quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DA ARTE

Ceará-Mirim, ao longo e sua história, sempre esteve envolta com assuntos polêmicos que desagradavam a população. A imprensa procurava injetar palavras de estímulos aos concidadãos através de artigos que infamavam o ego e a auto-estima de seus leitores. Assim, garimpando meus arquivos, encontrei algumas dessas pérolas publicadas na Folha do Valle na década de 1930.

FOLHA DO VALLE
ANNO 1 – HEBDOMADARIO DE LETRAS E NOTÍCIAS – NÚMERO 6
RIO GRANDE DO NORTE – CEARÁ-MIRIM, 31 DE MARÇO DE 1935

CEARÁ-MIRIM, ACORDA!

Ceará-Mirim já teve a sua época áurea de progresso material e intelectual. Em tempos idos, a cidade verde era uma affirmação de vida e de esforço de seu povo. Hoje, resta apenas, das recordações mais próximas, a tristeza do passado. A voragem do tempo já matou no coração dos filhos da gleba ubérrima, crostada pelos raios do sol tropical, a fé gloriosa nos seus destinos.
Enquanto a população desiludida de melhoramentos se entrega aos seus quotidiannos affazeres, a terra verde alheia à sua própria sorte ...(texto ilegível) – a última esperança de seu sonho, de sua ilusão.
Ceará-Mirim, acorda!
Desperta dessa lethargia que te mata.
Dize àqueles a quem criastes e alimentastes, que elles são os exclusivos culpados de tua decadência actual.
Ensinaios a ser dynamicos e idealistas. É preciso, para tua completa rehabilitação no conceito dos centros adiantados, que não persistam as rotinas archaicas, a indifferença criminosa pelos elevados emprehendimentos, as (...) intestinas que não constroem, a prepponderância desaggregadora dos elementos alienígenas e a violentíssima e cruel hostilização dos legítimos rebentos do teu solo.
Pobre cidade triste! Não passarás de uma vasta necrópole solitária e branca, onde mãos humanas e más plantaram as primeiras sementes do egoísmo e do pessimismo que teem desgraçado os homens.

“Aluizio Macedônio”

NOTAS DE UM IMBECIL

Ceará-Mirim, posseu valores que viajam no anonimato criminoso do ostracismo literário, aos quais urge accordar, custe o que custar.
“Folha do Valle” confiante na verdade do axioma, “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, será o pingo d’água a bater sempre na consciência dos mesmos, até despertalos para a grande jornada de glória.
Para falar dos velhos citaremos entre os primeiros, o espírito altamente intelectual de Riquette Perreira, o “Ripper” assíduo na colaboração de almanaques de charadas, o qual pode com sua assistência literária, engrandecer as colunnas de qualquer orgam de imprensa.
Magdalena Pereira, figura para a qual toda e qualquer qualidade boa que se lhe empreste, é cabível e acceitável, não só pela sua inteligência privilegiada, como pelos altos dons espirituais de bondade que accentuam todo e qualquer caráter, na demonstração de grande luz que guia a humanidade, conhecida pelo suave e brando nome de virtude.
Seu estylo é macio como um arminho, pois nelle esta o reflexo da alma de quem o fez. Os assuntos de seus escritos, medram pela singeleza como que, com nervoso de ferir alguém.
Retrata Ella também, sua vida, que é sempre pautada m nunca melindrar quem quer que seja.
Espíritos assim têm muito que produzir, não podem viver no marasmo pernicioso da ociosidade intelectual.
Dolores Cavalcanti, alma mística, sempre em preces nos tepos, esquecida de que pode ser a nossa Auta de Souza, com seu estylo seráfico.
Adelle de Oliveira, que talvez pela sua convivência com as letras, no mourejar de professora, sempre nos lega, bellas produções, não se negando a um smola, quando se bate à porta de sua alma Lyra mágica.
Augusto Meira, o qual por mais que nos roube o Pará, seu talento sempre é nosso pela tradição de sua família. Daqui destas collunas, embora atrevidamente, pedimos sua collaboração para edições de honra, por termos o exemplo de que grandes árvores, a colhem sempre os pequenos que lhe suplicam um pouco de sombra, para descando de um jornada longa.
Seu talento faz ephoca, sua collaboração a qualquer jornal, seu estylo é escola e sua bondade caracteriza seu coração.
Coma boa vontade de todos, pode muito bem um dia, “Folha do Valle” ser grande como a terra que lhe serviu de berço; productivo como o Valle que lhe emballa o somno e abençoada por toda uma geração, que há de se formar em sua fenda, ouvindo e guardando santamente as lições dos mestres acima.
No próximo número trataremos dos “novos” espíritos, ainda em formação, e já dominados pela moléstia dos velhos – a preguiça literária.

