sábado, 11 de fevereiro de 2023

À AMIGA QUE PARTIU - MESTRA APOLÔNIA SALUSTINO DO NASCIMENTO


Há alguns anos, que já vai longe e não lembro exatamente quando, o amigo querido Cícero Militão, trabalhando na Emater de Ceará-Mirim, em suas andanças, localizou Dona Apolonia na comunidade de Matas, aqui em Ceará-Mirim. Sabendo de meu interesse pela cultura popular, o querido macaibense raiz, logo me relatou sobre a importância da Romanceira, que era irmã da famosa Romanceira Dona Militana, do Oiteiro, em São Gonçalo do Amarante. Já conhecia Dona Militana através de alguns encontros culturais com os amigos Gláucio Pedro Breu, de São Gonçalo do Amarante e o querido irmão Conde Mucio Vicente, que me apresentou ao universo cultural são-gonçalense, e, por último, muito tempo depois desses encontros, a querida,  inesquecível e saudosa amiga Sephora Bezerra, ícone da cultura de São Gonçalo e amiga de muitas viagens e companhias junto ao Pastoril Dona Joaquina e ao, inoxidável e maravilhoso palhaço Xapuleta, o também querido amigo, Aléx Ivanovic. Tivemos momentos que nunca irei esquecer.

Quando o amigo Cícero Militão me falou sobre Dona Apolônia, imediatamente, procurei saber onde a mestra morava através do querido amigo de muitas viagens culturais, Mestre Luis Chico do Boi de Reis de Matas. O mestre providenciou nosso encontro e pela primeira vez tive a felicidade de conhecer Dona Apolônia, mulher simples, com aquele jeitinho tímido, se escondendo atrás de sua figura humilde, introspectiva, ela não tinha ideia da importância de sua sabedoria para a cultura popular do Rio Grande do Norte e do Brasil. A partir daquele dia, tive alguns encontros com a mestra, muitos deles, com alunos das escolas onde trabalhava, procurava torna-la conhecida pela sua importância na preservação de nossas tradições populares e de nossas memórias, tão esquecidas e discriminadas pelas novas gerações, principalmente onde os grandes mestres de cultura popular vivem, sem que sejam reconhecidos pelo que eles representam para a cultura e história de seu lugar.

A mestra Apolônia se encantou no dia 04 de fevereiro de 2023. Eu estava em Caruaru/PE, comemorava, com minha companheira, os 31 anos de casamento, uma vida vivida, enquanto outra, tão significativa, se encantava. É o destino! É o caminho que teremos que percorrer, queiramos ou não, é nossa maior certeza. A mestra se encantara, mas, estávamos aqui, para, pela memória, tentar preservá-la viva em suas rezas, em seus romances, e, pelo seu encantamento, em suas “incelências”, para que seu caminho, para o outro lado, seja eterno e acompanhado pelo senhor São Benedito e São Miguel Arcanjo, em suas 12 “incelências”: “Uma incelência pro senhor São Benedito, ele chorava, ele dizia, ele se lastimava e as estrelas clareava! ou a incelencia de São Miguel Arcanjo: Oh! alma bendita por quem estás esperando, por uma incelencia que está se rezando. Os anjos cantando, os sinos tocando e São Miguel Arcanjo as almas pesando.

A mestra Apolônia Salustino do Nascimento nasceu no dia 15 de setembro de 1931, no lugar conhecido por Oiteiro em São Gonçalo do Amarante. Seus pais eram Atanásio Salustino do Nascimento e Maria  Militana do Nascimento. Quando criança ela ajudava os pais na roça e na coleta de palhas de carnaúba para a confecção de artesanato. Seus pais eram agricultores e Atanásio Salustino foi mestre em folguedos populares, brincante de Congos, Fandangos, Boi de Reis, Pastoril, Lapinha, Coco de Rodas e gostava também de cantoria através de romances medievais, introduzidos no Brasil pelos colonizadores. Foi nesse ambiente que a Mestra Apolônia aprendeu e lapidou sua sabedoria, era excelente rezadeira e cantava, de memória, os romances e “incelências”, que ouvia nas cantorias de seu Atanásio e na casa de uma tia onde assistia muitas noites de cantoria. Escutava com muita atenção "Dom Jorge eu ouvi dizer que tu tavas pra casar. É verdade, Juliana, eu vim te desenganar. Esperai, Rei Dom Jorge, que eu vou lá no meu reinado, vou ver um copo de vinho que eu pra ti tenho guardado". Ela não sabia, mas as canções que ouvia de seu pai e guardava na memória eram romances ibéricos, histórias de conquistas que eram contadas e cantadas na era medieval. Herança trazida para o Brasil nas caravelas pelos colonizadores europeus.

Em 1952, quando coletava palha de carnaúba conheceu e enamorou-se por Chico Tomaz, um amigo da família que estava viúvo e o mesmo se apaixonou à primeira vista resolvendo pedi-la em casamento. Para surpresa dos familiares, mesmo sendo pedida em casamento, Apolônia não aceitou, mas fugiu com o namorado Chico Tomaz que era de Taipú. O casal foi morar em Extremos onde o companheiro trabalhava em uma fazenda. Alguns anos depois, a fazenda foi vendida, e o casal mudou-se para a comunidade de Matas, em Ceará-Mirim, no ano de 1966. Do relacionamento com Chico Tomaz nasceram 14 filhos.

A mestra Apolônia proporcionou muitas alegrias quando visitava sua casa e, embaixo de uma enorme mangueira, proseávamos e ela cantava alguns romances e “incelencias” que ia garimpar no mais profundo recanto de sua memória. Daqueles encontros, muitos registrados em vídeos e fotografias, tivemos a oportunidade de registrá-la no livro “Ceará-Mirim conhecer para preservar” produzido por alunos da Escola Estadual Otto de Brito Guerra e publicado através de nosso projeto pelo Mais cultura nas escolas.

