HISTÓRIA DAS BANDAS DE
MUSICA: Banda Tenente Djalma Ribeiro
Por: Gibson Machado Alves
Professor de arte
Estava à toa na vida
e o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisa de amor.
A minha gente sofrida
despediu-se da dor
pra ver a banda passar
cantando coisa de amor.
(A banda, Chico Buarque de Holanda)
Difundida na Europa, a banda de música parece ter suas origens na
França.
No Brasil, embora haja a confirmação da existência de bandas
militares na segunda metade do século XVIII em Pernambuco, elas vieram a ser
mais populares a partir da chegada de D. João VI com sua corte ao Rio de
Janeiro, em 1808. O rei trouxe consigo uma banda de música portuguesa e durante
a estada da família real no Rio de Janeiro foram realizados vários concertos
pelas bandas existentes na época.
As bandas civis, que herdaram a disciplina e a organização das
bandas militares, foram criadas por todo o Brasil. Havia bandas de músicas,
tanto nas cidades, quanto em vilas, povoados e até em sítios e fazendas. As
cidades do interior organizavam suas bandas civis, que passavam a ser um
veículo de entretenimento coletivo, participando de movimentos políticos,
acontecimentos religiosos, cívicos e sociais.
No dias de apresentação, as bandas saíam da sua sede em formação
militar, com os músicos de uniformes limpos, engomados, sapatos engraxados,
quepes na cabeça, desfilando pelas ruas ao som de dobrados, em direção ao
coreto da praça principal, onde executavam o melhor do seu repertório, que além
de dobrados incluíam xotes, quadrilhas, valsas, choros, maxixes, frevo, aberturas de óperas.
As bandas desempenharam um papel fundamental na formação de novos
músicos e na revelação de grandes talentos. Só para citar dois exemplos, o
famoso compositor Carlos Gomes, autor de O Guarany, foi um músico de
banda em Campinas, SP, sua terra natal e o maestro da Orquestra Sinfônica
Brasileira, o internacionalmente conhecido Eleazar de Carvalho, tocava
baixo-tuba na banda dos Fuzileiros Navais.
Em Ceará-Mirim há
registro da atuação da Banda de Música municipal desde o final do século XIX,
como cita Manoel Ferreira Nobre em Breve Notícia sobre a província do Rio
Grande do Norte, pg 193: Tem uma banda
marcial que satisfaz na localidade ao duplo fim de sociedade recreadora e
instrutiva. Há cerca de 5 anos que se organizou. O livro foi escrito em
1877, portanto nossa banda de música foi organizada em 1872.
No livro Ceará-Mirim
memória iconográfica – publicado em 2008 – há uma fotografia datada de 1901 na
da inauguração das torres da matriz e colocação do sino. Naquela ocasião, a
nossa banda já estava presente recepcionando a comunidade.
Julio Gomes de Senna em
seu livro “Ceará-Mirim – exemplo nacional – Vol II, página 114, diz que: “Vê-se que a banda marcial, que outra coisa
não era, senão uma banda de música, também estava integrada na campanha da
instrução.
Mas
as bandas de músicas, daí por diante, sempre existiram na cidade. Lembramo-nos,
muito bem, da recepção feita ao Presidente da República, Dr. Afonso Penna,
quando, em 1907, foi inaugurar a estação da Estrada de Ferro Central,
quando 2 bandas cearamirinenses tocavam
ao lado de uma grande banda de música, procedente de um vaso de guerra,
ancorado no porto de Natal.
Eram
duas bandas locais afeiçoadas às correntes políticas. A banda “13 de Maio”,
dirigida pelo maestro Prisco Rocha, bandeava para a oposição, enquanto a banda
“12 de Outubro” acompanhava o Governo e era dirigida pelo mestre Venerando
Cocentino.
Muitas
vezes assistimos, por ocasião das festas da Padroeira N. Sra. da Conceição, em
08 de dezembro de cada ano, a disputa ardorosa dessas duas instituições
musicais, em que cada uma desejava superar a outra, na quantidade e na
qualidade das “peças” exibidas.
