quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A CASA GRANDE DO ENGENHO GUAPORÉ

A CASA-GRANDE DO ENGENHO GUAPORÉ

               A Casa Grande do Engenho Guaporé está localizada no alto de uma colina, em pleno vale do Ceará-Mirim, em um sítio que anteriormente tinha denominação de “Bonito”. Sua implantação é privilegiada, ficando em perfeita harmonia com a paisagem circundante.
               O Dr. Vicente Inácio Pereira era proprietário do sítio Ilha Bela, que herdara do seu sogro, o Barão do Ceará-Mirim. Houve uma permuta de Ilha Bela pela propriedade “Bonito”, local onde o dr. Vicente Inácio edificou um engenho, ao qual deu a denominação de Guaporé, desaparecendo em conseqüência o primitivo topônimo (Bonito).

               No engenho Guaporé, também foi edificado um casarão, na 2ª metade do século passado, para servir à família do Dr. Vicente Inácio, que era casado com d. Isabel Augusta Duarte Varela.
               O Dr. Vicente Inácio Pereira nasceu no dia 3 de Maio de 1833, e faleceu em 22 de novembro  de 1888. Foi o segundo norte-rio-grandense a se formar em Medicina, tendo sido também jornalista, além de deputado provincial e vice-presidente da província.
               Como médico, o Dr. Vicente Inácio deixou uma valiosa contribuição científica: “Estudo do Cólera Morbus, sua Profilaxia e seu tratamento”, Impresso na tipografia “Dois Mundos”, em 1878.
               No campo político, foi sempre leal ao seu partido, o liberal. Como senhor de engenho, nunca deixou o Vale do Ceará-Mirim, não foi seduzido pela grandes cidades, enraizou-se à sua terra e, ao lado de outros proprietários, inicio o ciclo-econômico do açúcar no Ceará-Mirim.
               Segundo o escritor Nilo Pereira, neto do Dr. Vicente Inácio, “ele só deixou a sua casa pela assembléia ou pela presidência da província, mas era dali que trazia para a política e para a administração o senso de sua medida, o que lhe era possível fazer pelo Ceará-Mirim.
               A Casa Grande do Engenho Guaporé é uma edificação típica de uma época afidalgada. Ela possui uma história não apenas econômica, mas também política. Ali estiveram destacadas figuras do segundo Reinado, dos partidos Liberais e Conservadores, e do clero. É, sem dúvida, um exemplo representativo da aristocracia rural do Vale do Ceará-Mirim.
               Trata-se de uma edificação de relevante valor arquitetônico, de grande importância histórica. Construída no estilo neoclássico, apresenta partido de planta retangular, desenvolvida em um pavimento, notando-se ainda a presença de um sótão. Sua cobertura é feita em duas águas.
               A casa apresenta uma fachada emoldurada por colunas e cimalha. Possui uma janela central de acesso, e seis outras janelas, todas em arcos plenos, com cercaduras de massa. As esquadrias são de venezianas, de madeira pintada e vidro, com bandeiras de vidro, dispostos em forma de rosácea.
               A fachada ostenta ainda o esplendor do seu passado, com frontão triangular e platibanda ornada com guirlanda e rosáceas de massa.
               O mobiliário da casa obedecia ao gosto francês, muito pertinente da época em que os ricos senhores de engenho costumavam mandar os filhos estudar na Europa, de onde traziam as mesmas idéias renovadoras.
               O interior da casa não sofreu modificações significativas, conservado ainda o seu forro de madeira, piso de tijoleira no térreo e tabuado corrido no sótão.
               Em 1979 a casa, que se encontrava em precário estado de conservação, foi restaurada pela Fundação José Augusto, sendo posteriormente tombada a nível estadual, em 16 de dezembro de 1988. Atualmente funciona no local um museu, sob a responsabilidade conjunta da Fundação José Augusto e Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim.
               A Casa Grande do Engenho Guaporé repousa em pleno Vale, conservando ainda a mesma feição de sua fabrica original, em um cenário que faz lembrar as velhas figuras que ali viveram, ou por ali passaram.
               Nilo Pereira, um neto do Guaporé declara, em um lamento de saudade:
“... já não vale insistir na grandeza daquela velha casa, onde Vicente Inácio Pereira lutou para que a civilização da cana-de-açúcar fosse uma constante do progresso, economia e o mais poderoso fator da aristocracia rural. O melhor é deixá-la adormecida ao longe como um castelo de ilusões sobre o qual pairam invisíveis mãos de bondade e cavalheirismo. Essas mãos suspensas sobre seus destinos, revelando uma solidão de claustro. É o que resta de uma vida brilhante, que se apagou num enigma.

sábado, 24 de setembro de 2011

O MUNDO COLORIDO DE ALICE BRANDÃO

O MUNDO COLORIDO DE ALICE BRANDÃO

 Postado do blog: www.potiguarte.blogspot.com

Já são mais de 15 mil quadros pintados por Alice Brandão, ao longo de 44 anos
 
O RETRATO DE ALICE

Por
Maria Betânia Monteiro

As telas de Alice Brandão são tão comuns nas paredes das casas e comércios em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte,  que os moradores da pequena cidade não conseguiram valorizar o trabalho da artista plástica. Ela precisou sair de sua terra natal para ser reconhecida em São Paulo. A qualidade de sua técnica e a diversidade de sua  obra sugeriram ao artista plástico Dorian Gray um paralelo entre Alice Brandão e Cândido Portinari. "Portinari, assim como Alice, foi um retratista, além de trabalhar com o expressionismo social. Um artista do nível dela, que executa bem o trabalho figurativo, vai se dar bem em tudo o que fizer. O essencial é que ela saiba pintar e isso ela sabe", disse Dorian Gray Caldas. 


Alice conta que em São Bernardo ela é chamada de a Picassiana, por ter feito uma releitura das obras de Picasso. Foram mais de 500 quadros, explorando a fase cubista do pintor espanhol, um número pequeno na frente dos mais de 15 mil quadros pintados por ela, ao longo de 44 anos dedicados às telas. Apesar do sucesso com a releitura da obra do espanhol, foram os retratos de pessoas e paisagens que prenderam a atenção da artista.

