Ceará-Mirim, ao longo e sua história, sempre esteve envolvida com assuntos polêmicos que desagradavam a população. A imprensa procurava injetar palavras de estímulos aos concidadãos através de artigos que infamavam o ego e a auto-estima de seus leitores. Assim, garimpando meus arquivos, encontrei algumas dessas pérolas publicadas na Folha do Valle na década de 1930. segunda-feira, 18 de abril de 2011
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Ceará-Mirim, ao longo e sua história, sempre esteve envolvida com assuntos polêmicos que desagradavam a população. A imprensa procurava injetar palavras de estímulos aos concidadãos através de artigos que infamavam o ego e a auto-estima de seus leitores. Assim, garimpando meus arquivos, encontrei algumas dessas pérolas publicadas na Folha do Valle na década de 1930. sexta-feira, 8 de abril de 2011
ESTÓRIA DE OITIVA DA FEIRA DO CEARÁ-MIRIM

Bem faria gosto voltar no tempo e apreciar aquilo tudo. Pois que apontavam cristãos de quantos lados; de Gravatá, Massangana, Itapassaroca e doutras bandas mais diversas e distantes. Montados ou apeados, de charrete ou carro-de-boi, conforme as devidas posses e importâncias. Tirante escravos, crias-de-casa e outros sem-eito-nem-eira, quase todos moradores remediados da vila eram donos dalgum chão de pomar ou roçado. Daí que, na feira desse tempo, por costume de fartura, frutas e verduras quase não se viam; pois que se davam, não se vendiam. E todo-mundo mantinha, nos terreiros e quintais, galinheiros e banquetas de temperos-verdes. Nas cozinhas, pequenos fabricos de velas, sabões, águas-de-cheiro, licores e lambedores, somente pro gasto de casa.
Na feira, pouco se compravam luxos; somente comeres de passadio, misturas sem muitas finuras e aquelas coisinhas de usança e precisão do todo-dia. Moradores e rendeiros vinham comerciar grãos e farinhas (sobras das safras de meia ou terça); além disso, mel-de-furo, açúcar-bruto, aguardente ou rapadura (havidos como pagas das tarefas de eito). Havia ainda os escravos-de-ganho, fazendo biscates de balaiagem ou apregoando a vintém coisinhas de taboleiro. A modo que, quase todos, da rua ou do mato, sempre tinham bens de extração ou fabrico, produtos de plantio ou criação, pra trocar, em moeda ou escambo, por artigos que não podiam ou não sabiam fazer. Apetrechos como fósforos e pólvora, breu e querosene, arreios e ferramentas, botões e colchetes e quaisquer versidades de avios e atavios de gringa feitura.
Inauguração das torres da igreja - 01 de janeiro de 1900
A feira crescia e a vila, mudada em cidade com nome do rio, crescia com ela. A antiga mata se afogando nas ondas dum mar de canas, donde brotavam riquezas e fidalgos; passadas grandezas e presentes nostalgias. Poesia semeada nos nomes dos engenhos - Paraíso, Belo Monte, Verde Nasce, Boa Vista, Primavera... Ergueu-se a matriz e, com ordem e progresso, retirantes se enraizavam, ruas se esgalhavam e a feira florescia todo sábado e domingo.

Mercado Público de Ceará-Mirim
Debaixo desse bom abrigo ficavam pedras de açougue e peixaria, fardos de charques e avoadores, pontos de leite e queijo, locais de grãos e farinhas, além de bancas de vendagens e merendas. No derredor da larga quadra, logo se abriram mercearias, armazéns de açúcar, lojas de panos e casas doutros negócios. Daí, no grande vão restante, se arrumou, mais limpa e adequada, a nova e esperada feira.
Tempos decorridos, no abrir dos novecentos, chegava ajuda do trem, trazendo moendas e caldeiras modernosas e levando açúcar refinado das usinas. E aqui me esbarro, pois quase que enveredo noutra estória.” Mais de século depois, bem conservado em feição e tradição, o antigo mercado abre portões e corações nas noites de quinta-feira. Pra quem quiser trocar alegria por arte, diversão por cultura ou fazer algum negócio prazeroso, como ganhar amizades e gastar conversa, apreciando a cachaça e as estórias do lugar.
Publicado no livro Ceará-Mirim Tradição, engenho e arte. UFRN/SEBRAE/Prefeitura de Ceará-Mirim - 2005.