terça-feira, 13 de junho de 2017

UM NOVO OLHAR PARA A HISTÓRIA DA INGLESA EMMA BARROCA

Recentemente tive a felicidade de conhecer a escritora e psicóloga Ana Claudia Trigueiro. Ela garimpava informações sobre o velho engenho Verde Nasce e Emma Barroca. Estava escrevendo um livro sobre a memória de sua avó que viveu naquele engenho. Fiquei muito feliz porque sua pesquisa contribuirá para esclarecer alguns fatos históricos ocorridos no vale do Ceará-Mirim pelo olhar de quem conviveu por alguns anos entre os corredores da casa grande e do velho engenho verde nasce. Abaixo segue  o texto que recebi da amiga Ana Claudia sobre sua pesquisa e a publicação do livro. Ansioso pelo lançamento!!!

AO AMIGO GIBSON

Olá Gibson,
É com muita alegria que te escrevo para informar que finalmente terminei de escrever o livro “Maria e o Mistério do Verde Nasce! Gostaria de te agradecer pelas informações disponibilizadas através deste maravilhoso blog!
Escrever sobre a infância de vovó foi uma tarefa árdua, porém muito prazerosa! Organizar a memória de uma senhora de oitenta e sete anos me custou muitas noites em claro. Criar histórias que servissem de arremate à trama, me  exigiu muita imaginação. Voltar à década de 30 de uma “menina de engenho” no vale do Ceará-Mirim me cobrou muita pesquisa. Sendo eu uma estrangeira nestas paragens, a tarefa foi ainda mais desafiadora!
Por que o fiz?
Tudo começou em 2006 em uma visita evocativa, ao vale do Ceará-Mirim. Era a primeira vez em quase oitenta anos que vovó Maria retornava ao engenho onde passou parte da infância. Lembro que foi muito emocionante! Não só para ela, mas para todos nós, que passamos a conhecer uma parte muito significativa da sua vida.
Vovó morou no Verde Nasce até os 14 anos, quando os avós, (ele era uma espécie de capataz, ela, cozinheira) faleceram e ela veio morar com a mãe em Natal. Em sua narrativa, vovó Maria demonstrou um amor muito grande pelo engenho e também curiosidade sobre quem foi Emma, a “pobrezinha” sepultada no alto da colina.
Visitar o Verde Nasce foi uma experiência singular! Senti-me encantada, assim como vovó e os que viveram ali. A paisagem do vale é uma paleta de cores vibrantes para os olhos de uma cosmopolita como eu, um tanto quanto aborrecida com o cinza da selva de pedra.
O mausoléu de Emma me causou grande admiração! É enternecedor ver o detalhe do posicionamento do túmulo, virado para o nascer do sol. (Verifiquei que não está voltado para o pôr do sol como afirmaram muitos). O poente está no sentido contrário ao vale, por trás do jazigo.
Sou muito curiosa, mas acho que Emma desperta interesse em todos os que veem seu túmulo. Ao conhecê-lo fui tomada por uma compaixão e uma curiosidade talvez maiores do que seria natural sentir, por uma pessoa que viveu mais de cem anos antes de mim: quem foi a pobre inglesa que morreu tão cedo, deixando esposo e filha órfãos do seu amor? Como ela era física e emocionalmente? Que ideias e valores a influenciaram? De que maneira se comportava, o que defendia ou repudiava?
Passei a procurar pelos vestígios da existência de Emma na internet e para a minha surpresa, alguns meses depois, consegui puxar o fio da meada da sua história, através de um site de genealogia. A maior dificuldade deveu-se à procura pelo falso sobrenome Thompson, erroneamente publicado em vários blogs e sites sobre a inglesa.
Consegui fazer contato com um tetraneto de Emma, o André Lucas que mora em Recife e é advogado formado na mesma faculdade do pentavô, o juiz Victor José de Castro Barroca. Tivemos algumas ótimas conversas pelo Facebook, porque ele também tinha muita curiosidade em saber sobre a ancestral ilustre.
Emma viveu em uma pequena cidade perto de Liverpool e foi lá que conheceu Marcelo Barroca. A igreja onde se casaram é belíssima e remonta ao século V. Os personagens viveram toda a ebulição da Revolução Industrial! James, irmão da inglesa, que era engenheiro e comerciante de ferros foi o responsável pelo desenho e fabricação da cerca de ferro que até hoje, encanta aos que visitam o Verde-Nasce. Pretendo surpreender os leitores com alguns detalhes da biografia de Emma que permaneceram um mistério por mais de 100 anos e deliciá-los com a narrativa de uma época fascinante!
Como vou tratar de muitas lembranças de vovó, o livro tem um tom regionalista muito forte: trata das nossas comidas, do nosso jeito de falar e até mesmo das nomenclaturas populares de mazelas como: “antójo”, “farnizim” e “espinhela caída”. Alguns clássicos contados de maneira peculiar por uma exímia contadora de histórias, (minha tataravó Cosma), trazem expressões que só os norteriograndenses conseguirão compreender, sem recorrer às notas de rodapé.
Escrever este livro me trouxe muitas experiências gratificantes: Através dele conheci um pouco melhor a adorável cidade de Ceará-Mirim. Um amigo sugeriu que eu passasse dois meses por lá, em uma casa de campo, escrevendo. Quem me dera! Pude somente ir algumas vezes, constatar que ela é tão encantadora, quanto o Verde Nasce.
Visitei-a com frequência através de dois blogs que contam sua história: este e o do Francisco Ferreira, o famoso “barão do Ceará-Mirim”. Meus agradecimentos pelas informações disponibilizadas por esses queridos heróis da memória cearamirinense.
Os ótimos livros “Oiteiro”, de Magdalena Antunes, “Imagens do Ceará-Mirim” e “A Rosa Verde”, de Nilo Pereira e “Villar & Companhia: apontamentos da história familiar”, de Alcides Francisco de Queiroz foram fontes de informação preciosas. Excelentes leituras que tive o privilégio de desfrutar, enquanto escrevia.
Os irmãos Herbert e Nadja Dantas, me receberam muito bem no engenho Verde Nasce e ajudaram com preciosas informações sobre o maquinário a vapor e o processo de produção de açúcar. Essa família é digna do mais sincero reconhecimento! A casa da moenda e todo o maquinário que é símbolo da Revolução industrial e do 2º ciclo da produção de açúcar no nordeste, estão muito bem conservados, com recursos próprios da família.
Os Dantas têm uma grande importância para a cidade e o vale do Ceará-Mirim. Penso que a divulgação de sua história de muito trabalho e amor pela terra é de suma importância para o município e se não recebeu a devida atenção nesta obra foi apenas por uma escolha afetiva da autora. Ao conversar com eles percebi que ainda há muito mais a se escrever sobre os que habitaram o Verde Nasce. Muito obrigada também ao solícito caseiro, Damião. Sempre gentil e cordial com os visitantes do engenho.
A Nadja que é a atual proprietária do terreno onde o túmulo fica localizado está trabalhando incansavelmente na sua restauração. Não é um trabalho fácil, nem barato; tendo em vista a sábia decisão dela de tentar manter a originalidade de uma construção que remonta ao século XIX. Ela buscou o apoio do IPHAN e os arquitetos da instituição já estiveram lá e se comprometeram a ajudá-la. A perspectiva é que em poucos meses o túmulo esteja pronto e aberto à visitação.
Compreender o passado é muito importante para a construção do futuro. É trabalhoso como fabricar açúcar, mas pode ser divertido como montar a cavalo e andar de locomotiva. Pode também ser gostoso como comer sequilho, beber caldo de cana e ter uma rapadura derretendo na boca. A motocicleta, o trem bala, os refrigerantes e a goma de mascar são produtos da nossa época, mas inspirações de uma outra, que precisamos conhecer!
O livro está em fase de correção ortográfica e ilustração, mas o lançamento ocorrerá no Verde Nasce daqui há alguns meses. Todos os leitores do blog estão convidados assim como você e sua família, é claro.
Abração,

