Não sabia que o destino me colocaria tão próximo daquela manifestação popular. Em 2003 tive meu primeiro contato com o mestre Birico coordenador dos Cabocolinhos. Lembro que o via passar e pensava que era um cara difícil de se comunicar e, por isso, havia uma barreira entre nós. Naquela época já conhecia o Congo de Guerra, o Boi de Reis, e o Pastoril.
Gibson Machado - Auto da Liberdade em Mossoró - 2004
A minha amizade com o Mestre teve como ponto inicial minha primeira viagem a Mossoró quando o grupo participou das comemorações do Auto da Liberdade no ano de 2004. Sempre que posso visito meu amigo e discutimos assuntos pertinentes ao grupo. Nossa última ação juntos foi a inscrição para o Premio Patrimônio Vivo do RN em 2009.
A parceria com os brincantes é uma forma de tentarmos manter o grupo em atividade, uma vez que há muitas dificuldades com relação às influências de novas culturas no grupo, através do acesso a outras manifestações modernas que se tornam mais atrativas por serem atuais.
A nova geração de brincantes precisa aprender a valorizar as tradições, pois elas existem, dentro desse grupo, há mais de oitentas anos e é inconcebível deixá-las desaparecer. É importante que aceitemos o dinamismo dos eventos culturais sem, no entanto, transformá-los em novos elementos. Por isso é preciso ensinar os novos componentes a importância da preservação do “brinquedo”, que de certa forma, é uma representação de antigas tradições indígenas de tribos que habitavam o vale do Baquipe, hoje Rio Ceará-Mirim, onde nasceu o Índio Poti.
Os componentes do grupo são, em sua maioria, formados por jovens de uma mesma família, cuja origem é na ribeira do Rio Ceará-Mirim, conhecida como baixo vale. Atualmente são conhecidos como os “Cabocolinhos da rua da Telern” devido suas residências estarem próximas a antiga sede da Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte.
A origem do grupo é muito discutível, pois, segundo relatos dos mais antigos, iniciou na família por volta do ano 1929. Os primeiros mestres foram Joaquim Inácio e Chico Emídio.
No inicio dos anos 1960 o mestre era Sebastião Marques e o Guia Inácio Gentil. Naquela época os brincantes eram muito mais disciplinados, pois o mestre os conduzia com uma espada e, quando necessitava, organizava a estética do grupo utilizando aquele instrumento. Em 1963 o mestre Inácio Gentil assume o grupo e continua o mesmo regime de seu antecessor. Era um tempo em que as pessoas tinham o maior prazer em dançar e brincar e, por isso, faziam exaustivos ensaios e constantes reuniões para unificar e valorizar o grupo, ali discutiam os erros e novas programações.
Em 06 de janeiro de 1995 morre Inácio Gentil – o mestre Déo – vítima de trombose. O grupo fica órfão e cumpre um ritual interno de três anos sem atividade. Em 1999 o Matruá Luiz Francelino (hoje falecido) conduz uma reunião e resolvem reiniciar suas atividades quando elegem para Mestre Manoel Clemente, um dos mais antigos brincantes e para presidente Severino Roberto. Devido a problemas pessoais Manoel Clemente afastou-se e Severino Roberto – o Mestre Birico – assumiu o comando do grupo.
O grupo é composto por uma média de 42 brincantes, sendo 34 homens e 08 mulheres. Há pessoas com 60 anos e crianças com 6 anos. A variedade de idade é uma forma de manter o grupo renovado e, também, cumprir a organização hierárquica em que o mais experiente é o guia e o menor componente fica no final da fila e é conhecido como peró-mingu.
As apresentações iniciam-se com a primeira forma que é um estilo lento em que dançam e arrastam os pés preparando-se para iniciar o Baiano que é uma dança mais movimentada onde os brincantes trocam os pés e fazem movimentos em que balançam o corpo de um lado para o outro iniciando o baiano do bêbado. Há várias formas de dançar caboclo e entre elas estão o Capão, a parte de guerra, do arco, do cipó e a despedida.
Atualmente os Cabocolinhos de Ceará-Mirim são Patrimônios Vivos do RN e representarão o Estado em todos os eventos culturais no território nacional ou internacional. A preocupação do mestre Birico é manter a tradição e preservar aquela manifestação popular com todos os traços de antigamente, pois, é importante para o município que o grupo represente suas reminiscências e costumes. Espero que o futuro testemunhe nossas preocupações e não nos deixe um presente sem passado se não fizermos alguma coisa hoje, o amanhã terá um enorme vazio no âmbito de nossas manifestações culturais.
Conheça um pouco dos Cabocolinhos clicando aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=Jne0OILOEXM&feature=channel
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