MADALENA ANTUNES PEREIRA Madalena Antunes Pereira e Olympio Varella - foto datada de 28/05/1900
A Ata Diurna da Sexta-feira, 12 de junho de 1959, de Luiz Câmara Cascudo, publicada no Jornal da República transmite preciosos dados da vida e morte da eterna Sinhá - moça do Ceará-Mirim.
Maria Madalena Antunes Pereira nasceu à 25 de maio de 1880 e faleceu aos 11 de junho de 1959. Sinhá moça do oiteiro, menina de engenho sonoro, coméia de escravos sem troncos e sem chibata, labuta dos citos sem lágrimas. Última sobrevivente da aristocracia rural de Ceará-Mirim sempre demonstrou um espírito fidalgo, irmã das escravas e senhora das amigas. Para todos nós, era uma valorização feminina, valorizava o sexo pela graça, pela malícia, pela finura, pela elevação da conduta vivida, em linha reta erguendo a mão para abençoar e baixando-a para escrever. Escreveu o primeiro livro de memória feminina do norte brasileiro “Oiteiro”, onde reviveu o passado trazendo-o a fixação presente pelo irreversível impulso de alegria sonora e rica como um guiso de ouro cristal. Não envelheceu para entristecer-se para anoitecer os dias contemporâneos, apenas a vida, tornou-se a mais experiente, mas vibrante, recobrindo de intenção notiva as causas que tinham desaparecido. Deus lhe deu a varinha de condão de “Maria Borralheira”, transformava em música cantigas, festas coloridas de crepúsculo e reais e noites de luar sideral as paisagens sumidas e pobres. Tudo era possível voltar a viver quando ela queria evocar.
Quando não podia mais andar, sentou-se na cadeira como uma rainha no trono para aceitar a servidão jubilosa de todos os seus, a família e os amigos que era todos a sua família também.
Ficou como uma roseira, flor de todo ano, não precisando mover-se para frutificar e deslocar-se para o milagre do perfume e da compreensão total.
Madalena lia muito, mas a sua cultura era uma soma de intuições surpreendentes. O livro pouco trazia de ensino, era sua vida interior que a iluminava toda, como uma lâmpada de prata derrama a transparência clareada pela amplidão informe. Morreu aos 79 anos ainda moça, muito mais moça do que suas trisnetas. Conservava a força exultante de um júbilo espontâneo e poderoso que se derramava ao derredor como uma luz cheia de benção.
Morreu pensando em escrever, escrever para perpetuar sua terra e sua gente num ambiente de ternura, de bondade, de cores leves e românticas do amanhecer de noivado.
A vida não conseguiu decepcioná-la, torturou-a, mas não a venceu. Madalena estava por cima do tempo, da vida, das tempestades que sacodem aqueles que andam arrastados nos caminhos do mundo. Ela voava livre de todas as leis da gravidade, no tapete mágico dos sonhos tendo na mão fina e nobre, a lâmpada de Aladim.
Só sabia escrever evocando, matando a morte pela saudade, enchendo o horizonte de versos, de anseios, de lembranças, de pensamentos idos e vividos, bailantes, intermináveis, incessantes como pirilampos.
Cascudo afirmou: Não posso vê-la, pela primeira vez imóvel e silenciosa, os olhos claros apagados e a voz sem as águas vivas da comunidade criadora. Voltando para o céu, deixo-nos a última alegria viva, familiar e linda em sua legitima telúrica, da terra do vale do Ceará-Mirim.
A Ata Diurna da Sexta-feira, 12 de junho de 1959, de Luiz Câmara Cascudo, publicada no Jornal da República transmite preciosos dados da vida e morte da eterna Sinhá - moça do Ceará-Mirim.
Maria Madalena Antunes Pereira nasceu à 25 de maio de 1880 e faleceu aos 11 de junho de 1959. Sinhá moça do oiteiro, menina de engenho sonoro, coméia de escravos sem troncos e sem chibata, labuta dos citos sem lágrimas. Última sobrevivente da aristocracia rural de Ceará-Mirim sempre demonstrou um espírito fidalgo, irmã das escravas e senhora das amigas. Para todos nós, era uma valorização feminina, valorizava o sexo pela graça, pela malícia, pela finura, pela elevação da conduta vivida, em linha reta erguendo a mão para abençoar e baixando-a para escrever. Escreveu o primeiro livro de memória feminina do norte brasileiro “Oiteiro”, onde reviveu o passado trazendo-o a fixação presente pelo irreversível impulso de alegria sonora e rica como um guiso de ouro cristal. Não envelheceu para entristecer-se para anoitecer os dias contemporâneos, apenas a vida, tornou-se a mais experiente, mas vibrante, recobrindo de intenção notiva as causas que tinham desaparecido. Deus lhe deu a varinha de condão de “Maria Borralheira”, transformava em música cantigas, festas coloridas de crepúsculo e reais e noites de luar sideral as paisagens sumidas e pobres. Tudo era possível voltar a viver quando ela queria evocar.
Quando não podia mais andar, sentou-se na cadeira como uma rainha no trono para aceitar a servidão jubilosa de todos os seus, a família e os amigos que era todos a sua família também.
Ficou como uma roseira, flor de todo ano, não precisando mover-se para frutificar e deslocar-se para o milagre do perfume e da compreensão total.
Madalena lia muito, mas a sua cultura era uma soma de intuições surpreendentes. O livro pouco trazia de ensino, era sua vida interior que a iluminava toda, como uma lâmpada de prata derrama a transparência clareada pela amplidão informe. Morreu aos 79 anos ainda moça, muito mais moça do que suas trisnetas. Conservava a força exultante de um júbilo espontâneo e poderoso que se derramava ao derredor como uma luz cheia de benção.
Morreu pensando em escrever, escrever para perpetuar sua terra e sua gente num ambiente de ternura, de bondade, de cores leves e românticas do amanhecer de noivado.
A vida não conseguiu decepcioná-la, torturou-a, mas não a venceu. Madalena estava por cima do tempo, da vida, das tempestades que sacodem aqueles que andam arrastados nos caminhos do mundo. Ela voava livre de todas as leis da gravidade, no tapete mágico dos sonhos tendo na mão fina e nobre, a lâmpada de Aladim.
Só sabia escrever evocando, matando a morte pela saudade, enchendo o horizonte de versos, de anseios, de lembranças, de pensamentos idos e vividos, bailantes, intermináveis, incessantes como pirilampos.
Cascudo afirmou: Não posso vê-la, pela primeira vez imóvel e silenciosa, os olhos claros apagados e a voz sem as águas vivas da comunidade criadora. Voltando para o céu, deixo-nos a última alegria viva, familiar e linda em sua legitima telúrica, da terra do vale do Ceará-Mirim.
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