 
Alice Brandão mora atualmente na cidade de São Bernardo do Campo. No interior paulista, ela divide a casa com a família e pouco mais de 800 quadros, que vem acumulando nos últimos anos. "Eu durmo num quartinho nos fundos da casa, porque não tem mais espaço dentro", disse Alice. A confecção de telas faz parte de sua vida desde a infância. A sua mãe era artista plástica e se dedicava às paisagens. Como na cidade de Ceará-Mirim não havia quem restaurasse santos ou fizesse pinturas em igrejas e capelas, Alice passou a realizar a tarefa. Aos 14 anos começou a pintar quadros e a atividade era feita com tanta paixão, que a artista calcula ter feito de 1 a 2 quadros por dia. Alice tem hoje 58 anos.


O seu trabalho tornou-se muito popular em sua cidade, tanto que por lá não há paredes sem uma de suas telas. Apesar do número de trabalhos produzidos, o reconhecimento pelo seu talento e por sua dedicação veio na contramão. "Em Ceará-Mirim nunca recebi um título de reconhecimento. Ninguém me dava valor", disse Alice.


Uma realidade bem diferente da que conheceu em São Paulo. Depois de ficado sem o emprego de enfermeira, que é sua profissão, em São Bernardo dos Campos, a potiguar não viu outra saída a não ser dar aulas de artes plásticas. Procurou os ateliês da cidade e se ofereceu como professora. As pessoas aceitaram com desconfiança, mas acabaram descobrindo o talento da artista. "As pessoas ficaram assombradas com o que eu fazia e me incentivavam: você tem que ir pra São Paulo". E foi o que ela fez. Bateu na porta de um dos mais importantes ateliês paulistas, o Villas Boas e foi muito bem recebida pela dona, que dá nome ao ateliê. "A curadora disse que o meu trabalho deveria ser lançado internacionalmente e que não tinha condições de fazer isso por mim". As obras de Alice Brandão ficaram em exposição por dois anos na galeria.

 
E foi a galeria o ponto de virada de Alice. Lá ela fez uma faculdade integrada, onde teve os primeiros contatos com a arte do ponto de vista teórico. O curso foi para garantir à pintora, a capacidade de falar ao público sobre o seu próprio trabalho. Com a exposição e o curso, Alice passou a se valorizar e o suas telas ganharam boa cotação no mercado das artes. Se em Natal/RN a pintura de uma fisionomia rendia à artista, cerca de um salário mínimo, em São Paulo chegou a valer cerca de R$ 2.500,00.


A valorização se deu inclusive, pelas contínuas  exposições. Uma em Portugal e várias em São Paulo. Sendo a do metrô, a mais significativa delas. Alice foi convidada para participar das comemorações do quadragésimo primeiro aniversário de funcionamento do metrô paulista e vários de seus quadros ganharam destaque nas paredes da estação da Sé, a mais movimentada de São Paulo.

 
Uma característica peculiar da artista é não vender os seus quadros, ao menos os que ficam em exposição. Foi assim com a releitura de Picasso, com a releitura de Portinari (que fez na década de 70) e tantos outros. Ela vende apenas os feitos sob encomenda que, aliás, garantem parte de seu sustento.


A outra parte é conseguida com as aulas que ministra em sua casa, onde montou um ateliê. Lá ela disse ser professora dos professores e se orgulha com um de seus alunos, um pintor mexicano, Jaime Colo, de 76 anos. "Ele é uma artista e com esta idade, se dirige a mim e me chama de professora".

 ...fonte...
Maria Betânia Monteiro
www.tribunadonorte.com
www.potiguarte.blogspot.com

...visite...
Galeria Alice Brandão
Picasa

 ...contato/artista...
malice.bezerra@hotma

PROFESSOR: UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

Por Nadja Lira*

A manchete dos jornais informando que uma criança de 10 anos atirou em uma professora, já não desperta mais a atenção dos leitores. Isso porque, pelo andar da carruagem, não é difícil prever que dentro de alguns anos não haverá mais pessoas interessadas em exercer a nobre missão do Magistério e seremos obrigados a viver em um mundo sem professores. Como se não bastasse o pouco caso do poder público para com esses profissionais, agora são os próprios alunos que dão cabo da vida dos professores e a escola, ambiente idealizado para formar cidadãos cultos, éticos e críticos acaba por se transformar em um lugar perigoso; uma arena; um campo de batalha, onde o professor é diariamente sacrificado de inúmeras formas.
Ao contrário do que apregoam as autoridades desse País, a Educação Brasileira é tratada com desdém, e o professor parece ser um cidadão de terceira categoria, que dia após dia testemunha uma orquestração para minar suas forças e promover sua retirada do mercado de trabalho. Especialmente porque o trabalho desse profissional é abrir os olhos e a mente das pessoas para que percebam os descalabros praticados por esse Brasil à fora.
Assim, não oferecem condições dignas de trabalho a esse profissional, cuja remuneração não corresponde às exigências crescentes dentro da atividade, de que a desmoralização do profissional torna-se pública e notória. Não bastassem as dificuldades naturais as quais o professor é submetido, até mesmo comer no seu ambiente de trabalho não lhe é mais permitido.
Não existe estímulo, incentivo àqueles que esboçam o desejo de trilhar os caminhos da Educação. O Governo Federal já percebeu que em breve vai faltar professor na rede pública de Ensino e tem divulgado algumas propagandas na tentativa de seduzir candidatos. Mas, não temos conhecimento do efeito produzido pela publicidade. O fato é que poucos enveredam por essa difícil trilha, porque existem milhares de carreiras bem mais atraentes do que a de formar cidadãos.
As escolas da atualidade estão lotadas de crianças, cujas famílias são cadastradas no Programa Bolsa-Escola e que em sua maioria expressa o desejo de se tornar jogador de futebol, juiz de Direito ou político. Essas são algumas das profissões que povoam os sonhos das crianças que freqüentam as escolas públicas e tal escolha já não causa mais surpresa aos professores.
Afinal, no que se refere ao jogador de futebol, ele ganha o salário dos sonhos de qualquer trabalhador; tem fama e prestígio; é respeitado pela população, desde que faça gols; ostenta carros e mansões cheias de luxo; participam de grandes recepções; viajam ao redor do mundo e não precisam estudar para conquistar tudo isso.
Para enveredar pela carreira política basta ter o dom de iludir as pessoas com uma boa conversa para garantir o voto. É necessário falar bem, mas isso não significa que o indivíduo precise estudar para tornar-se um político bem sucedido. O salário também é atraente e a carga horária trabalhada é quase imperceptível. O sujeito tem direito a uma infinidade de mordomias pagas com o dinheiro público e isso sem contar com as negociatas, geradoras de mais proventos.
A carreira do Juiz é sedutora não apenas pelo salário, mas porque esse profissional conquista, através de muitos anos de estudo, o objeto de desejo de grande parte da população: O poder de, como se fosse um Deus, decidir sobre o destino das pessoas. Essa possibilidade encanta, não apenas as pequenas criaturas. Enquanto em alguns países do Oriente, os reis e imperadores curvam-se diante de um Professor, aqui no Brasil, qualquer mortal curva-se diante de um Juiz.
O professor que forma todos os outros profissionais tais como, médicos, engenheiros, advogados, dentistas, jornalistas, arquitetos e tantos outros, curiosamente não forma jogadores de futebol nem políticos. Acredito que a presença de um professor na formação profissional dessas categorias faz uma enorme diferença.
Suspeito que seja justamente pela ausência de professores em suas vidas, que uma parcela significativa dos políticos não se porta com a devida ética na vida pública. Também acredito que a ausência de professores na formação de boa parte dos jogadores de futebol seja a responsável pelo assassinato à nossa gramática em suas entrevistas, assim como o seu envolvimento em escândalos internacionais.
Nas salas de aula por onde passei, jamais ouvi uma criança expressar o desejo de querer estudar para se tornar Professor – atividade sem qualquer atrativo. Professor sai de casa às 5:00h da manhã levando uma marmita e retorna às 23:00h; não pode parar de estudar; ganha mal; é obrigado a trabalhar três horários, inclusive nos fins de semana, para garantir seu sustento, seus livros e seus estudos. Portanto, assim como o mico leão dourado, o lobo guará e o jacaré de papo amarelo, acreditem: O professor também se encontra entre as espécies ameaçadas de extinção.
*É Jornalista e pedagoga
E-mail: nadjalira@bol.com.br