Meu último encontro com Dona Apolônia foi em dezembro de 2021 quando fui à comunidade para presenteá-la com uma camisa de Nossa Senhora da Conceição de quem era devota. Ficará na minha memória todos os momentos que pudemos estar juntos, ouvindo suas canções, os romances, as “incelencias” e as rezas. Quando sentir saudade, recorrerei as gravações que fizemos, mas, o som de sua voz, o seu jeitinho de falar, ficarão registrados em minha lembrança!!

Nossos mestres de cultura popular estão desaparecendo sem deixar substitutos. Muitos se encantaram, entre eles, Mestre Déo, Mestre Tião Oleiro, Mestre Zé Baracho, Mestre Belchior, Mestre Luiz de Julia e tantos outros heróis que por muito tempo lutaram para manter seus brinquedos vivos. Atualmente restam poucos desta rara linhagem cultural, como mestre Luiz Chico, mestra Maria do Carmo, mestre Zé Rodrigues, todos acima de oitenta anos e mestre Severino Roberto, mais novo que os anteriores, mas que continua com o grupo Cabocolinhos lutando e resistindo a todas as dificuldades.

domingo, 29 de janeiro de 2023

ENGENHO UMBURANAS

GALERIA HISTÓRICA

Engenho Umburanas

Texto: Professor Gerinaldo Moura

Casa Grande do Engenho Umburanas - 2009 - Foto: Gibson Machado

O Engenho Umburanas (ou Imburanas como costumeiramente várias pessoas pronunciam), foi construído em um local bastante privilegiado, de onde se tem uma esplêndida visão da cidade de Ceará-Mirim, à esquerda da rodovia RN-160, em direção ao Baixo Vale e às praias de Muriú, Jacumã e Porto Mirim.

A propriedade está fora da área margeada pelo rio Ceará-Mirim, em um local que se assemelha a um tabuleiro. O engenho foi fundado pelo Padre Antônio Antunes de Oliveira, provavelmente no início do século XIX, pois, segundo Dr. Júlio Senna, por volta de 1866 já estava funcionando a todo vapor:

Padre Antonio Antunes de Oliveira

“Em 1866, o vale do Ceará Mirim produziu uma grande safra de 287.000 sacos de 60 quilos de açúcar bruto, sedo considerada a maior safra de todos os tempos, somando-se ainda os 210.000 sacos de 82 quilos, cuja notícia foi publicada pelo jornalista Elói de Souza, pelo historiador Tavares de lira e por F. Silva no Jornal A República de 1926 e em 1938”.(Senna, Júlio. Ceará-Mirim exemplo nacional vol.II, página 157. Ed. Pongetti. Rio de Janeiro 1972)

O Engenho Umburanas era considerado de grande porte e estava voltado não só à produção de açúcar bruto, mas também à produção de aguardente. De conformidade com registros existentes no Instituto do Açúcar e do Álcool, após o ano de 1935, o Engenho Umburanas produziu apenas 3.000 sacos de 60 kg de açúcar por ano enquanto que a aguardente produzida até 1925, teve um rendimento de 10.320 litros por ano.

Pesquisas assinalam que foi o Umburanas o primeiro engenho do Ceará-Mirim a utilizar turbinas e caldeiras à vácuo. Nos dias atuais, infelizmente, não existe nada que identifique o prédio ou o local onde funcionou o antigo engenho. Por esse motivo estima-se que a sua produção não tenha ultrapassado a primeira metade do século XX devido ao surgimento das usinas, quando então, quase todos os engenhos foram se transformando em fornecedores de cana, isso quando as propriedades não eram vendidas aos usineiros.

Segundo o historiador Tavares de Lira, entre os anos de 1911 a 1950, existiam apenas três engenhos movidos a vapor e com turbinas. Eram eles: Umburanas, São Francisco e Ilha Bela. O Umburanas também possuía uma boa destilaria que produzia aguardente bastante apreciada pela qualidade.

A casa-grande do Engenho Umburanas encontra-se preservada, não tendo sofrido intervenções que prejudicassem sua arquitetura original. O seu estilo arquitetônico foge aos demais padrões das construções existentes no vale do Ceará-Mirim assemelhando-se ao estilo inglês da era Vitoriana.

A explicação para esse detalhe, está relacionado ao fato de que o engenho era possuidor de um moderno maquinário importado da Inglaterra os técnicos responsáveis pela montagem e manutenção do mesmo vinha daquele país.

O Engenho Umburanas ao que se sabe, foi o único que manteve por um longo período, um técnico inglês em trabalho permanente no local, e que atendia também aos demais senhores dos engenhos da região que investiam em maquinaria inglesa.

Durante algum tempo, a casa grande serviu de retiro espiritual para os padres jesuítas de então. do lado esquerdo da casa-grande existia uma pequena capela, onde o Padre Antunes celebrava Missa apenas uma vez por ano. Geralmente no Natal e a outra Missa ele celebrava no Engenho Diamante da Família Meira. O que resta do conjunto rural do antigo engenho Umburanas é composto apenas por sua casa grande e sua antiga capela, passou a ser  utilizada como depósito.

A professora aposentada, dona  Maria Soledade Azevedo, antiga moradora do Engenho Umburanas e que era também responsável pelo barracão do engenho, deu a seguinte declaração:

“Quando o Umburanas pertencia à família Varela, dona Antonieta Varela e seu esposo, o senador Luiz Lopes Varela, hospedavam todos os anos, vários padres que vinham fazer missão em Ceará-Mirim e todo o vale. Outra recordação de dona Soledade Azevedo é referente ao catecismo que ela passou a ministrar depois de aprender com os missionários, os quais sempre acompanhava em suas pregações. Quando o senhor Rafael Fernandes Sobral se casou com a senhora Lucy Varella, foram morar em Umburanas, sendo ele o novo administrador. Por conta deste fato, Maria Soledade foi trabalhar no barracão da Usina São Francisco, permanecendo por lá entre os anos de 1950 a 1951.

