















Escritor Caio Azevedo - Abertura do evento e apresentação do Trio Shalon
Parazinho, Marcos Brandão, Fonseca e João Maria
O ambiente do Centro Esportivo e Cultural foi organizado pelo produtor cultural Rossini Cruz proprietário da Budega Véia e parceiro no projeto. A ideia era fazer uma ambientação que inspirasse uma velha budega onde poetas e cantores pudessem soltar a alma e viver momentos de pura exaltação. Assim aconteceu, todos os que participaram, o fizeram com muito entusiasmo.
A plêiade de artistas presentes no evento era uma riqueza indescritível, havia estilos para todos os gostos, poetas conhecidos como Bob Motta e Almir, deram um show de interpretação.
Poeta Bob Motta
Poeta Almir
O músico e, agora, advogado Marcos Brandão foi muito gente boa, pois adiou um compromisso para vir homenagear o amigo e companheiro de boemia. Junto com Toinho Parazinho tocaram a música VOCÊ, música de Amarildo em que ele canta um de seus amores Quixotesco...a Dulcinéia dos sonhos!
Marcos Brandão e Toinho Parazinho - ensaio para interpretar a música "você".
Amigos e parceiros lembraram os tempos de barzinho e serenatas, brincaram, contaram causos, declamaram poesias, fizeram tudo aquilo que puderam para relembrar o velho amigo, entre eles, Parazinho, João Maria Bigodinho, Fonseca, Chico Neguinho, Zé Walter e Gilsinho, este último, falou por todos os presentes, principalmente pela sobrinha do poeta que estava com a família e ficou muito emocionada.
A publicação do livro foi uma iniciativa da ACLA Academia Cearamirinense de Letras e Artes através do selo Edições Ceará-Mirim, sendo a primeira publicação de uma série de livros programados.
Para o evento acontecer o Centro Esportivo e Cultural e a ACLA tiveram como parceiros A Budega Véia, Marcos SOM, Alves Auto-peças e, principalmente, os artistas que fizeram com que a noite fosse maravilhosa.
No próximo ano será o 1º Tributo a Amarildo e, desde já, estamos solicitando a todos que tiverem fotografias, vídeos ou qualquer documento que faça referencia ao poeta que doem para Gilsinho, pois estamos organizando o memorial e, também, lutaremos para gravar um cd com suas músicas mais conhecidas.
Parazinho, Marcos Brandão, Gibson Machado e Fonseca
Mestre Joaquim, Gibson MAchado, Mestre Tião e Mestre Zé Baracho
05 de fevereiro de 2011.
Programei visitar os mestres Tião Oleiro e Zé Baracho na comunidade de Tabuão. Sabia que os encontraria, como de costume, sentados no oitão da casa, proseando como nos velhos tempos, relembrando fatos e causos que já vão distantes e somente a senilidade pode revivê-los com tanto sentimento.
Convidei outro companheiro de labuta e brinquedo, mestre Joaquim, para acompanhar-me no passeio. Ele aceitou e comunicou-me que levaria seu fiel escudeiro, um surrado cavaquinho, pois pretendia tirar umas cantigas com os velhos marujos do Congo de Guerra. Concordei e seguimos para Tabuão falando sobre os antigos engenhos e banguês do vale, suas riquezas, sua história e sua gente.
As reminiscências infanto-juvenis emocionavam o bardo menestrel, às vezes, sorria e lembrava fatos acontecidos na infância quando brincava nas terras do Engenho Laranjeiras, do velho Joca Sobral, pai de meu sogro Rafael Sobral. Dizia que sua vida foi passada nas bagaceiras e nos canaviais de Engenho Guanabara onde nascera, era um tempo que só volta nas lembranças, como uma quimera passageira, despertada pelo fantasmagórico apito das envelhecidas chaminés.
Os mestres cantando e tocando
Apesar de ser sábado de carnaval, marcando o inicio do período momesco, a comunidade parecia solitária, no entanto, lá estavam eles, sentadinhos como havia imaginado, conversando e fazendo previsões para o destino da cultura popular tão bem representada pelo brinquedo de Congo. Suas aparências melancólicas transformaram-se quando viram o velho amigo Joaquim, companheiro de tantos bailes e folguedos. A felicidade daquele encontro foi indescritível, eles falavam muito e lamentavam o tempo que não se viam.
Projeção do documentário do projeto Vernáculo
É difícil avaliar o tamanho da satisfação que tenho por ter proporcionado um momento tão significativo na vida dos companheiros de congada Tião, Zé Baracho e Joaquim, são muitos anos de convivência e vida: 96, 81 e 86 anos respectivamente, sobrevivendo a tantas diversidades e, apesar da importância de seus conhecimentos para a história e cultura brasileira, ainda são anônimos na terra em que nasceram e que ajudaram a construir com muito suor, lágrimas e desenganos, porém, a consternação é superada pelo reconhecimento e prazer que o folclore proporciona, embora, ultimamente, esteja em avançado estágio de hibernação cultural.
O objetivo da visita foi entregar aos mestres, os documentários que foram feitos com o grupo Congo de Guerra e projetá-los em telão para a comunidade assistir. Foi emocionante porque eles se viram e puderam sentirem-se como espectadores e o legal é que comentavam, cantavam e tocavam, acompanhando as jornadas. Foi uma tarde maravilhosa e inesquecível, um dia que ficará eternizado na memória de todos nós.