AO AMGO QUE PARTIU: MESTRE ETEVALDO CRUZ SANTIAGO

AO AMIGO QUE PARTIU...

“A memória poderá ser conservação ou elaboração do passado, mesmo porque o seu lugar na vida do homem acha-se a meio caminho entre o instinto, que se repete sempre, e a inteligência que é capaz de inovar. A lembrança é a história da pessoa e seu mundo, enquanto vivenciada” Eclea Bosi

            Era necessário falar, dizer o que sinto com a perda do grande representante da arte cearamirinense, o meu amigo Etevaldo.
Nossa amizade se iniciou quando de sua chegada em Ceará-Mirim, ele, muito amigo de meu pai, e, eu, amigo dos meninos, morávamos vizinhos, e, eles, principalmente Naldo, apreciava minhas coleções de pedras semi-preciosas, ametistas, citrino, etc. Crescemos juntos.

Meu pai era admirador e companheiro de Etevaldo, dividia com a família a vida difícil como fotógrafo e ceramista amador.

A vida é muito curta e se esvai como poeira ao vento, hoje “é” e, amanhã, já foi, acabou. Assim é a vida e só percebemos a sua velocidade quando passa. Na maioria das vezes, nem percebemos as pessoas maravilhosas que nos rodeiam, a importância que elas têm e deixamos de estar mais presentes, juntos, de escutar sua história, seus ensinamentos... como somos tolos!!!

Etevaldo Cruz Santiago, de origem humilde, percebeu seu talento ainda criança, utilizando o barro torrado da estrada ou, pegava pedaço de madeira e fazia seus próprios brinquedos. Com o tempo seu dom e desejo de criar  se aprimorou, tornando-o o grande escultor que conhecemos. (conhecemos???).
Nasceu a 14 de janeiro de 1939, na cidade de Açu no Rio Grande do Norte, tendo se radicado em Ceará-Mirim, em 1968.
          
          Profissionalmente começou a trabalhar com artesanato em 1969, quando foi incentivado por um cunhado, o escultor Luiz Januário. Desde então começou a trabalhar com mais dedicação e técnica.
      
       Inicialmente perdeu muitas peças, porém, com muito esforço, força de vontade e coragem, conseguiu aprimorar sua técnica, descobriu novos formas de cozimento do barro criando um estilo próprio, reconhecido nacional e internacionalmente.
            
           Nacionalmente seu trabalho foi reconhecido a partir de uma reportagem feita por Aléxis Gurgel em 1972. O mesmo conheceu Etevaldo quando procurava uma foto e ao ver as peças de argila, ficou deslumbrado com aquele trabalho tão natural, tão simples, porém, de uma aura tão vislumbrante.

          Anos mais tarde conheceu o Almirante Osório, comandante da Base Naval, quando o presenteou com uma peça, daí, conseguiu, com um outro almirante, Newton Braga de Farias, um atelier na própria base naval. A partir de então os pedidos não pararam de surgir.

         Para buscar inspiração, o escultor passava longas horas observando e conversando com pescadores e agricultores, para posteriormente servirem de modelos para suas obras.

            Sua primeira exposição foi em 1970 na Praça da República, em São Paulo/SP. Desde então não parou mais. Em 1971, expôs no Clube de Oficiais da Marinha, em Natal/RN. Em 1972, na Galeria de Arte da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Natal. Em 1975, expôs suas obras no Clube Naval de Brasília/DF. Foi premiado várias vezes em Feiras de Artesanato por todo o Brasil.

        Os trabalhos que mais se destacaram estão no Museu da Cultura em Brasília/DF, Museu Popular em Recife/PE, Acervo da Confederação Nacional da Indústria – CNI – Brasília/DF., no Vaticano, Casa Branca - Estados Unidos, Estátua Beijo dos Namorados – Bosque dos Namorados – Natal/RN, Estátua de Iemanjá – Praia do Meio – Natal/RN, Estátua de Miguel Carrilho – Praia do Meio – Natal/RN, Mural e Estátua de Escravo – Ferreiro Torto – Macaiba/RN, dentre outros e em Ceará-Mirim o Painel na Praça Edgar Varela, O Cortador de Cana na entrada da cidade, O Frei Damião no Largo da Matriz, os busto de Ubaldo Bezerra, Edgar Varela, e seu último trabalho foi Frei Damião no Largo da Matriz de João Câmara. Finalmente para fechar essa pequena, mais expressiva lista de obras, a “Rendeira”, sua obra mais característica, que ganhei como presente de casamento e ficará comigo até que a “morte nos separe”, “minha ou dela”!!!