Vendo a dedicação que ela tinha às crianças e jovens daquelas terras, dedicando-se a lecionar nas horas vagas, dona Lucy Varella organizou na casa-grande do Engenho Umburanas a sala de aula para abrigar o grande número de crianças que existia nos arredores necessitando aprender a ler e a escrever, abrindo vagas para a criançada da Usina São Francisco, dos engenhos Diamante, Jericó, Cruzeiro e da comunidade do Gravatá. Dona Soledade Azevedo lecionava nos três turnos, ficando o noturno para atender aos mais velhos”.(Maria Soledade Azevedo Silva, entrevista publicada no face book “Ceará-Mirim Vale de Cultura 2020- Editorial Figura do verde Vale)

A casa-grande do Engenho Umburanas permanece altaneira e majestosa do alto de uma pequena elevação, contemplando o vale e seus momentos de prosperidade e decadência da riqueza canavieira.

Durante vários anos a casa-grande abrigou funcionários da Usina São Francisco, como por exemplo o senhor Clécio Santos, sua esposa dona Zélia Santos e seus filhos, bem como o casal Francisco Flávio da Silva e a professora Ana Teresa Ramalho Praxedes da Silva, que repetiu a mesma trajetória de Rafael Sobral/Lucy Varela, quando foram residir no Umburanas após terem se unido em matrimônio, dentre outros. No entorno da casa-grande existem algumas residências que foram construídas para abrigar moradores que trabalhavam na Usina São Francisco/Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim.

Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100047608250923


ENGENHO VERDE NASCE

 GALERIA HISTÓRICA

Engenho Verde Nasce

Texto: Professor Gerinaldo Moura

Engenho Verde Nasce - 2010 - Foto Gibson Machado

O Engenho Verde Nasce foi um dos primeiros engenhos fundados no vale do Ceará-Mirim, tendo como fundador o Dr. Victor José de Castro Barroca, ainda na primeira metade do século XIX, pois se tem registros de que entre os anos de 1845/1846, ele estava em pleno funcionamento e ainda hoje conserva parte de seu maquinário original.

Dr. Victor José Barroca era um homem culto, nasceu no dia 15 (quinze) de junho de 1820 e em 1844 se tornava Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Olinda (PE), sendo nomeado para o cargo de Juiz Municipal de Ceará-Mirim além de ter sido eleito Deputado Provincial na legislatura de 1846 a 1851, tendo falecido em Ceará-Mirim no dia 29 9vinte e nove) de outubro de 1881, aos 61 (sessenta e um) anos de idade.

Seus filhos foram encaminhados para estudar na Europa, principalmente na França e Inglaterra, como era costume na época, com um diferencial de que a maioria dos senhores de engenho direcionava seus filhos para Portugal e França, pois esse era um costume dos aristocratas do Brasil colônia e Império.

Várias peculiaridades marcaram a história desse engenho, desde o início. Uma delas se refere à casa-grande, que foi tombada pela Prefeitura de Ceará-Mirim em 22 (vinte e dois) de dezembro 1989, e hoje só existe o local sem nenhuma identificação em termos de placas indicativas, apenas parte do alicerce ainda está à mostra indicando o local da moradia.

Casa Grande do Engenho Verde Nasce - demolida

Era uma casa-grande sem a beleza, a grandeza e o fausto de outras residências da região como as casas dos engenhos Cruzeiro, Umburanas e Guaporé por exemplo, seus vizinhos, mas ela teve um grande valor histórico, social, político e econômico para Ceará-Mirim e o Rio Grande do Norte.

Na casa-grande do Verde Nasce, nasceu o escritor Nilo Pereira. Ela também foi local de grandes reuniões políticas onde o Dr. Victor Barroca recebia seus amigos e políticos como o Deputado Tarquínio Bráulio de Souza Amarantho. Foi dali que saíram grandes decisões com relação à debelar a crise que se abatera sobre a cultura canavieira do vale.

Era uma casa simples, sem requintes nem ornatos que embelezavam as demais casas de engenho da região, porém, era aconchegante e ventilada, pois tinha alpendres avarandados que a protegiam do calor do sol, com uma porta principal e seis janelas.

Nessa-casa grande também viveu a inglesa de religião protestante a anglicana Emma Barroca, casada com Marcelo Olympio de Oliveira Barroca, que era o filho mais velho. Emma Barroca faleceu ainda muito jovem aos 27 (vinte e sete) anos, prematuramente e não foi sepultada no cemitério da cidade, pois, o mesmo havia sido construído pela Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento, destinado apenas aos sepultamentos católicos, tendo em vista a ausência de cemitério público.

E também pelo fato de na época não existirem pessoas que propagassem outro credo religioso, e a cultura ser outra, ela não foi sepultada no hoje Cemitério Santa Águeda, fazendo com que seu esposo a sepultasse em uma pequena colina existente na propriedade, mandando construir um túmulo para sua amada. O mesmo encontra-se em ruínas e tomado pelo mato em seu entorno. Nesse local eles costumavam contemplar o pôr-do-sol.

O Engenho Verde Nasce continuou de fogo aceso durante todo o século XX, enfrentando crises cíclicas que se abatiam sobre a economia açucareira, passando períodos parados e outros funcionando. .A produção do Verde Nasce resumia-se basicamente ao açúcar mascavo e ao mel, conhecido como o melhor da região.

