quinta-feira, 18 de julho de 2013

O GRANDE VAQUEIRO LUIZ DE AMÉRICO

Fiz esta entrevista em 29 de junho de 2009 - Infelizmente o Mestre Luiz já faleceu!

O VAQUEIRO LUIZ DE AMÉRICO - LUIZ CABRAL DE OLIVEIRA
 
                Em 29 de junho 2009, tive o prazer de conhecer o Mestre Luiz de Américo, tio do meu amigo Ionaldo Oliveira, que me apresentou ao grande vaqueiro. Homem de riso fácil, humilde e cativante... Fui conquistado pelo seu carinho! Esse dia ficará gravado para sempre.
                Em 08 de outubro de 1918 nascia em Ceará-Mirim Luiz Cabral de Oliveira, filho de João Maximiniano da Mota e Isabel Cabral de Oliveira. Dois dias após seu nascimento, sua mãe faleceu deixando nove filhos, sete homens e duas mulheres.
                Após a morte da mãe, o menino Luiz foi morar com um tio chamado Américo, irmão de Isabel, que tinha propriedade na localidade de Gravatá, no município de Ceará-Mirim. Além de criá-lo, Américo cuidou também de seus irmãos Orlando e Francisco. Em virtude de ter sido criado por esse tio o menino passou a ser conhecido por Luiz de Américo.
                Como não havia recém nascidos na região, ele foi amamentado por uma vaca muito mansa chamada Mimosa. Enquanto o animal era alimentado com capim, Luiz se deliciava em suas têtas. Tempos depois, a empregada que cuidava dele, a pedido de seu patrão, o ensinou a tirar o leite que colocava dentro de uma pequena cabaça, e misturava com farinha para se alimentar. Para seu grande amigo o ex-governador Cortêz Pereira aquele leite que bebera na infância tinha sido o “imã do gado” para Luiz de Américo.
                Cresceu nos arredores da Lagoa de Gravatá banhando-se e correndo atrás de gado, que era seu maior divertimento.
                Américo era homem de posses, além da propriedade, foi também proprietário – por arrendamento – do engenho Divisão que arrendou de Henrique Torres por um período de cinco anos. Luiz não se interessou pelas coisas do engenho porque o que ele queria mesmo era ser vaqueiro, campear o gado. Quando seu tio e pai Américo o mandava para a escola, no distrito de Capela, ele desviava o caminho e se embrenhava nas capoeiras em busca de gado para campear. Um dia seu pai descobriu a “mutreta” e deu-lhe uma boa sova, como ele mesmo descreve: “meu pai só dava duas braçadas, mais ninguém esquecia”.
                 Na era de 1920, quando tinha seis anos viu o ex-presidente da República Afonso Pena que veio para a inauguração de uma Estação Ferroviária entre Lages e Macau. Após as festividades Afonso Pena retornou e permaneceu em Ceará-Mirim onde teve uma grande festa em sua homenagem. Foi a primeira vez que Luiz assistiu uma vaquejada tão grande. O pátio foi montado em frente a igreja matriz, no centro do largo, que era limitado por duas fileiras de fícus benjamim. Ali nascia o vaqueiro que seria conhecido em todo o Rio Grande do Norte e Nordeste do Brasil.
                Quando seu pai faleceu, tinha 15 anos, então, sai da cidade e vai trabalhar em outros lugares. Ao regressar segue o conselho de Américo que um dia disse: “você comece a pensar na vida e se encoste numa pessoa que tenha nascido com posses, porque vão desaparecer seu pai, sua mãe e um grande amigo e você precisa vencer. Pensando nisso, procura trabalho com um grande fazendeiro da região conhecido como Major Vital Correia.
                Passou parte de sua vida trabalhando com o Major Vital Correia, que o considerava homem de confiança nas competições de vaquejada. Prova disso é que só quem montava o cavalo conhecido como “Patas Brancas” eram eles dois.
                No final dos anos 1940 Major Vital o mandou trabalhar em suas terras no sertão. Lá, conheceu Angelita e iniciou um romance através de olhares e conversas “relâmpagos”, pois flertavam em segredo. Desses olhares nascia uma paixão que levou Luiz a pedir a mão da donzela em casamento aos seus tutores. Não satisfeito veio à Ceará-Mirim falar com o pai da moça que era subdelegado na cidade de Pedro Avelino, para confirmar sua intenção e receber autorização deles para o matrimônio. Com o consentimento, regressou à fazenda e acertou com ela o contrato.