            Recado de Newton Navarro para Etevaldo: “Etewaldo molda no barro o sentimento puro que lhe advém da vivência e emoções colhidas no seu dia-a-dia de homem simples. Um artista do povo, dando um recado de arte, onde as formas que consegue modelar são como expressões mais vivas de como gostaria de dizer o que sente, o que imagina, o que sonha. Sua mensagem nasce com a argila, de onde foi o próprio homem feito à imagem e semelhança de Deus” Natal, abril de 1973.

            Mensagem de Augusto Severo Neto: “ Nordestino de quatro costados, com um jeito de índio e de caboclo, Etewaldo é inegavelmente, o mestre da arte ceramística do Rio Grande do Norte. Nascido em Açu, terra de poetas improvisadores, Etewaldo improvisa no barro bruto, uma poesia primitiva de expressão e de forma.

            Menino pobre, fazia ele próprio os seus cavalinhos e os seus bonecos de cerâmica, para brincar com colegas tão pobres quanto ele. Das suas mãos, ainda inexperientes, brotavam cantadores, cangaceiros, retirantes, rendeiras, lavadeiras, carros-de-boi, vaqueiros e toda uma gama de figuras típicas do seu nordeste difícil e comburido. No menino, o artista ia tomando força e forma. Com o passar do tempo, Etewaldo foi crescendo na sua arte e se enriquecendo na inspiração, garimpada na vivência e apreciação/observação curiosa dos tipos que compunham o seu “entourage”. Amadureceu no sofrimento das secas e enchentes e transformou em mensagem sólida a inclemência de sua terra de paradoxos.

      Um dia Etevaldo foi “descoberto” e sua arte buscada pelos que compreendiam a mensagem de suas figuras e até por quem, não compreendendo, descobria nelas a beleza e a autenticidade de forma.

            Numa coerência mesológica e fiel à gleba-mãe, Etewaldo contiua retratando no barro as figuras que fazem o seu mundo. Essas figuras, atravessando muitas águas, já viajaram até portos de além-mar.

      Agora, completando o trio de artistas nordestinos, ou, para melhor dizer, norte-riograndenses, Etewaldo se apresenta no Clube Naval de Brasília. E, como os outros, ele também será capaz de promover a festa dos olhos dos que forem vê-lo.”

            Iniciamos o texto com Ecléa Bosi e fecharemos também com ela: “A velhice é a fonte de onde jorra a essência de cultura, ponto onde o passado se conserva e o presente se prepara, pois, como escrevera Benjamim, só perde o sentido aquilo que no presente não é percebido como visado no passado. O que foi não é uma coisa revista pelo nosso olhar, nem é uma idéia inspecionada por nosso espírito – é alargamento das fronteiras do presente, lembranças de promessas não cumpridas”.

            Etevaldo ganhou todos os prêmios que concorreu, agora, lá onde estiver, estará, também, torcendo com outros artistas que já foram como Mestre Vitalino, Fabião das Queimadas, Newton Navarro, por uma CULTURA de responsabilidade, de amor às raízes e, principalmente, de atitude, força, por uma arte visível, apreciada e respeitada.

Na última quinta-feira, 22/09/2011, a ACLA reuniu-se em assembléa extraordinária e ratificou os nomes de Ruy Antunes Pereira, Roberto Pereira Varela e Etevaldo Cruz Santiago como novos patronos da Academia.
 
            Veleu Mestre!!!!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

PARABÉNS THIAGO COSTACKZ


Festival Nacional Curta de Santos, homenageou: Thiago Cóstackz pela sua contribuição as Causas sociais, Ambientais e sua luta a favor dos direitos humanos e a atriz Christiane Torloni por sua carreira de mais de 30 anos na TV, Teatro e Cinema. Elke Maravilha foi a mestre de cerimonias e entregou os troféus aos homenageados.