A próxima visita na comunidade será 10/03 – quinta-feira, quando farei reunião com a responsável pelo Centro Cultural, a jovem Emiliana, para tratarmos da continuidade do projeto Congo de Guerra e, também, do resgate das diversas manifestações populares que existiram na região e estão esquecidas, dessa forma, poderemos revitalizá-las dando um novo encaminhamento às propostas culturais local e, porque não, regional. Esse será o primeiro passo para podermos fomentar uma série de ações que possibilitem o reconhecimento e valorização das diversas tipologias artesanais tradicionais existentes e, também, revitalizar o Congo de Guerra, através de oficinas de dança e aulas teóricas sobre o fortalecimento da cultura popular.
Recentemente recebi o convite para participar do 47º Festival de Folclore de Olimpia no Estado de São Paulo, que se realizará nos dias 23 a 31 de julho. O convite se estende aos grupos folclóricos Cabocolinhos e Congo de Guerra. O festival homenageará o Estado do Rio Grande do Norte e Ceará-Mirim deverá, como outras cidades, representá-lo, pois o município tem o privilégio de ter dois Patrimônios Vivos que são Os Cabocolinhos e Mestre Tião Oleiro. É necessário que haja o apoio das instituições públicas para que nossa participação seja possível. Confiamos na sensibilidade daqueles que tem o poder de patrocinar um evento de tamanha importância para o município e, também, para o país, lembrando que no festival estarão representantes de vários estados brasileiros e diversos países.
A fim de fechar meu pequeno diário vou concluí-lo com um texto de Chaplin que fala da importância que é a amizade, a liberdade, a beleza e, principalmente da valorização da vida, sem cobiça, falsidade, desonestidade e tantas outras desumanidades. Um fragmento literário para reflexão:
“Caminho da Vida
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”
A ocupação das terras brasileiras se deu com a implantação simultânea da cultura canavieira. A organização da atividade açucareira, em seus traços gerais, tinha como elemento central o engenho, composto pela fábrica, com maquinário para retirar o caldo da cana e utensílios para produzir o açúcar, e pela grande propriedade para composição dos canaviais. Tal empreendimento foi estruturado com base no trabalho escravo, sob comando do senhor de engenho.
No Rio Grande do Norte, o cultivo da cana de açúcar teve início no século XVII. Em Ceará-Mirim, a indústria açucareira foi organizada em meados do século XIX, quando, em 1843, Antonio Bento Viana instalou o Engenho Carnaubal, que funcionou com a primeira moenda horizontal ao longo do vale.
Família do Coronel José Félix - início do século XX - Engenho Ilha Bela
Como conseqüência desse processo, a imagem político-social do senhor de engenho foi ofuscada pela figura do usineiro dinâmico, político e catalisador de influências. Diante da nova estrutura produtiva, muitos senhores, que não dispunham de recursos suficientes para modernizar suas unidades de produção, passaram à simples condição de fornecedores de cana-de-açúcar. A agroindústria se consolidava, alterando o cenário local. Muitos engenhos do município ficaram de “fogo morto”, pois muitos descendentes das tradicionais famílias cearamirinenses passaram a seguir carreira nos quadros do funcionalismo público.
A industrialização da atividade açucareira configurou uma nova realidade na produção, que atualmente é realizada pela Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim, novo nome da antiga Usina São Francisco, dirigida por Geraldo José da Câmara Ferreira de Melo. Dos vários engenhos existentes no vale, apenas o Mucuripe, de propriedade de Ruy Pereira Júnior, continua em funcionamento. Sua estrutura, que era organizada para produzir o açúcar mascavo, tem hoje seu maquinário adaptado para a fabricação apenas de mel e rapadura.
Porém, quando te vejo toda linda, toda verde em meus olhos doidos por ti olharem, és para mim quase menina, merecedora de uma rósea boneca de celulóide...
E não me desilude o teu colorido antigo; não me aborrece a tua monotonia; não me cansam os teus raios de sol, nem as tuas manhãs douradas, nem as tuas mesmas árvores, nem as tuas mesmas casas.
Esse teu cheiro bom de terra moça e virgem ainda não se dilui em meu olfato; esse teu perfume ainda esparso pelas madrugadas, pelas tardes de aves inquietas e felizes, pelo teu forte sol de meio-dia. Minha cidade, minha pobre cidade.
Existem em todos os meus sentidos, palpitas em todas as minhas emoções... Vejo-te sempre com o teu longo vestido verde, com as torres altas de tua igreja; vejo-te ainda em minha lembrança e no meu sonho...
Deixa que os outros digam que tu morres. Deixa que te julguem uma cidade túmulo, uma cidade deserta. Não deixaste de ser ainda para mim a cidade ilusão...
É pela esperança que me trazes, pela saudade que me deixas, pelo carinho que me concedes, minha triste cidade morta, e por todas as coisas que me ofertas em tua ternura e em tua beleza, que eu fecho os olhos às tuas ruínas e sofro contigo em teu desgosto...
Não chores porque os teus muros grisalhos te sepultam, não maldigas esse teu silêncio suave; e continua em tua volúpia de ser triste, ironicamente triste, com o teu largo vestido verde e os teus risonhos poentes, minha cidade ilusão, minha cidade viva, minha querida cidade morta...”