E
a população se dividia na torcida, como hoje se torce por time de futebol. Para
terminar a contenda, era necessário que alguém de influência aparecesse e
rogasse o recolhimento, do contrário permaneceriam na porta da igreja até o dia
seguinte.
Vários foram os maestros
da banda municipal, como por exemplo, o grande músico e comerciante Luis
Ferreira e, nos anos 1970, o inesquecível Tenente Djalma Ribeiro,
que além de regê-la em eventos sociais introduzia crianças no mundo musical com
oficinas de leitura e execução de instrumentos.
Tenente Djalma Ribeiro
Entre os anos 2005 e 2008 a banda
passou por uma reformulação, sob a regência do maestro David em parceria com o
músico Marcos Machado e o Regente do Coral Municipal Araraú, Bacharel Kleber
Jonatas e montaram a Big Band (Banda e Coral) para alguns shows de final de ano
e shows específicos com musicas de Roberto Carlos e outro com musicas de Roupa
Nova.
Banda de Jazz Municipal de Ceará-Mirim - anos 1930/1940
Todos os antigos músicos na ativa ou
afastados pela aposentadoria lembram do mestre Djalma Ribeiro. Recordam um
período em que os músicos da banda eram voluntários, e, mesmo assim, vestiam a
camisa da orquestra, tocavam por amor e orgulho de ser músico e representar a
cidade a que pertenciam. O Maestro conduzia seu grupo de músicos como se fossem
seus filhos – inclusive, penso que todos os filhos homens do mestre tocaram na
banda – Ele levava tão à sério seu ofício que parecia um Quartel Militar –
todos os dias, antes dos ensaios, a fanfarra saía pelas ruas da cidade animando
a todos com velhos e inesquecíveis dobrados.
São velhas recordações que ainda
aliviam nossas sorumbáticas memórias!! O saudoso maestro além de reger nossa
banda, coordenava o grupo de escoteiros Nossa Senhora da Conceição (talvez
tenha sido um dos seus fundadores). Aquelas crianças e adultos o respeitavam
como um Pai, porque ele era um homem digno, honesto e cumpridor de seu dever.
Sua palavra era mais importante e confiável, do que qualquer papel assinado
pelos prefeitos da época, pois a banda sempre foi vinculada à Prefeitura de
Ceará-Mirim, porém, sua palavra era a última – e talvez – a única ouvida pelos
seus superiores.
Ao futuro da Banda Tenente Djalma
Ribeiro, resta à memória de seus antigos componentes e a esperança dos novos
músicos de que surjam projetos onde valorizem essa tradição centenária de nossa
cidade e, consequentemente, esse patrimônio seja preservado para as futuras
gerações e que, futuramente, não necessite recorrer às humilhações e
peregrinações em busca de sua sobrevivência enquanto patrimônio cultural
municipal.
Será que era possível oficializá-la
como PATRIMÔNIO MUNICIPAL através de Lei? Ou, a Câmara poderia sugerir ao
executivo que isso fosse feito? Taí uma provocação aos representantes do povo
de nossa Briosa Vila baquipiana.
FONTES CONSULTADAS:
ALVES, Gibson Machado.
Ceará-Mirm memória iconográfica – Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim, 2008.
IRMÃO, José Pedro Damião. Tradicionais
bandas de música. Recife: CEPE, 1970. 184 p.
NOBRE, Manoel Ferreira. Breve
Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte. 2ª edição – Pongetti – 1971.
SILVA, Leonardo Dantas
(Org.). Bandas musicais de Pernambuco: origens e repertório. Recife:
Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria do Trabalho e Ação Social, Fundo de
Amparo ao Trabalhador, 1998. 395 p
SENNA, Julio de Gomes.
Ceará-Mirim exemplo nacional – vol II. Pongetti – RJ – 1975.
Nenhum comentário:
Postar um comentário