CARTA DO CACIQUE MUTUA

Carta do Cacique Mutua a todos os povos da Terra  PDF Imprimir E-mail
Ecologia
Cacique Mutua   
Qui, 30 de Junho de 2011 10:44
Cacique MutuaCacique MutuaO Cacique Mutua , índio xavante, escreveu esta mensagem dirigida "a todos os povos da Terra". Trata-se de um texto de rara beleza poética e ultra-eficaz na denúncia de Belo Monte. A missiva começa assim: " O Sol me acordou dançando no meu rosto. Pela manhã, atravessou a palha da oca e brincou com meus olhos sonolentos". Com ela, o cacique xavante prova mais uma vez que todo dia é dia do índio. Vale conferir.
Carta do Cacique Mutua a todos os povos da Terra
O Sol me acordou dançando no meu rosto. Pela manhã, atravessou a palha da oca e brincou com meus olhos sonolentos.
O irmão Vento, mensageiro do Grande Espírito, soprou meu nome, fazendo tremer as folhas das plantas lá fora.
Eu sou Mutua, cacique da aldeia dos Xavantes. Na nossa língua, Xingu quer dizer água boa, água limpa. É o nome do nosso rio sagrado.
Como guiso da serpente, o Vento anunciou perigo. Meu coração pesou como jaca madura, a garganta pediu saliva. Eu ouvi. O Grande Espírito da floresta estava bravo.
Xingu banha toda a floresta com a água da vida. Ele traz alegria e sorriso no rosto dos curumins da aldeia. Xingu traz alimento para nossa tribo.
Mas hoje nosso povo está triste. Xingu recebeu sentença de morte. Os caciques dos homens brancos vão matar nosso rio.
O lamento do Vento diz que logo vem uma tal de usina para nossa terra. O nome dela é Belo Monte. No vilarejo de Altamira, vão construir a barragem. Vão tirar um monte de terra, mais do que fizeram lá longe, no canal do Panamá.
Enquanto inundam a floresta de um lado, prendem a água de outro. Xingu vai correr mais devagar. A floresta vai secar em volta. Os animais vão morrer. Vai diminuir a desova dos peixes. E se sobrar vida, ficará triste como o índio.
Como uma grande serpente prateada, Xingu desliza pelo Pará e Mato Grosso, refrescando toda a floresta. Xingu vai longe desembocar no Rio Amazonas e alimentar outros povos distantes.
Se o rio morre, a gente também morre, os animais, a floresta, a roça, o peixe tudo morre. Aprendi isso com meu pai, o grande cacique Aritana, que me ensinou como fincar o peixe na água, usando a flecha, para servir nosso alimento.
Se Xingu morre, o curumim do futuro dormirá para sempre no passado, levando o canto da sabedoria do nosso povo para o fundo das águas de sangue.
Hoje pela manhã, o Vento me levou para a floresta. O Espírito do Vento é apressado, tem de correr mundo, soprar o saber da alma da Natureza nos ouvidos dos outros pajés. Mas o homem branco está surdo e há muito tempo não ouve mais o Vento.
Eu falei com a Floresta, com o Vento, com o Céu e com o Xingu. Entendo a língua da arara, da onça, do macaco, do tamanduá, da anta e do tatu. O Sol, a Lua e a Terra são sagrados para nós.
Quando um índio nasce, ele se torna parte da Mãe Natureza. Nossos antepassados, muitos que partiram pela mão do homem branco, são sagrados para o meu povo.
É verdade que, depois que homem branco chegou, o homem vermelho nunca mais foi o mesmo. Ele trouxe o espírito da doença, a gripe que matou nosso povo. E o espírito da ganância que roubou nossas árvores e matou nossos bichos. No passado, já fomos milhões. Hoje, somos somente cinco mil índios à beira do Xingu, não sei por quanto tempo.
Na roça, ainda conseguimos plantar a mandioca, que é nosso principal alimento, junto com o peixe. Com ela, a gente faz o beiju. Conta a história que Mandioca nasceu do corpo branco de uma linda indiazinha, enterrada numa oca, por causa das lágrimas de saudades dos seus pais caídas na terra que a guardava.
O Sol me acordou dançando no meu rosto. E o Vento trouxe o clamor do rio que está bravo. Sou corajoso guerreiro, não temo nada.
Caminharei sobre jacarés, enfrentarei o abraço de morte da jiboia e as garras terríveis da suçuarana. Por cima de todas as coisas pularei, se quiserem me segurar. Os espíritos têm sentimentos e não gostam de muito esperar.
Eu aprendi desde pequeno a falar com o Grande Espírito da floresta. Foi num dia de chuva, quando corria sozinho dentro da mata, e senti cócegas nos pés quando pisei as sementes de castanha do chão. O meu arco e flecha seguiam a caça, enquanto eu mesmo era caçado pelas sombras dos seres mágicos da floresta.
O espírito do Gavião Real agora aparece rodopiando com suas grandes asas no céu.
Com um grito agudo perguntou:
Quem foi o primeiro a ferir o corpo de Xingu?
Meu coração apertado como a polpa do pequi não tem coragem de dizer que foi o representante do reino dos homens.
O espírito do Gavião Real diz que se a artéria do Xingu for rompida por causa da barragem, a ira do rio se espalhará por toda a terra como sangue e seu cheiro será o da morte.
O Sol me acordou brincando no meu rosto. O dia se abriu e me perguntou da vida do rio. Se matarem o Xingu, todos veremos o alimento virar areia.
A ave de cabeça majestosa me atraiu para a reunião dos espíritos sagrados na floresta. Pisando as folhas velhas do chão com cuidado, pois a terra está grávida, segui a trilha do rio Xingu. Lembrei que, antes, a gente ia para a cidade e no caminho eu só via árvores.
Agora, o madeireiro e o fazendeiro espremeram o índio perto do rio com o cultivo de pastos para boi e plantações mergulhadas no veneno. A terra está estragada. Depois de matar a nossa floresta, nossos animais, sujar nossos rios e derrubar nossas árvores, querem matar Xingu.
O Sol me acordou brincando no meu rosto. E no caminho do rio passei pela Grande Árvore e uma seiva vermelha deslizava pelo seu nódulo.
Quem arrancou a pele da nossa mãe? gemeu a velha senhora num sentimento profundo de dor.
As palavras faltaram na minha boca. Não tinha como explicar o mal que trarão à terra.
Leve a nossa voz para os quatro cantos do mundo clamou O Vento ligeiro soprará até as conchas dos ouvidos amigos ventilou por último, usando a língua antiga, enquanto as folhas no alto se debatiam.
Nosso povo tentou gritar contra os negócios dos homens. Levamos nossa gente para falar com cacique dos brancos. Nossos caciques do Xingu viajaram preocupados e revoltados para Brasília. Eu estava lá, e vi tudo acontecer.
Os caciques caraíbas se escondem. Não querem olhar direto nos nossos olhos. Eles dizem que nos consultaram, mas ninguém foi ouvido.
O homem branco devia saber que nada cresce se não prestar reverência à vida e à natureza. Tudo que acontecer aqui vai voar com o Vento que não tem fronteiras. Recairá um dia em calor e sofrimento para outros povos distantes do mundo.
O tempo da verdade chegou e existe missão em cada estrela que brilha nas ondas do Rio Xingu. Pronta para desvendar seus mistérios, tanto no mundo dos homens como na natureza.
Eu sou o cacique Mutua e esta é minha palavra! Esta é minha dança! E este é o meu canto!
Porta-voz da nossa tradição, vamos nos fortalecer. Casa de Rezas, vamos nos fortalecer. Bicho-Espírito, vamos nos fortalecer. Maracá, vamos nos fortalecer. Vento, vamos nos fortalecer. Terra, vamos nos fortalecer.
Rio Xingu! Vamos nos fortalecer!
Leve minha mensagem nas suas ondas para todo o mundo: a terra é fonte de toda vida, mas precisa de todos nós para dar vida e fazer tudo crescer.
Quando você avistar um reflexo mais brilhante nas águas de um rio, lago ou mar, é a mensagem de lamento do Xingu clamando por viver.