                O vaqueiro saiu do sertão deixando sua amada esperando por um bom tempo. Nesse período eles não se corresponderam e nem se viram, foi um afastamento de um ano. Quando resolveu que tinha chegado a hora, pediu permissão ao Major Vital para ir buscar sua amada. O Major prontamente o atendeu dando-lhe dinheiro e total apoio para a viagem. Casou-se em 1950 e permanecem juntos até os dias atuais.
                Esse grande vaqueiro representou o Estado do Rio Grande do Norte ajudando a divulgar o esporte de vaquejada em todo território nacional.
                Em 1942 o Major Vital Correia promoveu uma grande vaquejada para o General do Exercito Brasileiro Cordeiro de Farias, uma vez que o mesmo não conhecia o esporte. O evento aconteceu na fazenda Betânia e o maior destaque daquele dia foi o vaqueiro Luiz de Américo.
                Em 1953, no governo de Silvio Pedroza, foi realizada a primeira grande vaquejada em Natal, no Estádio Juvenal Lamartine. O evento foi organizado pelos esportistas Dr. Estelio Ferreira e José Ubarana. Foi uma disputa entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba e Luiz de Américo deu o 1º lugar ao Estado do Rio Grande do Norte.
                Tem orgulho de ter sido convidado pelo então deputado Teodorico Bezerra para representar o Rio Grande do Norte, em 1955, na cidade de Santa Cruz do Inharé quando o presidente Juscelino Kubitschek visitou o estado. A festa foi muito concorrida, as pessoas vinham para conhecer o presidente. Nesse dia, o vaqueiro Dão João puxou um boi e partiu seu rabo, fato que o presidente viu e pediu o pedaço do rabo enrolando-o em jornal para levá-lo como lembrança.              
                Em seu tempo as vaquejadas eram organizadas de forma que os bois eram classificados em Gado Duro (de mais de 20 arrobas – acostumado a ser puxado); Gado Médio (de 15 a 19 arrobas – acostumado a ser puxado) e Gado mole (de 8 a 14 arrobas – que nunca tenha sido puxado) e cada rês só poderia correr uma única vez, conforme escrita no capítulo IV do Regulamento da Vaquejada “Jubileu de Ouro” realizada nos dias 28 e 29 de maio de 1955, na cidade de Natal/RN.
                Uma grande frustração aconteceu no ano de 1958 quando não terminou a competição entre os estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Ele fazia dupla com o saudoso Roberto Varela e estavam em primeiro lugar quando, na penúltima disputa, foi acidentado e lamentavelmente não pôde continuar. Nesse dia os louros foram para os norte-rio-grandenses Estelio Ferreira e Pedro Bento.
                Esse grande mestre dedicou toda sua vida às vaquejadas, onde divulgou e deu glórias ao Estado do Rio Grande do Norte. Lamenta ter sido esquecido pelas autoridades do Estado. Foi lembrado durante o governo de Cortês Pereira, que o convidou para ser administrador do Parque 13 de Maio a principal praça esportiva de vaquejada.
                Hoje aos 90 anos o mestre vaqueiro olha para o horizonte e lembra um passado de vitórias e glórias que eram embaladas por aplausos e reconhecimentos de uma arte nascida no sertão do Seridó, onde os grandes protagonistas eram o valente peão, o cavalo e o boi.
                Considerado como PATRIMÔNIO VIVO, Seu Luiz reside, com sua eterna companheira,  em Igapó, e lamenta não ser reconhecido como um homem que passou toda sua vida trabalhando pela cultura de sua terra e levando a arte do vaqueiro a todos os recantos do Nordeste.
                Como cearamirinense que é, o mestre poderia ser homenageado em sua terra e, quem sabe, nossos representantes encontrem uma forma de gratificá-lo com uma aposentadoria reconhecendo seu valor como Patrimônio Cultural e, também, possam refletir em um projeto que beneficie todos os grandes mestres que estão no anonimato, esquecidos e que deveriam ter um salário vitalício como forma de incentivá-los a repassar seus conhecimentos às novas gerações contribuindo para o fortalecimento e preservação de nossas tradições.
                Nossos mestres estão à espera de uma política de cultura que os façam “existir” como representantes legais de nossa cultura e não simples brincantes que eventualmente aparecem fantasiados dançando ou correndo como meros “marionetes”. Vamos lutar em respeito a todos esses grandes filhos de Ceará-Mirim: Luiz de Américo, Tião Oleiro, Luiz Chico, Maria do Carmo, Birico, Belchior. Zé Rodrigues, Luiz de Julia e tantos outros que estão ofuscados pela luz da incompreensão e falta de conhecimento.

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