​A particularidade referente ao engenho, está na presença de uma cerca de ferro fundido trazida da Inglaterra e que foi erguida no ano de 1853, que dividia uma parte da propriedade, com um portão de ferro com acesso peculiar, que impedia a passagem de animais e marcava em nosso vale, a presença da Revolução Industrial, além das máquinas a vapor trazidas da cidade de Liverpol.

Túmulo de Emma Campbell - 2012 - Foto Gibson Machado

O engenho possuía também a casa de purgar, onde ficava o açúcar mascavo em grandes tachos de madeira escorrendo o mel, que recebia o nome de “mel de furo”, a balança de pesagem e o secador, onde o açúcar era espalhado ao sol antes de ser ensacado para e destinado à comercialização. O Verde Nasce era também fabricante de aguardente, chegando a possuir um bom alambique, bem aparelhado.

​O Engenho Verde Nasce ficou sob o comando administrativo da senhora Maria Amélia de Oliveira Barroca no período de 1835 a 1900, quando o mesmo foi vendido ao Coronel da Guarda Nacional Felismino Noronha do Rêgo Dantas, líder político e proprietário de outros engenhos como o Engenho União e o Engenho Guarani e após sua morte, o Verde Nasce foi passando para seus herdeiros de dona Maria Amélia Pacheco Dantas e depois ao Deputado Estadual Herbert Washington Dantas- (Betinho, in memoriam), que o administrou até o ano de 1991 seus filhos.

Amelia Barroca - 1879

​Segundo Senna 1972), no ano de 1935 o Engenho Verde Nasce já pertencia ao Coronel Felismino Dantas e produzira uma cota de 2000 sacos de açúcar mascavo de 60 quilos. O Verde Nasce era registrado no IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool sob o número 1361. No ano seguinte, ele conseguiu aumentar sua produção para 3000 sacos de 60 quilos. Só em 1940 é que os herdeiros do Coronel Felismino Dantas passaram a gerenciar o engenho.

​O conjunto arquitetônico do Verde Nasce, mesmo incrustado na zona rural, sempre teve uma importância e uma vinculação muito forte com a cidade do Ceará-Mirim, pois as suas atividades econômica, política e cultural, o transformaram num núcleo ativo e participante da vida urbana ceará-mirinense.

Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100047608250923


ENGENHO MUCURIPE

 GALERIA HISTÓRICA

ENGENHO MUCURIPE

Texto: Professor Gerinaldo Moura

Foto: acervo Gibson Machado

Antigo Engenho Mucuripe - 1947 - acervo Gibson Machado

O Engenho Mucuripe tornou-se um dos mais conhecidos tanto no vale do Ceará-Mirim como em toda região, seja pelos produtos que nele eram fabricados como a rapadura, como pelo zelo administrativo que o seu proprietário o senhor Ruy Antunes Pereira dispensava à bela propriedade.

Segundo o historiador Nestor dos Santos Lima, o Engenho Mucuripe foi formado a partir da junção das terras dos engenhos Cumbe, Oiteiro e Alagoa. E em relação à sua fundação propriamente dita, pode-se constatar que o mesmo teve como fundador o Major Anthero Leopoldo Raposo da Câmara, em meados do século XIX.

Outro fato que faz parte da história do Mucuripe, segundo o empresário Ruy Pereira Júnior, é que o referido engenho foi adquirido pela família Antunes no início do século XX e a mesma só chegou para morar na casa grande do engenho, no ano de 1915, e a residência ficava em terras do antigo Engenho Cumbe, que precisou ser totalmente reformada, dando lugar a uma bela mansão que tornou-se conhecida como a casa-grande do Mucuripe.

Engenho Mucuripe - Acervo Gibson Machado

Em meados da década de 1930, Ruy Antunes Pereira que já havia feito a fusão das três propriedades, criando um novo engenho, denominando-o de “Mucuripe”, no local onde antes se situava o engenho Alagoa.

O escritor Senna (1972) afirma em seu livro Ceará-Mirim Exemplo Nacional, que na safra entre os anos de 1935 e 1936, a produção de açúcar bruto do engenho Mucuripe correspondia a 1900 sacos de 60 Kg.

O senhor Ruy Antunes Pereira reestruturou o engenho, e nele criou suas próprias raízes de afetividade, quando o chamava de “meu mundo encantado”, dotando-o de máquinas mais modernas para que pudesse ter uma maior produtividade, não se descuidando da importância em preservar o maquinário antigo fazendo uma constante manutenção, proporcionando ao mesmo uma vida útil mais longa.

Engenho Mucuripe - 2012 - Foto Gibson Machado

Foi através de vários investimentos na plantação da cana e na produção do açúcar mascavo, rapadura, mel e aguardente que houve um aumento na escala de industrialização crescente, principalmente quando a grande produção açucareira das usinas modernamente industrializadas fez diminuir a produção dos pequenos engenhos transformando-os em meros fornecedores de cana.

A casa grande do engenho Cumbe, passou a ser utilizada pelo proprietário em 1945; não existem registros da casa grande original deste engenho, assim como do antigo engenho, chamado Alagoa. A referida casa grande, encontra-se localizada a alguns metros do prédio do engenho e não guarda nenhuma semelhança com as casas grandes dos antigos engenhos.

A mesma passou por inúmeras transformações à medida em que a modernização do engenho se fazia necessária. Dos primeiros tempos de sua fundação, conserva apenas as dimensões e os alpendres que emolduram sua fachada, numa arquitetura moderna.

Em 1975, o Engenho Mucuripe passou por uma reforma que modificou toda a sua estrutura incluindo o maquinário. Atualmente, as dependências do engenho consistem em casa de purgar, um salão no qual fica a moenda, a caldeira, os tachos de mel, um depósito, um escritório, uma guarita e a destilaria desativada desde 1960. O engenho sofreu sucessivas intervenções, sendo completamente descaracterizado.

