sábado, 18 de setembro de 2010

A ROSA AMARELA


A Rosa Verde existe, diz Nilo Pereira, filho do Verde Nasce e neto do Guaporé: “É preciso ter olhos de infância para encontrá-la. No meio do canavial, escondida, tímida, ela floresce. Perde-se no colorido denso do vale. Só uma criança pode vê-la."

Sábado, 18 de setembro de 2010 fui com um amigo de São João do Seridó - o artista plástico Wandemberg, sua esposa Jaci e filha - conhecer o velho Guaporé. Durante a visita percebi que a Rosa Verde existe...não era bem uma rosa verde, mas, uma linda e frágil, rosa amarela...simbolicamente, uma Rosa Verde... a minha Rosa Verde.
Foi assim que eu a encontrei, entre plantas aquáticas, flutuando no heroico Rio Água Azul. Haviam feito uma limpeza na área, onde seriam plantadas mudas de cana, para a nova safra da usina.
O som da água corrente me chamou a atenção e, logo atrás da casa de banho do engenho Guaporé, descia majestoso, o resistente rio Água Azul, cortando o vale e deixando suas marcas milenares no canavial.
Observei que a terra estava removida e a margem esquerda do rio parecia ter sido totalmente revirada. Nada o protege das intempéries naturais, podendo ser soterrado pela argila depositada às margens de todo o seu curso. Demorei alguns minutos olhando aquela paisagem sem vida.
Rio Água Azul - onde a mata ciliar para protegê-lo???
Uma bomba retirava a água do rio para irrigar a plantação de cana e muitos gaviões e carcarás sobrevoavam o vale em busca de comida... faziam uma festa!!!
Desci um pouco para me aproximar da bomba e fiquei surpreso quando vi a rosa amarela, tão frágil, tão bela, estava lá, banhada pelos raios luminosos de um sol ardente que ao refletirem nas pétalas, pareciam uma luz divinal...
Sua luminosidade me fez recordar o grande neto daquela casa senhorial, Nilo Pereira, e um filme foi passando e repentinamente via aquele lugar cheio de gente, cambiteiros, meninos correndo e sinhás sendo levadas para o banho matinal na secular casa de banho em frente ao velho solar.


CASA DE BANHO DO ENGENHO GUAPORÉ

Não pude me conter e uma tristeza imensa envolveu todo meu ser... Como poderemos salvar o centenário casarão??? Como é possível pessoas inteligentes deixarem que um marco histórico e cultural como o guaporé agonize e seja engolido pela estupidez e insensatez das autoridades (IN)competentes???
É preciso enfrentar os infortúnios suscitados pelos responsáveis diretos daquele patrimônio com determinação e exigir que a justiça faça seu papel e determine a imediata restauração do casarão e de toda a área em volta do mesmo.



Os filhos de Ceará-Mirim não devem deixar que a memória da cidade seja roubada pela ganância, ignorância, insensibilidade de alienígenas que borboleteiam no vale em busca no próprio sucesso, esquecendo que, aqui, existiram pessoas e famílias inteiras que construíram uma história às custas de muito suor e sangue!!!
Não merecemos continuar derramando o mesmo suor e sangue... parece que a larva continua viva, devorando o consciente dos inconsequentes... Preciso confiar na tenacidade de minha rosa amarela... firme, viva, solitária, porém, sonhadora, acreditando que uma catarse poderá revigorar nossas quimeras seculares!!! Ave, ave, minha rosa amarela!!!



Corrimão da escada interna da casa do Guaporé em julho/2010



Roubaram o corrimão e as tábuas do assoalho do casarão - setembro/2010

Começaram a roubar as janelas... quando tomarão alguma providência??

2 comentários:

  1. É lamentável como o belo casarão do Guaporé vai aos poucos desaparecendo da paisagem dessa terra linda.Estive em visitação nesse mesmo período e também senti falta de partes dessas peças e de tantas outras ainda presentes há cerca de cinco anos atraz, quando tive o prazer de conhecer boa parte do patrimônio de ceará Mirim, muito bem apresntados por você. Infelizmente, como vítimas do abandono, não poderão ter outro fim, se não esse, o que é um dano irreparável para a nossa história.
    Um grande abraço!

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  2. Gibson:

    Quanto amor você dedica à nossa Velha e lendária Ceará Mirim.
    Estou pegando uma fotos do seu blogue.


    Lúcia Helena
    Bisneta do Guaporé

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