Flavia Sobral e Ciro Tavares - primos de 3º grau
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim adormecida.
Regresso saudoso e no encontro lamento teu destino, renascida Tróia, na Via Láctea suspensa pelo novelo de Ariadne.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim eterna, submersa no vale, rasgado pelo rio. Vento, sol, neblina, entrelaçados, tecem, no abandono, verdes que alucinam, pelas mãos dos fantasmas nos escombros dos engenhos.
Cidade abençoada, submetida aos sonhos construídos à sombra dos antigos átrios, circulados de colunas jônicas.
O pólen, expirado pelos poros da cana-de-açúcar, viajou no colo da brisa do estio.
Pelas ruínas das venezianas, entregou sua estranha alma aos nossos corpos e, no silêncio das noites, extinguiu as velas de oratórios ancestrais como se nossas vidas apagassem.
II
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim, o espírito dos antepassados, a rapidez do tempo substituiu por envelhecidas sombras fixadas na arquitetura.
Apenas a igreja, consagrada à Virgem da Imaculada Conceição, resiste e desafia à decadência.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim das manhãs fugidias nos invernos, claros matizes recolhidos por duendes à caixa de Pandora.
Presos entre salas e alpendres, os meninos brincavam, mas doía-lhes a umidade, emanante do assoalho e das paredes.
Na queda intermitente da água, as biqueiras davam a impressão de pêndulos metálicos que, nos relógios, arrastavam horas preguiçosas.
III
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim.
O milagre, no final da invernada, devolução do azul ao céu escampo, lusco-fusco vespertino a conduzir nas chalupas da noite as sombras do ocaso, coaxar de rãs nos charcos, monocórdicos ruídos de grilos e besouros, a efêmera luz dos frágeis vaga-lumes.
Claros das luas espraiados nos telhados, novenas de maio, rosário de dezembro, casais de namorados nas calçadas, terraços elevados, violões harmoniosos, um estudo de Tárrega, uma sonata de Beethoven, débil luz de candeeiros, refulgindo a aguardente nas taças cristalinas.
A fumaça dos cigarros evolando-se, a solidão noturna das ladeiras, o quadro de lembranças concluído.
IV
Nas esquinas vazias, a alma dos avôs, o aroma fresco da alfazema, a lentidão dos passos.
De repente, o sino melancólico, distante, Senhor da vida, escurecendo lâmpada, estrela cadente, vida arrebatada, o caminho da estação do trem das Parcas, o último minuto, lágrimas, adeus.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim adormecida.
Nada regressará do mistério da viagem.
Somente eu pareço desperto no teu seio, até que a vida me liberte da saudade.
Ciro José Tavares da Silva, nascido em Natal, a 25 de agosto de 1940, formou-se em Direito na Faculdade de Direito de Recife em 1964. De 1964 a 1980 militou na imprensa, exerceu a advocacia e integrou os quadros funcionais da Esso Brasileira de Petróleo e da Siderúrgica Açonorte, ocupando funções Administrativas. Em 1981, estimulado por seus pais, abandona definitivamente tarefas vinculadas a empresas, viaja à Europa e na volta retoma sua profissão de advogado.
Iniciou-se efetivamente na literatura em 1987, publicando, a convite do jornalista Marcus Prado, dois poemas na coluna do jornal Diário de Pernambuco. Um ano depois, recebe o Prêmio Ladjane Bandeira de Poesia com o livro “Além da Rosa-dos-Ventos”, posteriormente selecionado pela UBE, RJ para o Prêmio Jorge Lima de Poesia. Contudo, sua publicação pela FUNDARPE, uma semana antes da premiação, levou o autor a retirar sua inscrição, porquanto a obra não mais correspondia ao espírito do certame, destinado a estreantes. Paralelamente, na mesma ocasião, seu “As Elpses de Phoenix” credenciara-se para o Prêmio Jorge Fernandes de Poesia, também da UBE-RJ.
A nível regional, recebeu, duas vezes, o Prêmio de Poesia Raymundo de Moraes, do Gremio Cultural Rubem Van Der Linden e da Academia de Letras de Garanhuns (PE). Integrou diversas antologias de poesias no Brasil e no Exterior. Publicou ainda Baladas e Moinhos, seu terceiro livro de poesias, e as biografias À sombra do Tempo, sobre seu pai, o cirurgião José Tavares da Silva, e A Sinfonia do outono, sobre a figura centenária de João Paulo de Souza, um ícone do mundo empresarial do Rio Grande do Norte. Resgatou e organizou o livro Álbum de Versos Antigos, de Adele de Oliveira, sua tia-avó.
Eu conheci Ciro quando fazia contatos em Ceará-Mirim para a publicação do livro de sua tia-avó a poetisa Adelle de Oliveira. Fizemos uma reunião na Biblioteca Municipal e gravamos seu depoimento a respeito dos poemas e jornais deixado pela poetisa.
O escritor é descendente da família Sobral de Ceará-Mirim, e, quando criança, passou muitas férias na residência de Adelle ao lado da linha do trem onde conheceu a história dos engenhos do vale, principalmente, o Engenho Cumbe já em ruínas.