O Engenho Mucuripe assemelhava-se a uma pequena cidade, tendo de tudo um pouco. Existia cinema e campo de futebol (ainda hoje é utilizado para as partidas de finais de semana), tinha alto falantes, conhecidos como difusoras, que alegrava os moradores com músicas e que eram usados para dar notícias.

No ano de 1935 a 1975, toda a administração era do senhor Ruy Antunes Pereira, que no aniversário de seu primogênito Ruy Pereira Júnior passou o engenho para que ele pudesse ser seu sucessor, e administrou o engenho até 1986, quando transferiu a administração da propriedade para seus herdeiros.

Existiam várias edificações, onde residiam as famílias dos trabalhadores e hoje, grande parte está completamente em ruínas, deixando a mostra suas paredes de tijolos duplos, no que deixa transparecer toda a sua imponência de épocas passadas.

No ano de 1995, faleceu o senhor Ruy Antunes Pereira. Suas cinzas foram enterradas sob uma palmeira imperial, local onde posteriormente foi edificado o seu Mausoléu. A cerimônia fúnebre teve início no Solar Antunes, sede da Prefeitura de Ceará-Mirim, onde a Prefeita Therezinha Mello prestou uma justa homenagem ao grande empreendedor e pai do seu vice-prefeito Ruy Pereira Júnior. Em seguida, o cortejo se dirigiu ao Mucuripe.

Atualmente, o Engenho Mucuripe encontra-se desativado, sendo um dos últimos a lutar bravamente para não perecer diante da derrocada de tantos outros engenhos do Verde Vale que foram se acabando lentamente, até que não conseguiu sobreviver às sucessivas crises do setor agrícola e canavieiro, vindo a sucumbir como os demais, fazendo parte de nossa galeria histórica.


Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100047608250923


ENGENHO SÃO FRANCISCO

 GALERIA HISTÓRICA

Engenho São Francisco
(De Usina São Francisco à Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim)
Texto: Gerinaldo Moura da Silva
Foto: Acervo de Gibson Machado
Usina São Francisco nos anos 1960 - Administradores e colaboradores da usina.
.Ceará-Mirim é um dos poucos municípios potiguares que mais possuiu engenhos. Em sua trajetória econômica do Império para a República, tivemos São José de Mipibu, Goianinha, Arêz, Macaíba e São Gonçalo do Amarante, como os que mais destacaram na produção açucareira. São fatos e histórias bastante parecidas que vão se perdendo ou se perpetuando em cada local, conforme a importância cultural que tenham, ou ainda o sentimento de preservação de tão belo patrimônio.
O Ceará-Mirim caminha para o desaparecimento de seu patrimônio arquitetônico na zona rural bem como na cidade. São prédios em ruínas, outros descaracterizados pelas reformas feitas por seus proprietários e uma boa parte totalmente desaparecida, no que tange aos engenhos localizados no vale do Rio Ceará-Mirim.
Ceará-Mirim possuiu dezenas de engenhos e engenhocas e quatro usinas a saber: Guanabara, Ilha Bela, São Francisco e Santa Tereza. E como foi dito no poema Paisagem ceará-mirinense da poetisa Maria Xandu, nome pelo qual ficou conhecida a professora Maria da Conceição Araújo Silva, também apelidada de Maria de Auta, em referência à sua genitora, que era professora de piano, dona Auta Simas. Na época em que o escreveu, ainda restava a Usina São Francisco funcionando. Vejamos:
“...Das usinas de açúcar
Uma viva, a trabalhar
Porém as duas extintas
Deixam sombras no lugar
No marco de suas lembranças
Há muito que se guardar
Seus engenhos e mucamas
De sinhazinha a sonhar
Dos apitos das moendas
Como é doce recordar,
Celebrando o seu horário
Chama a turma a trabalhar
Lá vai ele nosso herói
Bem sutil não faz alarde
Bóia fria, pé no chão
Gramando o verde vale.
A foice é sua arma
Com ela defende o dia
Volta feliz para casa
Traz cana para a família…”
O Engenho São Francisco foi fundado pelo senhor de engenho Manoel Varela do Nascimento, na segunda metade do século XIX, cuja data de 1857 se encontra inscrita no frontão principal do famoso “Palacete do Barão”, sendo uma bela residência senhorial.
No início de sua carreira, o futuro Barão de Ceará-Mirim vivia como um pequeno plantador de cana, possuindo na época, uma engenhoca movida a bestas (animal), sendo ele um dos primeiros proprietários de engenho da região a usar moendas de ferro horizontal, acompanhando os senhores dos engenhos Carnaubal e Umburanas, por exemplo e foi o pioneiro na plantação de cana caiana em todo o vale.
Segundo o historiador Nestor dos Santos Lima, após a fundação do Engenho São Francisco, pelo Barão de Ceará-Mirim em terras que pertenciam à antiga propriedade indígena Ilha dos Cavalos, um de seus filhos, Alexandre Varela, conhecido como Xandu, modificou o engenho preparando-o para se tornar usina. Depois foi a vez do velho São Francisco receber cuidados especiais do Dr. Manoel de Gouveia Varela.
O Engenho São Francisco passou à condição de usina, tendo a capacidade para produzir até 30.000,00 de açúcar cristal e depois de alguns anos, passou a fabricar também o álcool (etanol) para veículos, programa lançado pelo Governo Federal, numa tentativa de baratear os preços dos combustíveis, sendo uma alternativa limpa para os automóveis de nosso Estado.
Cemitério e Capela da Usina São Francisco - 1998 - Gibson Machado
O Engenho São Francisco foi construído de acordo com os padrões da época, que tinha a casa-grande, o engenho (fabricação) e capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, mas, até hoje muitos acham que seu padroeiro é São Francisco, devido talvez ao nome dado à propriedade e assim, todas as construções juntas formam um belo conjunto arquitetônico. No entorno do pequeno templo existe um cemitério onde repousam os restos mortais do Barão e da Baronesa de Ceará-Mirim, bem como de alguns de seus descendentes.
Com a morte do seu fundador, o Engenho São Francisco ficou de herança para o senhor Carlos Varela do Nascimento e também à viúva e filhos do Dr. Manoel de Gouveia varela. Dentre os herdeiros destacou-se o empresário Luiz Lopes Varela, casado com a senhora Maria Antonieta Pereira Varela, filha da escritora Madalena Antunes e senhor Olímpio Pereira, que conduziu a administração da agora Usina São Francisco e teve como sucessor direto, o Dr. Roberto Pereira Varela.
Luiz Lopes Varela chegou a assumir o cargo de Senador da República e também administrou o Ceará-Mirim, tendo sido nomeado Prefeito de Ceará-Mirim em 1935 e seu filho Roberto Varela, além de ter sido prefeito por três mandatos, chegou à Assembleia Legislativa eleito Deputado Estadual e durante um período assumiu o Governo do Estado em substituição ao Governador Aluízio Alves.
Esses referências nos mostram que praticamente todos os administradores de Ceará-Mirim estiveram ligados à aristocracia canavieira, quer fossem oriundos de famílias possuidoras de engenhos ou de usinas, ou ligadas às mesmas, como aconteceu com alguns comerciantes abastados.
O Engenho São Francisco se localiza ao Leste da cidade de Ceará-Mirim e possui uma das melhores terras de todo o vale, sendo a propriedade cortada pelo Rio Ceará-Mirim e outros afluentes e olheiros que o tornam perene. No ano de 1911, o São Francisco e os engenhos Umburanas e Ilha Bela, já possuíam turbinas, o que chamou a atenção do Dr. Tavares de Lira, que cita em seu livro (pag.290).
Segundo o Dr. Júlio Gomes de Senna (Pag.159) em seu livro Ceará-Mirim exemplo nacional, o Engenho São Francisco passou a funcionar como Usina a partir do ano de 1930 e por essa época, o município contava com mais duas usinas: Guanabara e Ilha Bela. Nos seus últimos dias como engenho ele produziu 1500 sacos de açúcar e seu administrador era o senhor José Lopes Varela, cada saco com 60 (sessenta) quilos de açúcar estava registrado no Instituto do Açúcar e do Álcool sob o número 1353, isso, segundo Senna, nas safras de 1935/1936, devido a uma grande crise no setor açucareiro. (Senna pág. 159).
Casa Grande do engenho São Francisco - Foto: Gibson Machado - 2013
O sobrado da usina era um dos locais mais procurados pela elite local e de Natal para participarem de suas festas grandiosas, conforme cita o historiador Nestor Lima na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, referente ao capítulo da História de Ceará-Mirim. Ele ainda diz que “...cujas festas faziam o encanto da sociedade não só do Ceará-Mirim, mas igualmente da capital, que não tinha similares...”
Quando a Usina São Francisco passou a ser administrada pelo empresário Dr. Geraldo Melo, que foi vice-governador, Governador do Rio Grande do Norte e Senador da República, a casa-grande sofreu algumas alterações internas para poder abrigar o escritório da Usina. Segundo a arquiteta Jeanne Nesi “... sofreu pequenas modificações para adaptá-lo ao novo uso...”, depois, uma nova construção foi erguida ao lado do sobrado para abrigar parte dos funcionários e gerência administrativa.
Foi sob o comando do Dr. Geraldo Melo que a Usina São Francisco passou a ser Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim. Implantou um consultório com médicos e dentistas para atender aos trabalhadores da Usina e seus familiares, mas acabava atendendo também algumas pessoas da comunidade que procuravam os serviços médicos.
Dentre os profissionais de saúde que atendiam na Usina São Francisco, dois deles passaram pela política, que foram: Dr. Orione Barreto, eleito prefeito, mas que não concluiu o mandato falecendo ainda enquanto estava no cargo e o Dr. Pedro Melo que se elegeu Deputado Estadual, tendo sido antes Secretário de Estado da Saúde.
Assim como dos engenhos diversos, da usina saíram vários políticos como Dr. Manoel de Gouveia Varela (Intendente), Dr. Luiz Lopes Varela (Prefeito e Senador), Dr. Roberto Pereira Varela (Prefeito e Deputado Estadual), Edgard de Gouveia Varela (Prefeito), Dr. Orione Barreto (Prefeito), Therezinha Mello (Prefeita), Dr. Pedro Melo (Secretário de Estado e Deputado Estadual), Edinólia Mello (Prefeita), Dr. Geraldo Melo (Vice-governador, Governador e Senador). Além deles, vários funcionários se elegeram vereadores.
Atualmente a Usina São Francisco, assim como praticamente todos os engenhos do vale estão de fogo morto, deixando inúmeros pais de família sem emprego e transformando o Ceará-Mirim em uma cidade dormitório, e com seu território povoado por fantasmagóricas ruínas que preenchem o que antes eram bueiros e chaminés fumegando a doce fumaça do mel, da rapadura e do açúcar.

Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100047608250923

A BIBLIOTECA DE CEARÁ-MIRIM

 GALERIA HISTÓRICA

Parabéns à Biblioteca Pública Municipal pelos 77 anos de criação
A BIBLIOTECA DO CEARÁ-MIRIM
Texto: Gerinaldo Moura da Silva
Foto: Gibson Machado

O ano de 1945 foi marcado por vários acontecimentos dentro e fora do nosso país. Podemos citar o final da Segunda Guerra Mundial na Europa e no mundo, o fim da ditatura de Getúlio Vargas no Brasil e em Ceará-Mirim foi criada a Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas, pelo então prefeito Ângelo Pessoa Bezerra (in memoriam), no dia 14 (quatorze) de agosto do ano de 1945, através do Decreto- Lei nº 76/45, trazendo o seguinte teor:
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“O PREFEITO MUNICIPAL DE CEARÁ-MIRIM, usando da atribuição que lhe confere o Art. 12, nº I, do Decreto-Lei Federal nº 1.202, de 08 de Abril de 1939 e devidamente autorizado pelo Departamento das Municipalidades e Conselho Administrativo do Estado
D E C R E TA
Art. 1º -É criada a Biblioteca Municipal “Dr. José Pacheco Dantas”, a qual funcionará em um dos salões da Prefeitura.
Art.2º- As despesas com a instalação e manutenção da Biblioteca correrão pela verba Educação Pública- Código 8 34 4 – Despesas com a Biblioteca Municipal – da lei orçamentária vigente.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim, em 14 de agosto de 1945.
Ângelo Pessoa Bezerra – Prefeito
Floriano Ferreira da Silva – Secretário
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Conforme disposto no Decreto-Lei nº76, a Biblioteca Pública Municipal iniciou suas atividades dentro do prédio da antiga Intendência Municipal, que abrigava ainda o gabinete do Prefeito, as secretarias do município e a Câmara de Vereadores. O responsável pela organização inicial do acervo, foi o senhor Rafael Fernandes Sobral, sendo assim, considerado o primeiro diretor da recém-criada biblioteca em Ceará-Mirim.
Rafael Sobral, ex-vereador, era também um estudioso e pesquisador da história ceará-mirinense, tendo coletado bastante material para ser publicado como contribuição à História do Ceará-Mirim.
Ao assumir a administração municipal o prefeito Dr. Murilo Barros nomeou a professora Drª Lúcia Brandão para o função de Representante do Instituto Nacional do Livro em Ceará-Mirim e que acumulou com o cargo de Diretora da Biblioteca Municipal, fazendo um brilhante trabalho de renovação do acervo, havendo inclusive, realizado a mudança da Biblioteca para um prédio localizado Rua Boa Ventura de Sá, vizinho ao antigo Armazém Guanabara desocupando a sala da Intendência Municipal.
Com a nomeação do senhor Rafael Sobral para a Secretaria Municipal de educação e da Drª Lúcia Brandão nomeada para a função de professora na UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi nomeada interinamente para o cargo de diretora da Biblioteca a professora Luiza Margarida Mendes de Abreu, que passou o cargo para a senhorita Lêda Maria Dantas Câmara que muito primou pela conservação do acervo e pelo bom atendimento ao público, permanecendo no cargo por um período de quatorze anos. Foi durante a sua gestão que a biblioteca recebeu o título de Biblioteca Modelo do Rio Grande do Norte, outorgado pela Fundação José Augusto.
Para substituir Lêda Câmara, foi nomeada a professora Vanusa Moreira, pelo saudoso prefeito Dr. Orione Cavalcanti Barreto, e para lhe substituir, foi convidado o professor Gerinaldo Moura da Silva, em 1990, que permaneceu no cargo por 08 (oito) anos, sendo substituído pela professora Maria Iolete Lacerda.
A Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas, viveu um período obscuro durante algumas administrações municipais, chegando mesmo a fechar por um período equivalente a uma década, contando com o tempo que fechou para passar por uma reforma no governo da Prefeita Edinólia Mello. Nesse período, o acervo e todos os funcionários ficaram em outro local, na Avenida Enéas Cavalcanti, esquina com a Rua Vereador Fernandes Sobral.
Durante as administrações dos prefeitos Dr. Murilo Barros, Ruy Pereira Júnior, (que comprou o prédio com verba enviada pelo Dr. Yolando da Cunha Pacheco Dantas, onde hoje está a Biblioteca na Rua Heráclio Villar, bairro Santa Águeda, inaugurando a nova sede em 1977, há 45(quarenta e cinco anos), Edgar de Gouveia Varela, Dr. Roberto Pereira Varella, Orione Barreto, Jorge Câmara Cavalcanti e Silva (Jorginho Câmara) e dona Therezinha Mello, era destinado um montante de 10 (dez) salários mínimos para compra de livros novos renovando o acervo.
Foi ainda na gestão da Prefeita Therezinha Mello que a Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas tomou um rumo diferente do que se tinha sobre bibliotecas:
Vários projetos culturais foram criados como oficinas de leitura para professores e funcionários de bibliotecas escolares;
Cursos de desenho, contando com o apoio da Fundação José Augusto;
Criação do Projeto “A Biblioteca nas Escolas”;
Renovação e exposição do acervo bibliográfico através da compra e da doação de livros pela comunidade;
Realização do Projeto “Fique por Dentro” - através de palestras nas escolas e na própria Biblioteca;
Criação do Prêmio Literário de Poesias “Poetisa Adelle de Oliveira”;
Criação do Projeto “Valores da terra”, cujo objetivo era divulgar e projetar os artistas cearamirinenses;
Realização da I Noite Cultural em parceria com o Centro Esportivo e Cultural;
Implementação do Projeto “O Escritor na Cidade” em parceria com a AJEB- Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil.
A Prefeita Therezinha Mello criou a primeira Escola de Artes do interior do Rio Grande do Norte; a “Escola de Artes José Lemos de Oliveira”;
Inaugurou as seguintes bibliotecas:
“Biblioteca Pedagógica Professor Fernando Agostinho Barros”, que funcionava na Secretaria Municipal de Educação;
Biblioteca Escolar Francisco Jussier Barreto- na Escola Municipal Dr. Júlio Senna,
Biblioteca Escolar Professora Isabel Poti – na Escola Municipal Mário Pinheiro da Silva.
Grande parte dos projetos culturais capitaneados pela Biblioteca Municipal foram abandonados por alguns gestores, que não tiveram interesse em ampliá-los, modifica-los ou até mesmo substituí-los por outros, mostrando assim a falta de compromisso com a cultura e a arte de nosso povo.
Esse cenário de descaso começou a mudar a partir de 2017, quando assumiu a prefeitura de Ceará-Mirim, o Prefeito Marconi Barretto que passou a investir na cultura.
Inicialmente foi reativado o Prêmio literário “Poetisa Adelle de Oliveira”, além do retorno dos saraus Lítero-musicais, exposições de livros e de obras dos artistas cearamirinenses, revitalização de atividades culturais, lançamentos de livros.
Foi nesse período dos festejos de 74 anos de criação, que a Biblioteca realizou a Primeira FLIQ- Feira de Livros e Quadrinhos, idealizada pelo artista plástico e arte educador Ruy Ferreira de Lima.
Outras atividades foram organizadas e programadas para acontecer como o I Cordelizando, idealizado e coordenado pelo arquiteto e urbanista José Maria Bernardo Bezerra (Zé Maria), o II Cordelizando coordenado pelo artista Múcio Vicente.
Houve a criação da Cordelteca – “Cordelista Sebastião Silvestre” reunindo dezenas de cordéis, concerto didático em parceria com a UFRN, saraus literário e musicais, lançamentos de livros, e para finalizar o V Encontro de Corais marcando o encerramento das atividades culturais de 2019 na Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas.
Ainda como parte das festividades, foi criada a página da Biblioteca e o Projeto de resgate da história nomeado de Figuras do Verde Vale com publicações de biografias e entrega de certificados aos homenageados, bem como aos “Amigos da Biblioteca”.
Parabéns a todos que mantêm viva a chama da cultura, da arte e da literatura na terra dos verdes canaviais, especialmente nesta data de 14 de agosto, quando a Biblioteca Pública Municipal completa seus 77 (setenta e sete) anos de criação.

Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100047608250923

AS MULHERES RENDEIRAS DA PRAIA DE JACUMÃ


A renda de bilro é uma tradição nas praias de Muriu, Jacumã e Porto Mirim que estão localizadas no litoral de Ceará-Mirim. A arte de tecer a renda de bilro tem sido transmitida de geração à geração e, por muitos anos, as rendeiras têm lutado para que a arte não desapareça. Em 2003 havia sete rendeiras produzindo na praia de Jacumã. Atualmente o artesanato está muito difícil de ser encontrado, pois, a maioria das artesãs faleceram e outras, pela difícil comercialização dos produtos confeccionados, deixaram de fabricar as belas peças de renda de bilro. No passado a renda de bilro era parte do sustento das famílias que moravam na praia. Os pescadores saiam para a pesca e suas esposas ficavam em casa para cuidar da família, nesse tempo, passaram, também, a produzir a renda para que ajudasse nas despesas de casa.

É um trabalho feito manualmente com muito amor e dedicação. As mulheres rendeiras sentem prazer em desenhar no papelão, colocá-lo sobre a almofada e, posteriormente, trançar, sobre os desenhos, as linhas com o jogo mágico feitos com os bilros e espinhos de mandacaru.

As peças produzidas são finas e maravilhosamente lindas, dependendo da peça a ser fabricada uma artesã leva até 03 meses para conclui-la e o retorno financeiro muitas vezes não é compensador, eis que a peça mais cara gira em torno de R$ 700,00 e o lucro obtido é rateado entre elas. Uma peça pequena leva em média 06h para ser confeccionada.

Na praia de Jacumã as poucas rendeiras que estão em atividade colocam suas produções para comercializar em um local no restaurante Naf Naf.  

Na confecção das suas peças as artesãs utilizam um papelão grande e quadriculado de modo que não seja preciso limitar o tamanho das peças a serem feitas na almofada que fica sobre um suporte de madeira e que é feita de tecido (geralmente de algodão) e recheada com palha de bananeira. Os bilros são feitos da macaúba e com uma madeira leve, já as linhas são presas no papelão com espinhos de mandacaru.

É emocionante o depoimento da artesã Marta quando diz que ama aquele ofício e fica muito triste porque tem certeza que a renda se acabará em nossas praias uma vez que elas não poderão repassar sua sabedoria às novas gerações. Marta além de confeccionar a renda, cria todos os desenhos... É uma artesã completa. Atualmente está afastada de suas atividades por problemas de saúde.

São poucas mulheres que fabricam renda de bilro na praia de Jacumã. A Associação das Rendeiras de Jacumã não está em atividade e as poucas artesãs que, heroicamente, resistem e tecem manualmente suas rendas, com mãos de fadas, o fazem em suas residências.

A renda de bilro, por ser uma arte transmitida de geração a geração é um patrimônio cultural imaterial, pelo modo de fazer e pela criação dos desenhos e, também, é patrimônio material quando seus desenhos criativos, misturados às linhas, espinhos de mandacaru e bilros são magicamente transformados em lindas peças de labirintos.

As mulheres rendeiras de Ceará-Mirim ficaram conhecidas internacionalmente pelas mãos incríveis do escultor e mestre Etevaldo Santiago. As esculturas produzidas pelo artista espalhou-se por todo o mundo, onde ganhou várias premiações, em diversos concursos que participou. É preciso que as mulheres rendeiras da praia de Jacumã ganhem seu espaço pela luta e arte maravilhosa que produzem. O reconhecimento de sua arte é muito importante para a valorização, fortalecimento e preservação de tão significativo patrimônio deixado pelos ancestrais dessa geração.