto mais alto de uma colina na propriedade do engenho Verde Nasce, um lugar especial onde o jovem casal ia todas as tardes apreciar o pôr-do-sol que desaparecia à sombra do canavial. Tal atitude se deu porque a igreja não permitiu que sua esposa fosse sepultada no cemitério da cidade, uma vez que ela era de religião anglicana.
Seu túmulo foi mandado construir com proteção de grade de ferro vindas da Inglaterra e sua lápide foi confeccionada em Mármore de Carrara e trazia inscrito: “Sacred to the memory Emma – the beloved wife – Marcello Barroca. Born November 30 th 1854. Died February 7 th 1881”.
O casal teve uma filha que se chamou Emma Barroca em homenagem à mãe. Quando Emma completou 17 anos, em 03 de dezembro de 1898, casou-se com seu tio (viúvo) Apolônio Victor de Oliveira Barroca. Desse casamento nasceram 04 filhos, deixando descendência: Maria do Carmo de Oliveira Barroca; Jayme de Oliveira Barroca; Clarice de Oliveira Barroca e Maria de Oliveira Barroca.
Muito tempo depois, quando o Verde Nasce já não pertencia mais a família, começaram a surgiu histórias sobre as jóias que teriam sido enterradas com a jovem Emma e, também, começaram a surgir causos de assombrações em que a inglesa aparecia pedindo para que recuperassem aquele tesouro.
Ninguém sabe ao certo se a história procede ou se apenas são causos do imaginário popular. O certo é que o túmulo foi violado e, atualmente, restam os escombros do antigo jazigo. As grades de ferro e a lápide de mármore estão guardadas com os atuais proprietários do engenho.
Recentemente o diretor da Fundação Nilo Pereira Waldeck Araújo tentou fazer a restauração do túmulo, no entanto, a proprietária do engenho solicitou que ele se retirasse do local e que ela não autorizava tal ação.
É lamentável um caso como esse porque todos esses anos a velha ruína ficou em total abandono, exposta às intempéries do tempo. Esperamos que os proprietários do Verde Nasce, principalmente àqueles da área onde está localizado o túmulo, tenham um projeto que o salve da total destruição, afinal, é um monumento que faz parte da historia daquela região e precisa ser urgentemente restaurado, quem sabe, com isso, a inglesa possa descansar em paz (e nós também!!).