GALERIA HISTÓRICA
Engenho Umburanas
Texto: Professor Gerinaldo Moura
O Engenho Umburanas (ou Imburanas como costumeiramente várias pessoas pronunciam), foi construído em um local bastante privilegiado, de onde se tem uma esplêndida visão da cidade de Ceará-Mirim, à esquerda da rodovia RN-160, em direção ao Baixo Vale e às praias de Muriú, Jacumã e Porto Mirim.
A propriedade está fora da área margeada pelo rio Ceará-Mirim, em um local que se assemelha a um tabuleiro. O engenho foi fundado pelo Padre Antônio Antunes de Oliveira, provavelmente no início do século XIX, pois, segundo Dr. Júlio Senna, por volta de 1866 já estava funcionando a todo vapor:
“Em 1866, o vale do Ceará Mirim
produziu uma grande safra de 287.000 sacos de 60 quilos de açúcar bruto, sedo
considerada a maior safra de todos os tempos, somando-se ainda os 210.000 sacos
de 82 quilos, cuja notícia foi publicada pelo jornalista Elói de Souza, pelo
historiador Tavares de lira e por F. Silva no Jornal A República de 1926 e em
1938”.(Senna, Júlio. Ceará-Mirim exemplo nacional vol.II, página 157. Ed.
Pongetti. Rio de Janeiro 1972)
O Engenho Umburanas era considerado
de grande porte e estava voltado não só à produção de açúcar bruto, mas também
à produção de aguardente. De conformidade com registros existentes no Instituto
do Açúcar e do Álcool, após o ano de 1935, o Engenho Umburanas produziu apenas
3.000 sacos de 60 kg de açúcar por ano enquanto que a aguardente produzida até
1925, teve um rendimento de 10.320 litros por ano.
Pesquisas assinalam que foi o
Umburanas o primeiro engenho do Ceará-Mirim a utilizar turbinas e caldeiras à
vácuo. Nos dias atuais, infelizmente, não existe nada que identifique o prédio
ou o local onde funcionou o antigo engenho. Por esse motivo estima-se que a sua
produção não tenha ultrapassado a primeira metade do século XX devido ao
surgimento das usinas, quando então, quase todos os engenhos foram se
transformando em fornecedores de cana, isso quando as propriedades não eram
vendidas aos usineiros.
Segundo o historiador Tavares de
Lira, entre os anos de 1911 a 1950, existiam apenas três engenhos movidos a
vapor e com turbinas. Eram eles: Umburanas, São Francisco e Ilha Bela. O
Umburanas também possuía uma boa destilaria que produzia aguardente bastante
apreciada pela qualidade.
A casa-grande do Engenho Umburanas
encontra-se preservada, não tendo sofrido intervenções que prejudicassem sua
arquitetura original. O seu estilo arquitetônico foge aos demais padrões das
construções existentes no vale do Ceará-Mirim assemelhando-se ao estilo inglês
da era Vitoriana.
A explicação para esse detalhe, está
relacionado ao fato de que o engenho era possuidor de um moderno maquinário
importado da Inglaterra os técnicos responsáveis pela montagem e manutenção do
mesmo vinha daquele país.
O Engenho Umburanas ao que se sabe,
foi o único que manteve por um longo período, um técnico inglês em trabalho
permanente no local, e que atendia também aos demais senhores dos engenhos da
região que investiam em maquinaria inglesa.
Durante algum tempo, a casa grande
serviu de retiro espiritual para os padres jesuítas de então. do lado esquerdo
da casa-grande existia uma pequena capela, onde o Padre Antunes celebrava Missa
apenas uma vez por ano. Geralmente no Natal e a outra Missa ele celebrava no
Engenho Diamante da Família Meira. O que resta do conjunto rural do antigo
engenho Umburanas é composto apenas por sua casa grande e sua antiga capela,
passou a ser utilizada como depósito.
A professora aposentada, dona Maria Soledade Azevedo, antiga moradora do
Engenho Umburanas e que era também responsável pelo barracão do engenho, deu a
seguinte declaração:
“Quando o Umburanas pertencia à
família Varela, dona Antonieta Varela e seu esposo, o senador Luiz Lopes
Varela, hospedavam todos os anos, vários padres que vinham fazer missão em
Ceará-Mirim e todo o vale. Outra recordação de dona Soledade Azevedo é
referente ao catecismo que ela passou a ministrar depois de aprender com os
missionários, os quais sempre acompanhava em suas pregações. Quando o senhor
Rafael Fernandes Sobral se casou com a senhora Lucy Varella, foram morar em
Umburanas, sendo ele o novo administrador. Por conta deste fato, Maria Soledade
foi trabalhar no barracão da Usina São Francisco, permanecendo por lá entre os
anos de 1950 a 1951.
Vendo a dedicação que ela tinha às
crianças e jovens daquelas terras, dedicando-se a lecionar nas horas vagas,
dona Lucy Varella organizou na casa-grande do Engenho Umburanas a sala de aula
para abrigar o grande número de crianças que existia nos arredores necessitando
aprender a ler e a escrever, abrindo vagas para a criançada da Usina São
Francisco, dos engenhos Diamante, Jericó, Cruzeiro e da comunidade do Gravatá.
Dona Soledade Azevedo lecionava nos três turnos, ficando o noturno para atender
aos mais velhos”.(Maria Soledade Azevedo Silva, entrevista publicada no face
book “Ceará-Mirim Vale de Cultura 2020- Editorial Figura do verde Vale)
A casa-grande do Engenho Umburanas
permanece altaneira e majestosa do alto de uma pequena elevação, contemplando o
vale e seus momentos de prosperidade e decadência da riqueza canavieira.
Durante vários anos a casa-grande
abrigou funcionários da Usina São Francisco, como por exemplo o senhor Clécio
Santos, sua esposa dona Zélia Santos e seus filhos, bem como o casal Francisco
Flávio da Silva e a professora Ana Teresa Ramalho Praxedes da Silva, que
repetiu a mesma trajetória de Rafael Sobral/Lucy Varela, quando foram residir
no Umburanas após terem se unido em matrimônio, dentre outros. No entorno da
casa-grande existem algumas residências que foram construídas para abrigar
moradores que trabalhavam na Usina São Francisco/Companhia Açucareira Vale do
Ceará-Mirim.
Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100047608250923