Ana Cláudia Trigueiro de Lucena

4 comentários:

  1. Ana Cláudia
    Estamos muito felizes com o encontro que tivemos com você e sua querida família.
    Conhecer uma pessoa de grande espiritualidade e sensibilidade foi um presente deixando todos nós e o verde nasce mais valorizado é reconhecido.
    Resgatar as histórias da sua avó Maria e da Emma mostram as linhas do tempo de mulheres que viveram numa época tão remota.
    Logo teremos o prazer de anunciar a finalização da restauração do túmulo da Emma onde contamos com a equipe de arquitetos da Fundação José Augusto, coordenado pelo competente prof Paulo Eider.
    Parabéns Ana Cláudia pelo legado e contribuição pelo resgate à cultura de valores de uma vida rural, singela, e valiosa.
    Estamos felizes e o verde nasce abre as portas para receber pessoas tão significativas como você!

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    1. Parabéns pela restauração do túmulo de Emma. É preciso preservar e valorizar a memória de Ceará-Mirim. Muito feliz por isso!

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  2. nossa! que felicidade, desfrutar de conhecimentos tão poéticos!
    parabéns!
    parabéns!

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  3. Meu nome é Thales, sou filho de Anilda e Neto de Emma Barroca. A título de esclarecimento quero irformar que o casal (Apolônio e Emma) teve seis filhos: Maria do Carmo, Jaime, Anita, Anilda, Marcelo e Elizabeth.

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