segunda-feira, 6 de outubro de 2014

CENTENÁRIO DO MESTRE TIÃO OLEIRO

100 ANOS DE CULTURA POPULAR
MESTRE TIÃO OLEIRO – SEBASTIÃO JOÃO DA ROCHA
Por Gibson Machado - Professor de Arte e Pesquisador


         A vida de Sebastião João da Rocha – Tião Oleiro - se confunde com a história de Ceará-mirim. Nasceu em 14 de maio de 1914, no engenho Grande, propriedade de Antônio Sobral e Dona Bela. Sua infância foi nos terreiros dos engenhos e nas grotas do rio Ceará-Mirim onde brincava de galinha Gorda, Tica e de escorregar nas ribanceiras lisas do rio, porém, foi na bagaceira do Engenho Grande que viveu parte de sua vida.

Muito pequeno observava a labuta dos mais velhos nos eitos dos engenhos. Assim, foi adquirindo experiências e, em pouco tempo, estava trabalhando na porteira da bagaceira e espalhando a bandeira da cana. Foi seu primeiro trabalho e, por esse serviço, recebia três tons!

Costuma dizer que o Engenho Grande foi seu maior professor. Foi seu Mestre! E lá exerceu todas as funções, começando na bagaceira até o último posto, o de foguista, onde trabalhou enquanto o “velho engenho grande” estava de fogo aceso!

Durante o período em que trabalhou nos engenhos, aprendeu a tocar acordeon, comprou uma sanfoninha de oito baixos, e, nas horas de lazer e folga, animava, como músico, os bailes de pastoris, boi de reis e pagodes no vale do Ceará-Mirim, profissão que exerceu depois que deixou de trabalhar nos engenhos.

A grande contribuição do Mestre Tião para a cultura de Ceará-Mirim e do Brasil foi conseguir, durante 90 anos, preservar as tradições populares do Congo de Guerra, grupo folclórico, criado por seu pai João da Rocha, no final do século XIX.

A congada é um auto popular que faz referências às lutas medievais entre cristãos e mouros, e, também, às embaixadas, da rainha Jinga, soberana africana, que viveu na África no século XVI. Portanto, uma manifestação popular, que traz em suas raízes a pluralidade cultural transmitida por várias gerações.

O mestre é uma enciclopédia viva e, apesar da senilidade, está generosamente à disposição para dividir o que sabe com aqueles que têm interesse e necessidade de conhecer as raízes da existência.

Pela sua contribuição à cultura do Ceará-Mirim, em 2004, o mestre Tião e seu Congo de Guerra, foram ovacionados quando apresentamos um grupo de trabalho no Fórum Social Nordestino, na Universidade Federal de Pernambuco, na cidade de Recife.

No ano de 2005, o Canal Futura, através da Fundação Roberto Marinho, criou o programa “A beleza do meu Lugar” baseado na luta de Seu Tião em prol da cultura popular. Neste programa foram documentados 16 mestres brasileiros. Três do Rio Grande do Norte, entre eles, o nosso Tião Oleiro. Este programa vai ao ar, diariamente, pelo Canal Futura, em todas as redes associadas da Rede Globo de Televisão. Por este documentário, a Fundação Roberto Marinho mandou pintar um mural no corredor de sua sede no Rio de Janeiro com a imagem de Seu Tião. Este documentário concorreu ao 19º Premio de Curtas de São Paulo naquele ano.

Ainda em 2005 a equipe do Projeto Vernáculo documentou a história de Mestre Tião e o Congo de Guerra. Este documentário concorreu ao 9º Premio de Curtas Potiguares.

Neste mesmo ano, o então Presidente da Câmara de Vereadores, Ronaldo Rodrigues fez homenagem ao Mestre pelos serviços prestados à cultura do município.
No ano de 2009 ele foi reconhecido como Patrimônio Vivo do Rio Grande do Norte pela Fundação José Augusto, através do projeto RPV de autoria do deputado Fernando Mineiro.
Ainda em 2009, o então presidente da Câmara de Vereadores Julio Cesar, atendendo uma solicitação nossa, homenageou os mestres Tião Oleiro e Zé Baracho, durante a Câmara Itinerante na comunidade de Massangana.

No ano de 2011, os professores do IFRN Pablo Capistrano e Suély Souza, fizeram o documentário “Seu Tião e a História do Congo de Guerra” para o Projeto de Cultura Potiguar exibido naquela instituição.

Neste ano de 2014, a Academia Cearamirinense de Letras e Artes, homenageou o mestre Tião pelos serviços prestados à cultura do município.

Dia 22 do mês corrente, foi homenageado, nacionalmente, pela Teia Nacional da Adversidade 2014, evento realizado em Natal com todos os pontos de cultura do pais.
          
         Em maio de 2014, fizemos solicitamos ao vereador Renato Martins que elaborasse um Projeto de Lei criando o 14 de maio como Dia Municipal da Cultura. O projeto apresentado pelo vereador Renato Martins foi aprovado por unanimidade e em 09 de julho de 2014 foi sancionada a Lei que cria o “14 de maio” como Dia Municipal da Cultura em homenagem ao nascimento do Mestre Tião Oleiro.


          Este ano de 2014 o Ministério da Cultura apreciou o mérito de 206 propostas, que dentre as indicações foram acatadas 30, para apreciação do Conselho da Ordem e posterior publicação por meio de Decreto. Em 05 de novembro de 2014 o Ministério da Cultura e a presidência da República entregará a Ordem do Mérito Cultural ao mestre Tião Oleiro pelos serviços prestados a cultura do país.  A Ordem do Mérito Cultural, instituída pelo art. 34 da Lei n.º 8.313, de 23 de dezembro de 1991, e regulamentada pelo Decreto n.º 1.711, de 22 de novembro de 1995, tem por finalidade premiar personalidades nacionais e estrangeiras que se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Cultura.

A cada edição do prêmio o Ministério da Cultura almeja, também, homenagear personalidades da cultura nacional, entre outros grandes nomes, o Ministério homenageou, em edições anteriores, a vida e obra de Heitor Villa-Lobos, Luiz Gonzaga, Oscar Niemeyer e Tomie Ohtake.




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