Cacique Mutua

Fonte: http://socialismo.org.br/portal/ecologia/95-artigo/2114-carta-do-cacique-mutua-a-todos-os-povos-da-terra

PROJETOS DA ACLA

A ACADEMIA CEARAMIRINENSE DE LETRAS E ARTES REALIZA SUA PRIMEIRA MOSTRA COLETIVA DE ARTES DE CEARÁ-MIRIM, EM 26-10-2011, NA FUNCARTE.

PEDRO SIMÕES NETO E ROBERTO LIMA DE SOUZA

Mensagem de Pedro Simões Neto:

"ALÔ ALÕ CEARÁ-MIRIM! MAIS UMA IMPORTANTE PARCERIA.
Acabei de sair da Capitania das Artes, onde troquei idéias com o meu amigo Roberto Lima, presidente da FUNCARTE. Lá, tomei ciência do notável trabalho desenvolvido por esse operoso intelectual e as metas que projetou, uma a uma sendo realizadas, a partir do renascimento do Teatro Sndoval Wanderley, com quase 80% dos recursos já assegurados pelo Ministério da Cultura e a supermontagem do Auto de Natal, dentre inúmeras outras.
 Impressionou-me a performance de Roberto e a sua tenacidade na busca de meios para a execução do seu ambicioso perograma.
Tratei com ele a possibilidade de uma parceria com a ACLA - Academia Cearamnirinense de Letras e Artes e, imediatamente, ajustamos três iniciativas conjuntas: 
A MOSTRA DE ARTES VISUAIS DE CEARÁ-MIRIM será realizada no Ateliê da Capitania, um amplo e bem cuidado espaço, com todo o suporte técnico necessário à exposição.
A ABERTURA DE OPORTUNIDADES PARA OS ATORES CEARAMIRINENSES DEDICADOS AO TEATRO, tanto no que se refere ao treinamento, quanto no aproveitamento desses profissionais no elenco das peças encenadas sob auspícios da FUNCARTE.
A CESSÃO DA EXCELENTE BANDA SINFÔNICA DE NATAL para apresentação na Festa da Padroeira.
Ficamos de nos encontrar novamente para examinar novas parcerias.
CEARÁ-MIRIM TEM JEITO."

sábado, 10 de setembro de 2011

THIAGO CÓSTACKZ

Parabéns ao conterrâneo Thiago pelo seu talento e sua criatividade. Voce merece todo sucesso do mundo!

THIAGO CÓSTACKZ RECEBE PRÊMIO POR PROJETOS DE SUSTEMTABILIDADE

Data: 8/9/2011 12:45:55
Postador por: Assessoria de Comunicação e Imprensa



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O artista plástico Thiago Cóstackz, 27 anos, autor de diversos projetos culturais e ambientais é responsável pela arte do 9º Curta Santos, recebe o Troféu Maurice Legeard, durante a Gala de Abertura, por abraçar as causas sociais e ambientais e pela fundação do Museu de Arte Contemporânea Sustentável, marcado pelo pioneirismo no Brasil no Mundo.

Com uma carreira artística bem diversa, realizou intervenções e instalações para as marcas: Hugo Boss, DKNY (Donna Karan New York) e Puma sua patrocinadora oficial. Tem uma legião de pessoas que acompanham seu trabalho em todo o mundo e só nos últimos 4 anos realizou 32 exposições e instalações artísticas.

Como reflexo de sua preocupação com as causas sociais e ambientais, sempre retratada em seus trabalhos, está fundando o Museu Eco, primeiro museu de arte sustentável do Brasil, que também é o primeiro de arte contemporânea do estado do Rio Grande do Norte. Aos 410 anos, a capital Natal não conta com museus de arte nem uma instituição preocupada com a democratização da cultura e inclusão social através da arte.

Cóstackz conseguiu fechar parcerias nacionais e internacionais para o museu e ganhar reconhecimento do público através do trabalho na exposição Mitos e Ícones. Uma mostra manifesto com o apoio de 16 celebridades que posaram para ele, entre elas: Carolina Dieckmann, Fernanda Tavares, Isabella Fiorentino, Dalton Vigh e a princesa Paola  de Orléans-Bragança-Bourbon e Sapieha-Rozanski. Nesta mostra o artista recebeu mais de 100mil pessoas em apenas 40 dias de visitação.

Sua última grande exposição, Tsunami vs. Terremoto, aconteceu em 2010 e reuniu mais de 40 obras suas em São Paulo, fazendo questionamentos sobre política, meio ambiente, Direitos Humanos, antropologia, astrobiologia e física quântica. Entre as figuras retratadas estavam: Charles Darwin, Emily Davidson, Carmen Miranda, Lady Gaga e Stephen Hawking, que, segundo ele, seriam "tsunamis sociais". Uma das influências é a pop art, movimento surgido entre os anos 50 e 60 nos Estados Unidos.

Reforça sua luta pela preservação das espécies severamente ameaçadas na exposição anual S.O.S. Terra, que acontece desde 2008 na av. Paulista e já está em sua quarta edição. Todo o material usado, desde as peças até a tinta corporal aplicada em Cóstackz, é cuidadosamente selecionado para não agredir o meio ambiente. Na música, fez parceria com as bandas: The B-52s, The Cranberries e Roxette.

Lembrando uma das bandeiras da 9ª edição do Curta Santos, a sustentabilidade, o festival faz uma homenagem a Cóstackz em uma época decisiva para a Baixada Santista, que vive um boom imobiliário e pouca atenção para com o meio ambiente.

Troféu Maurice Legeard

O prêmio evoca o nome deste grande agitador cultural francês que escolheu Santos para viver. Inesquecível fundador da Cinemateca Santista e várias vezes diretor do Clube de Cinema de Santos, faz parte da memória cultural da Baixada Santista e do Brasil.


Fonte: http://www.curtasantos.com.br/Blog/Post.aspx?id=454

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

AH, ESSA CANA....

Ah, essa cana...