Para homenagear Ceará-Mirim o poeta escreve, em seu livro ANÊMONAS o poema Ode a Ceará-Mirim.
Iniciou-se efetivamente na literatura em 1987, publicando, a convite do jornalista Marcus Prado, dois poemas na coluna do jornal Diário de Pernambuco. Um ano depois, recebe o Prêmio Ladjane Bandeira de Poesia com o livro “Além da Rosa-dos-Ventos”, posteriormente selecionado pela UBE, RJ para o Prêmio Jorge Lima de Poesia. Contudo, sua publicação pela FUNDARPE, uma semana antes da premiação, levou o autor a retirar sua inscrição, porquanto a obra não mais correspondia ao espírito do certame, destinado a estreantes. Paralelamente, na mesma ocasião, seu “As Elpses de Phoenix” credenciara-se para o Prêmio Jorge Fernandes de Poesia, também da UBE-RJ.
A nível regional, recebeu, duas vezes, o Prêmio de Poesia Raymundo de Moraes, do Gremio Cultural Rubem Van Der Linden e da Academia de Letras de Garanhuns (PE). Integrou diversas antologias de poesias no Brasil e no Exterior. Publicou ainda Baladas e Moinhos, seu terceiro livro de poesias, e as biografias À sombra do Tempo, sobre seu pai, o cirurgião José Tavares da Silva, e A Sinfonia do outono, sobre a figura centenária de João Paulo de Souza, um ícone do mundo empresarial do Rio Grande do Norte. Resgatou e organizou o livro Álbum de Versos Antigos, de Adele de Oliveira, sua tia-avó.
Eu conheci Ciro quando fazia contatos em Ceará-Mirim para a publicação do livro de sua tia-avó a poetisa Adelle de Oliveira. Fizemos uma reunião na Biblioteca Municipal e gravamos seu depoimento a respeito dos poemas e jornais deixado pela poetisa.
O escritor é descendente da família Sobral de Ceará-Mirim, e, quando criança, passou muitas férias na residência de Adelle ao lado da linha do trem onde conheceu a história dos engenhos do vale, principalmente, o Engenho Cumbe já em ruínas.
Para homenagear Ceará-Mirim o poeta escreve, em seu livro ANÊMONAS o poema Ode a Ceará-Mirim.
I
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim adormecida.
Regresso saudoso e no encontro lamento teu destino, renascida Tróia, na Via Láctea suspensa pelo novelo de Ariadne.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim eterna, submersa no vale, rasgado pelo rio. Vento, sol, neblina, entrelaçados, tecem, no abandono, verdes que alucinam, pelas mãos dos fantasmas nos escombros dos engenhos.
Cidade abençoada, submetida aos sonhos construídos à sombra dos antigos átrios, circulados de colunas jônicas.
O pólen, expirado pelos poros da cana-de-açúcar, viajou no colo da brisa do estio.
Pelas ruínas das venezianas, entregou sua estranha alma aos nossos corpos e, no silêncio das noites, extinguiu as velas de oratórios ancestrais como se nossas vidas apagassem.
II
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim, o espírito dos antepassados, a rapidez do tempo substituiu por envelhecidas sombras fixadas na arquitetura.
Apenas a igreja, consagrada à Virgem da Imaculada Conceição, resiste e desafia à decadência.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim das manhãs fugidias nos invernos, claros matizes recolhidos por duendes à caixa de Pandora.
Presos entre salas e alpendres, os meninos brincavam, mas doía-lhes a umidade, emanante do assoalho e das paredes.
Na queda intermitente da água, as biqueiras davam a impressão de pêndulos metálicos que, nos relógios, arrastavam horas preguiçosas.
III
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim.
O milagre, no final da invernada, devolução do azul ao céu escampo, lusco-fusco vespertino a conduzir nas chalupas da noite as sombras do ocaso, coaxar de rãs nos charcos, monocórdicos ruídos de grilos e besouros, a efêmera luz dos frágeis vaga-lumes.
Claros das luas espraiados nos telhados, novenas de maio, rosário de dezembro, casais de namorados nas calçadas, terraços elevados, violões harmoniosos, um estudo de Tárrega, uma sonata de Beethoven, débil luz de candeeiros, refulgindo a aguardente nas taças cristalinas.
A fumaça dos cigarros evolando-se, a solidão noturna das ladeiras, o quadro de lembranças concluído.
IV
Nas esquinas vazias, a alma dos avôs, o aroma fresco da alfazema, a lentidão dos passos.
De repente, o sino melancólico, distante, Senhor da vida, escurecendo lâmpada, estrela cadente, vida arrebatada, o caminho da estação do trem das Parcas, o último minuto, lágrimas, adeus.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim adormecida.
Nada regressará do mistério da viagem.
Somente eu pareço desperto no teu seio, até que a vida me liberte da saudade.
Preciso de um exemplar do livro de Adele de Oliveira. Gostaria de saber onde posso adquiri-lo.
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