BENILDE DANTAS DE MELO
Nascido em 25 de fevereiro de 1912, no Engenho Cajazeiras, município de Ceará-Mirim, Estado do Rio Grande do Norte.
Filho legítimo de Luiz Heretiano Gomes de Melo e Albertina Dantas de Melo, sendo seus avós paternos Luiz de França Gomes de Melo e Joaquina Felismina Fonseca de Melo e avós materno Miguel Antonio Ribeiro Dantas e Rita Generosa Tinoco Dantas.
Casou-se em 12 de julho de 1935 com Judite Marinho. Tendo três filhas: Benise, Vania e Lucia.
Em Ceará-Mirim sua primeira professora foi Adele de Oliveira e estudou, também, no Colégio Pedro II em 1923. Em 1927 foi residir com a sua família em Natal, estudando no Colégio Santo Antonio e posteriormente no Atheneu Norte-Riograndense.
Seus primeiros poemas foram “Exaltação”, “Fulô de Maio”, “Aos teus anos”, “As tuas santas cartas”, dedicados a Judite, na época sua namorada.
Escreveu o primeiro livro, um romance intitulado “MOLEQUE DE RUA” que não chegou a ser publicado por ter sido roubado a bordo.
Seu segundo livro foi o “CANTO DO CANAVIAL”, poemas, publicado em 1941, tendo escrito outros que não chegou a concluir.
Foi um homem excessivamente romântico e apaixonado por sua terra natal. Compôs várias músicas e a única a ser editada foi “SAUDADE DE MURIU”.
Teve como grande incentivadora a poetisa Maria Magdalena Antunes Pereira a qual chamava de “minha mãe espiritual”.
Escreveu para vários jornais, onde teve sua coluna especial pelas cidades onde residiu: Em Salvador, com o pseudônimo de Luiz Marinho, no jornal “IMPARCIAL”, em Fonte Nova/MG no “Jornal O POVO”, em São Manoel/MG no jornal “O LABOR”, em Carangola/MG na “GAZETA DE CARANGOLA, em Sapucaia/RJ, no jornal “A SAPUCAIA”, em Recife/PE no jornal “ESTRELAS DE JUNHO”, em Vitória/ES nos jornais “A TRIBUNA” e “FOLHA CAPIXABA” e no Rio de Janeiro/RJ no jornal “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”.
Em julho de 1932, contra a vontade de seu cunhado Bertino Dutra da Silva, na época interventor do Estado do Rio Grande do Norte, participou como voluntário, da Revolução Constitucionalista do Estado de São Paulo.
Na Intentona Comunista de 1935 teve participação comandando uma coluna que partiu de Ceará-Mirim para Baixa Verde. Tomando esta cidade assumiu o controle juntamente com Manuel Alberto da Silva Filho, que era conhecido com o nome de “Tenente Lins”. De Baixa Verde, Benilde, dirigiu-se para a cidade de Seridó comandando uma nova coluna de revolucionários.
Tendo conhecimento do fracasso da revolução na Serra do Doutor, empreendeu estão a caminhada cheia de percalços de volta a Ceará-Mirim.
Sofrido, abatido, perseguido pela polícia, conseguiu chegar a sua cidade natal, após ter passado por uma experiência terrível que quase de tirou a vida. Tal fato ocorreu quando um sertanejo, reconhecendo nele, por seus rastros, um homem da cidade, prendeu-o, ameaçando-o de morte com uma faca.
Ao ser primeiro revistado pelo sertanejo e seus filhos, encontraram m seu bolso apenas moedas, um de cem réis e outra de duzentos réis. (Estas moedas encontravam-se ainda guardadas com a sua família). Diante disto, e surpreso, o homem disse-lhe: “vejo que você é uma pessoa honesta, não é um ladrão. Nós vamos ajudá-lo a sair deste aperreio”. Deram-lhe uma calça velha, camisa, alpercata e um saco contendo farinha de mandioca e rapadura para ser carregado às costas, de maneira que ele se identificasse com qualquer um dos trabalhadores da região. Indicaram-lhe o caminho para atingir o sítio de José Tinoco, seu primo. Lá chegando, e não o encontrando, pediu ao empregado um cavalo selado e partiu em direção a Ceará-Mirim.