Dia desses eu vi, na feira, um rapazote vendendo roletes de cana fincados em varetas de bambu. Pois bem, aconteceu de novo: aquela velha sensação de ser tragado por um torvelinho que me arremessa no passado para reviver antigas sensações, antigas ternuras. (Aqui entra a dica para você clicar na setinha e ouvir a canção que a Rádio Antigas Ternuras, a rádio que toca no seu coração, selecionou para este post)

Eu me vi, ainda menino, sem o que fazer de útil para a sociedade em determinado momento do dia, olhando para o quintal, procurando me decidir entre subir no pé de cajá, no de goiaba, no de manga ou pegar o facão amolado e cortar e descascar cana, acabando por optar por esta última atividade.
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Aquilo era quase um ritual litúrgico! Abrir a gaveta da mesa da varanda, desembainhar a peixeira do tempo de meu pai e selecionar naquela touceira o melhor caule da planta do gênero Saccharum, tão estreitamente vinculada com a História do Brasil. Com um golpe só, decepava a bicha no talo. Os pés de cana do nosso quintal eram grossos feito bambus. Diziam que não eram tão doces quanto a cana caiana, aquela que quando madura ficava amarelinha e era fina feito as canelas de minha irmã. Digo isso me referindo às canelas dela naquele tempo. Hoje, não lembram mais cana. Estão mais para tronco de peroba-do-campo ( se ela ler isso, me arranca o couro...).
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Independente da grossura do caule da nossa cana, ela era tão docinha...
Uma vez cortada, eu me dedicava a limpar, cortar os olhinhos, seccionar a parte das folhas afiadas feito navalha. Uma vez limpinha, eu cuidava de cortá-la em pedaços menores para facilitar o descasque. Os anos de prática me davam extrema habilidade nesse processo. Era fazer um pequeno talho na parte alta do nó e, com um movimento da faca, um pedaço da casca grossa levantava, daí era só deslizar a lâmina e ele voava longe. Criteriosamente, eu removia todo aquele invólucro cor de vinho tinto e a carne da cana, em tom entre o amarelo claro e o verde lavado se me oferecia com languidez. O passo seguinte era cortar o nó, e isto eu fazia segurando o pedaço da cana com a mão esquerda e, com a outra mão decepando a parte indesejada com um movimento em círculo feito com a peixeira. Cortava o nó de cima, cortava o nó de baixo. Eis que eu tinha um rolete de uns dez centímetros implorando pelos meus dentes.
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Calma, ainda faltava um bocadito para o meu prazer. Apoiava a lâmina da faca em transversal no alto do rolete e batia com a mão na parte sem corte para que a faca deslizasse rompendo aquele pequeno cilindro que se dividia em duas metades. Juntava estas partes e fazia a mesma coisa, cortando em cruz. Logo, eu tinha quatro pequenos talos umedecidos pelo corte do facão. Era como uma mulher amada, molhada de desejo, pronta para ser sorvida pelo amante hábil e carinhoso. Introduzia na boca aquele pedaço de prazer, mordendo com molares e pré-molares num canto da bochecha, recebendo na língua o gozo da cana, sumo generoso, mel de prazer que me enchia a boca, excitando-me as papilas gustativas, misturando-se às minhas secreções. Eu praticamente fazia amor com aquele pedaço de vegetal.
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Para me tirar daquele enlevo, só a voz de meu irmão, quebrando o momento mágico, pedindo:
- Me dá um pedaço?
Eu cortava mais um rolete e entregava ao pidão, dizendo: “desinfeta, pirralho!” e o via realmente sumir, mordiscando o naco adocicado, cuspindo o bagaço no chão do terreiro.
Naquele momento, eu não imaginava que estava revivendo um gesto histórico, que tantos outros fizeram. Imagino quantos negros escravos, em raros momentos de descanso, também se dedicavam a sorver o caldo da cana abocanhada entre os dentes, para depois lançar longe o bagaço exangue.
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Tudo isso passou pela minha mente, num átimo, na velocidade do pensamento, quando vi os roletes de cana que o rapaz vendia na feira de uma rua de um Rio de Janeiro urbano, esquecido desses pequenos prazeres. O torvelinho da feira me engoliu e diluiu meus pensamentos, como que me chamando para a realidade. Mas eu sabia muito bem que dentro de mim o menino ainda chupava aquela cana e assoviava um chamamento para que eu me juntasse a ele...
M.S.