“Zé do Patú”

Analisando os textos publicados 70 anos passados verificamos que a realidade atual não é muito diferente, daquela, tão preocupadamente publicada pelos colunistas Aluizio e Zé do Patu.

Atualmente os produtores de arte de nossa província estão, também, hibernando intelectualmente, uma vez que não temos o hábito de apreciar, fruir e consumir cultura.

Nossos artistas precisam de espaço e incentivo para que possam produzir com qualidade, pois, não adianta criarem suas obras sem podê-las comercializá-las adequadamente.

É necessário desenvolvermos meios onde nossa arte possa chegar até a formação escolar de base, pois, acredito que a solução está nas séries iniciais de nossas escolas, lá, poderemos fazer um trabalho primitivo em que as crianças tenham os primeiros contatos com a arte e cultura de nossa terra, através de oficinas permanentes de artes visuais, música, dança e teatro.

O ensino da arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana, desenvolvendo sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas.

Ernest Fisher, em seu livro “A necessidade da arte”, diz que um artista só pode exprimir a experiência daquilo que seu tempo e suas condições sociais têm para oferecer. Para ele a subjetividade de um artista não consiste em que a sua experiência seja fundamentalmente diversa da dos outros homens do seu tempo e de sua classe, mas consiste em que ele seja mais forte, mais consciente e mais concentrada.

A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la com a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte é uma realidade social.

A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas, a de abrir portas fechadas. Quando o artista descobre novas realidades, porém, ele não o consegue apenas para si mesmo; ele realiza um trabalho que interessa a todos os que querem conhecer o mundo em que vivem, que desejam saber de onde vêm e para onde vão.

Assim como a linguagem representa em cada indivíduo a acumulação de milênios de experiências coletiva, assim como a ciência equipa cada indivíduo com o conhecimento adquirido pelo conjunto da humanidade, da mesma forma a função permanente da arte é recriar para a experiência de cada indivíduo a plenitude daquilo que não é, isto é, a experiência da humanidade em geral. A magia da arte está em que, nesse processo de recriação, ela mostra a realidade como passível de ser transformada, dominada e tornada brinquedo.

Ceará-Mirim é um celeiro de artistas em todas as áreas, poderia elencar dezenas de nomes, no entanto, citarei alguns como: Santana, Careca e Naldo Santiago, Mucio Vicente, Cresio Torres, Mizael Neto, Allan e Alex Miranda, Miguel Neto, Luciano, Joãozinho Sobral, Daniel Torres, Vilela, Cícero e Julio Siqueira, Ojuara, Alice Brandão, Thiago Varela, Vera Barreto, Vanilde Machado, Francisco Januncio, Francisco Navegantes, Fabio Luiz, Palhaço Pipoca, Grupo Renovação, Louc’art, escritores e historiadores como Helicarla Morais, Caio Azevedo, e tantos outros que ficaria cansativo citá-los aqui.

Nossos artistas são eternos divulgadores das alegrias e tristezas de nossa terra e, certamente, nunca deixarão de nos presentear com suas obras, porque enquanto a própria humanidade não morrer, a arte não morrerá.

Um comentário:

  1. QUE A PARTÍR DESTA DATA SÓ COISAS BOAS ACONTEÇAM NA SUA VIDA. FELIZ 2010. UM ABRAÇO.

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