Por intermédio de Alfredo Edeltrudes e Isaías Guedes, que lhe conseguiram um barco de pesca, saiu de Ceará-Mirim, pela praia de Muriú, indo chegar às costas de Olinda em Pernambuco, onde permaneceu escondido na casa se sua madrinha Eliza Galhardo.
Teve também a ajuda de outras pessoas, dentre elas, especialmente, a do inesquecível Luiz Varella, um dos seus maiores amigos. Luiz e sua senhora Antonieta Varella, acolheram na sua propriedade na Usina São Francisco, em Ceará-Mirim, a esposa de Benilde, Judite Dantas, que na época esta grávida, sem tomarem represálias.
Após esta temporada em Olinda seguiu, também com o auxílio de parentes, para Salvador, ficando hospedado na casa de outro grande amigo. Gastão Câmara. A pedido deste, foi trabalhar como apontador na construção do aeroporto de Santo Amaro, onde a sua esposa, já com a sua filha Beniza, foi encontrá-lo.
Sendo mais tarde reconhecido voltou a ser perseguido, tendo de fugir com a família para a Ilha de Itaparica. Neste mesmo local encontrava-se também foragido Carlos Lacerda. Ao ser preso e temendo igual sorte, apesar da ajuda que lhe davam os pescadores da ilha, resolveu Benilde fazer regressarem a esposa e filha a Natal, ao mesmo tempo em que tornou a se refugiar na casa de Gastão Câmara em Salvador.
Foi neste período que começou a escrever, com o pseudônimo de Luiz Marinho, para o jornal “IMPARCIAL”, cujos artigos mereceram elogios do ilustre escritor baiano Carlos Chiaccio. Permaneceu com Gastão até a sua absolvição, decretada por sentença do M.M. Juiz Dr. Raul machado, em 20 de junho de 1938. Absolvido, foi encontrar-se com a esposa e filha no Rio de Janeiro.
Após sete meses sem conseguir emprego foi então nomeado no ano de 1939, para escrivão de coletoria, cargo para o qual havia feito concurso antes de estourar a revolução de 1935.
Em 1941 publicou o livro CANTO DO CANAVIAL, onde demonstra todo o romantismo e paixão por Ceará-Mirim. Neste período prestou novo concurso para o cargo de Agente Fiscal do Imposto de Consumo, atual Agente Fiscal de tributos Federais, sendo aprovado, foi nomeado pelo então Presidente da República, Getúlio Vargas, em 23 de junho de 1943, exercendo as suas funções até a data de seu falecimento no dia 13 de fevereiro de 1952.
O poema – título de seu livro – canto do Canavial nos leva ao imaginário e, numa quimera reveladora, vamos ouvindo o eco de cantos infantis, da melodia dos eixos primitivos de carros de bois se misturado aos gemidos permanentes dos riachos circundando o vale... é como ouvir os cânticos das lavadeiras...sinfonia de reminiscências!!!
CANTO DO CANAVIAL
Minha sombra musicada
Que mora nos meus ouvidos,
Canção de ninar meninos
Que ecoa nos meus ouvidos
Como o ciclo de um segredo....
Há quantos anos eu te escuto,
Canção que vem de minha infância,
Canção os engenhos românticos?
E esse apito dos engenhos nas madrugadas
Que eu escuto em todas as madrugadas de minha vida
Em todas as minhas tardes...
Em todas as minhas manhãs...
E essa música dos eixos dos carros de bois,
As vozes dos homens morenos nos eitos brutos
E as lavadeiras cantando na beira dos riachos...
Porque eu escuto essa sinfonia
Se estou tão longe de tudo, noutras terras?
E esse canto lamentoso do canavial
Como uma queixa de almas penadas
Que assombravam a minha meninice...
Porque ainda te escuto
Se estou longe, noutras terras?...
Sensacional reportagem!
ResponderExcluirMeu avô onde estiver, está feliz vendo sua memória ser preservada.
Muito obrigada, Gibson!
Tatiana Dantas