FONTE: http://antigasternuras.blogspot.com/2010/05/ah-essa-cana.html

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

FRAGMENTOS DISCURSO DE FRANKLIN MARINHO PELOS 150 ANOS DE CEARA-MIRIM


Revendo alguns arquivos, encontrei o discurso de Franklin Marinho quando era inaugurado o obelisco em homenagem aos 150 anos de Ceará-Mirim. Segue fragmentos da emoção e romantismo deste cearamirinense que ama sua terra e, dela, se apartará, quando chegar sua viagem final.
Faço questão de republicar o texto, porque no futuro, os saudosistas ou interessados pela nossa história conhecerão e/ou lembrarão do evento e das palavras brotadas do fundo da alma de um “velho” sonhador que procurou a vida inteira sua “Manhã da Criação”:
Há 50 anos eu assisti o centenário de Ceará-Mirim (...); Numa noite como essa, dos 150 anos, vir à Ceará-mirim contar algumas coisas no tempo curto, porque eu gosto de falar sobre Ceará-Mirim a noite toda, o dia todo, relembrar tudo isso, mas, é aqui na rua grande, a rua do início, onde se escuta bem a usina apitar, o trem chegar, o botador d’água de outrora, quando fecho os olhos e vejo ele passar, passou, como o açoite do chicote do cambiteiro, cortando o vento, com sua ponta de linha. O cheiro do açúcar tomando conta da atmosfera do município, o comércio satisfeito com a moagem da Usina, que a nossa vocação é canavieira, é relembrar, as pessoas que por aqui passaram, que sem pensar que isso aqui um dia ia ser tão belo e bonito, e prepararam isso com tanto amor para que hoje possamos pisar com tanta satisfação numa terra tão promissora, de um povo bom e hospitaleiro.
Falar de Ceará-Mirim é relembrar Café Filho, que conviveu aqui. Onde, ainda hoje, resta uma sua afilhada na rua Manoel Varela, Lizete, com oitenta e tantos anos, afilhada de Café com Dona Jandira.
É aqui nesse trem onde as autoridades de antigamente passavam para o sertão, era o trem que trazia do sertão, o sertanejo faminto de água, chegando na estrada velha, na estação velha, descendo do trem, olhando o olheiro imperial com as suas águas jorrando, eles lavando os braços e o rosto, com a inveja de não ter na sua terra, uma terra promissora como essa do Ceará-Mirim.
É olhar o Ceará-Mirim dos velhos juris, como falei essa semana, dos grandes advogados, aula importante para quem gostava de apreciar os presos descendo, entre quatro soldados, como se fosse um desfile e o povo nas esquinas olhando, mas, lembrar Ceará-Mirim é relembrar a velha Matriz com as missões de Frei Damião.
Relembrar Ceará-Mirim é relembrar nosso vale preto, descoberto pelo português e achando que nesta terra charcosa e molhada, a única agricultura possível seria a cana-de-açúcar. Vem daí a idéia da industrialização do engenho no cangote de besta, se modernizando pelo carnaubal em 1846. Com as moendas horizontais vindas da Europa, da Inglaterra, onde o povo dizia: “O engenho é novo, é de dona Mariana se arrocha negro que o caboclo bota a cana”, daí pra frente, a industrialização foi à passo sério, chegando a Umburana onde as moendas, a vapor, não foram colocadas por que faltou técnicos em 1856, mas, a BICA, a Santa Terezinha de Ubaldo passava a funcionar com o Engenho a Vapor. A São Francisco tomava conta da Usina, a Guanabara fechava, nascida em 25 e fechada em 45. Ubaldo abria a Santa Terezinha em 47 e fechava em 55, foram crises e mais crises, mas a Indústria sobreviveu (...).
Ceará-Mirim teve o privilégio do Barão, um dos quatro barões do Rio Grande do Norte, Ceará-Mirim teve o Manoel Varela do Nascimento na nossa aristocracia, aristocracia da guarda nacional criada pelo império, porque o império começava a se divorciar do povo pelo tamanho do país. A nobreza se tornando importante demais criou a guarda nacional. Você vê as ruas com o nome de Coronel fulano, Major fulano, coronel da guarda nacional, que foi extinta em 1918 pela República.
Aqui fizemos história, daqui saíram muitos, gente de ceará-mirim, da nossa aristocracia, por falta de escolas em Natal, por falta de escolas em Ceará-Mirim, foram buscar o saber e  aí fizeram o nome do Ceará-Mirim. Hoje procura-se São Paulo para buscar emprego. Muitos daqui, naquela época, na estração da borracha, procuraram o Pará, como Juvenal Antunes, que saiu agora na televisão naquele seriado Manaus. Em 1947 faleceu Juvenal, o grande poeta, mas foi os Meiras, saídos do Diamante, do Livramento, diamante das águas cristalinas, que foram para o Pará erguer a bandeira do Ceará-Mirim. Governando o Pará. Indo para o Senado da República no Rio de Janeiro, Dr. Augusto Meira, autor do hino do Rio Grande do Norte de 1929, foram histórias, foi Nilo, que saiu de Ceará-Mirim menino, foi pra Pernambuco ser secretário, ser deputado, ser escritor, acadêmico de Letras, quando os acadêmicos diziam que o Egito está pra o Nilo como o Nilo está para Ceará-Mirim, eram os homens que levaram o nome da nossa terra, já que não puderam ficar aqui no nosso vale, mas, não se esqueceram da beleza dessas manhãs frias do vale, lá eles escreveram, eles levaram o nome como Rodolfo Garcia, saído daqui menino, se perpetuou o historiador da historia do Brasil, tendo seu retrato em várias academias de Letra do Brasil. É tanta gente que nem lembro tanto, mas, não são só os nomes importantes, mas tem os que aqui ficaram, Mané rebequinha do Olheiro, analfabeto, vigia, bêbado, dizendo versos, mas, não escrevia de analfabeto, e eu também ouvia, mas num me lembro mais para escrever não me lembro mais dos versos de Rebequinha. É Amelia Barroca morando acolá, de família tradicional, malcriada, dizendo desaforo a todo mundo, mas, tem uma tradição de história. Era Mandinga, que nos nossos carnavais no frevo quebra de asa, é os caboclinhos, era Manoel Droga no pitoco, os caboclo tá no oco e Mané Droga no Pitoco, tocando na gaita, virando bicho,  quando era Sexta-Feira de Meia Noite, o povo dizia. Eram os pastoris de Vitalino (...).
Essa beleza, misturando-se com a aristocracia da terra, a aristocracia vibrava no vale pela sua condição do poder econômico a cidade era mais um tipo de favela e o povo do pátio do mercado ficava a admirar o vale olhando o casarão do museu tantas luzes, tantos faróis e tantas acesas, que ali ficavam admirando, é a negra Raimunda que em 1877 na grande seca, vinda do sertão, com os filhos morrendo, doou os filhos todos. Dr. Barroca mandou ela ser, na Inglaterra, a cozinheira dos seus filhos. Raimunda fez história, Nilo Pereira a chamava Vitoriana por que ela viu a Rainha Vitória passar numa esquina. Voltando a Ceará-Mirim ensinou inglês a Nilo Pereira e Edgar Barbosa. Raimunda uma história bonita do Verde-Nasce.
Quanto tempo se passou, tanta história que eu havia assistido nesse tempo de vida, eu gosto tanto desta terra, que eu não bebo, não farreio, mas sou um boêmio das noites, perambulo por essas ruas no sereno da madrugada, vendo minha cidade dormir, às vezes, acordo cedo para ver o Ceará-Mirim despertando, isso para mim é uma satisfação, é uma vida, é uma vivência (...).
A maior festa social do Ceará-Mirim, que para mim é feira, 52 dias do ano, onde se encontra o povo do leste e do oeste, discutindo ferro de gado, gado sumido. Andar na feira de camarão, onde tem caldo de cana, tem galinha comum, galinha pé seco, e ninguém pede pra entrar nem pra sair e, lá, se discute de tudo. Eu sou um freqüentador assíduo, sem nada ter com a feira, eu entro e saio, entro e saio o dia todo, vocês me desculpem a extensão do meu discurso, das minhas palavras, é a emotividade, obrigado.

Nota do blog: Próxima semana iniciarei as gravações para registro de memória do confrade Franklin Marinho. Serão muitas fitas, histórias e causos.