terça-feira, 15 de junho de 2010

CABOCOLINHOS DE CEARÁ-MIRIM


Quando era criança morava próximo à prefeitura, onde hoje funciona a Câmara Municipal. A fase juvenil foi muito agitada e percorríamos os quatro cantos da cidade que se resumiam ao Mercado – Igreja – Rio dos Homens – Rio do Balão e Rio Água Azul. Penso que muitos jovens e crianças daquela época faziam esse itinerário durante suas brincadeiras e descobertas.

Mestre Birico e Gibson Machado
Naquela época havia muitos grupos folclóricos que se apresentavam em alguns períodos festivos na cidade. Desses, recordo bem dos Cabocolinhos, descendo as ladeiras da cidade com aquela melodia tirada de uma flauta de lata, acompanhada das batidas dos surdos e dos estalos das flechas. Muitas vezes, quando criança, chorava e corria para casa com medo, pois pensava que eram índios de verdade!!
Não sabia que o destino me colocaria tão próximo daquela manifestação popular. Em 2003 tive meu primeiro contato com o mestre Birico coordenador dos Cabocolinhos. Lembro que o via passar e pensava que era um cara difícil de se comunicar e, por isso, havia uma barreira entre nós. Naquela época já conhecia o Congo de Guerra, o Boi de Reis, e o Pastoril.

Gibson Machado - Auto da Liberdade em Mossoró - 2004

A minha amizade com o Mestre teve como ponto inicial minha primeira viagem a Mossoró quando o grupo participou das comemorações do Auto da Liberdade no ano de 2004. Sempre que posso visito meu amigo e discutimos assuntos pertinentes ao grupo. Nossa última ação juntos foi a inscrição para o Premio Patrimônio Vivo do RN em 2009.
A parceria com os brincantes é uma forma de tentarmos manter o grupo em atividade, uma vez que há muitas dificuldades com relação às influências de novas culturas no grupo, através do acesso a outras manifestações modernas que se tornam mais atrativas por serem atuais.
A nova geração de brincantes precisa aprender a valorizar as tradições, pois elas existem, dentro desse grupo, há mais de oitentas anos e é inconcebível deixá-las desaparecer. É importante que aceitemos o dinamismo dos eventos culturais sem, no entanto, transformá-los em novos elementos. Por isso é preciso ensinar os novos componentes a importância da preservação do “brinquedo”, que de certa forma, é uma representação de antigas tradições indígenas de tribos que habitavam o vale do Baquipe, hoje Rio Ceará-Mirim, onde nasceu o Índio Poti.
Os componentes do grupo são, em sua maioria, formados por jovens de uma mesma família, cuja origem é na ribeira do Rio Ceará-Mirim, conhecida como baixo vale. Atualmente são conhecidos como os “Cabocolinhos da rua da Telern” devido suas residências estarem próximas a antiga sede da Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte.
A origem do grupo é muito discutível, pois, segundo relatos dos mais antigos, iniciou na família por volta do ano 1929. Os primeiros mestres foram Joaquim Inácio e Chico Emídio.
No inicio dos anos 1960 o mestre era Sebastião Marques e o Guia Inácio Gentil. Naquela época os brincantes eram muito mais disciplinados, pois o mestre os conduzia com uma espada e, quando necessitava, organizava a estética do grupo utilizando aquele instrumento. Em 1963 o mestre Inácio Gentil assume o grupo e continua o mesmo regime de seu antecessor. Era um tempo em que as pessoas tinham o maior prazer em dançar e brincar e, por isso, faziam exaustivos ensaios e constantes reuniões para unificar e valorizar o grupo, ali discutiam os erros e novas programações.
Em 06 de janeiro de 1995 morre Inácio Gentil – o mestre Déo – vítima de trombose. O grupo fica órfão e cumpre um ritual interno de três anos sem atividade. Em 1999 o Matruá Luiz Francelino (hoje falecido) conduz uma reunião e resolvem reiniciar suas atividades quando elegem para Mestre Manoel Clemente, um dos mais antigos brincantes e para presidente Severino Roberto. Devido a problemas pessoais Manoel Clemente afastou-se e Severino Roberto – o Mestre Birico – assumiu o comando do grupo.
O grupo é composto por uma média de 42 brincantes, sendo 34 homens e 08 mulheres. Há pessoas com 60 anos e crianças com 6 anos. A variedade de idade é uma forma de manter o grupo renovado e, também, cumprir a organização hierárquica em que o mais experiente é o guia e o menor componente fica no final da fila e é conhecido como peró-mingu.
As apresentações iniciam-se com a primeira forma que é um estilo lento em que dançam e arrastam os pés preparando-se para iniciar o Baiano que é uma dança mais movimentada onde os brincantes trocam os pés e fazem movimentos em que balançam o corpo de um lado para o outro iniciando o baiano do bêbado. Há várias formas de dançar caboclo e entre elas estão o Capão, a parte de guerra, do arco, do cipó e a despedida.
Atualmente os Cabocolinhos de Ceará-Mirim são Patrimônios Vivos do RN e representarão o Estado em todos os eventos culturais no território nacional ou internacional. A preocupação do mestre Birico é manter a tradição e preservar aquela manifestação popular com todos os traços de antigamente, pois, é importante para o município que o grupo represente suas reminiscências e costumes. Espero que o futuro testemunhe nossas preocupações e não nos deixe um presente sem passado se não fizermos alguma coisa hoje, o amanhã terá um enorme vazio no âmbito de nossas manifestações culturais.

Conheça um pouco dos Cabocolinhos clicando aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=Jne0OILOEXM&feature=channel

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