sábado, 5 de março de 2011

VISITA A TABUÃO



Mestre Joaquim, Gibson MAchado, Mestre Tião e Mestre Zé Baracho

05 de fevereiro de 2011.
Programei visitar os mestres Tião Oleiro e Zé Baracho na comunidade de Tabuão. Sabia que os encontraria, como de costume, sentados no oitão da casa, proseando como nos velhos tempos, relembrando fatos e causos que já vão distantes e somente a senilidade pode revivê-los com tanto sentimento.
Convidei outro companheiro de labuta e brinquedo, mestre Joaquim, para acompanhar-me no passeio. Ele aceitou e comunicou-me que levaria seu fiel escudeiro, um surrado cavaquinho, pois pretendia tirar umas cantigas com os velhos marujos do Congo de Guerra. Concordei e seguimos para Tabuão falando sobre os antigos engenhos e banguês do vale, suas riquezas, sua história e sua gente.

As reminiscências infanto-juvenis emocionavam o bardo menestrel, às vezes, sorria e lembrava fatos acontecidos na infância quando brincava nas terras do Engenho Laranjeiras, do velho Joca Sobral, pai de meu sogro Rafael Sobral. Dizia que sua vida foi passada nas bagaceiras e nos canaviais de Engenho Guanabara onde nascera, era um tempo que só volta nas lembranças, como uma quimera passageira, despertada pelo fantasmagórico apito das envelhecidas chaminés.

Os mestres cantando e tocando

Apesar de ser sábado de carnaval, marcando o inicio do período momesco, a comunidade parecia solitária, no entanto, lá estavam eles, sentadinhos como havia imaginado, conversando e fazendo previsões para o destino da cultura popular tão bem representada pelo brinquedo de Congo. Suas aparências melancólicas transformaram-se quando viram o velho amigo Joaquim, companheiro de tantos bailes e folguedos. A felicidade daquele encontro foi indescritível, eles falavam muito e lamentavam o tempo que não se viam.

Projeção do documentário do projeto Vernáculo

É difícil avaliar o tamanho da satisfação que tenho por ter proporcionado um momento tão significativo na vida dos companheiros de congada Tião, Zé Baracho e Joaquim, são muitos anos de convivência e vida: 96, 81 e 86 anos respectivamente, sobrevivendo a tantas diversidades e, apesar da importância de seus conhecimentos para a história e cultura brasileira, ainda são anônimos na terra em que nasceram e que ajudaram a construir com muito suor, lágrimas e desenganos, porém, a consternação é superada pelo reconhecimento e prazer que o folclore proporciona, embora, ultimamente, esteja em avançado estágio de hibernação cultural.
O objetivo da visita foi entregar aos mestres, os documentários que foram feitos com o grupo Congo de Guerra e projetá-los em telão para a comunidade assistir. Foi emocionante porque eles se viram e puderam sentirem-se como espectadores e o legal é que comentavam, cantavam e tocavam, acompanhando as jornadas. Foi uma tarde maravilhosa e inesquecível, um dia que ficará eternizado na memória de todos nós.

A próxima visita na comunidade será 10/03 – quinta-feira, quando farei reunião com a responsável pelo Centro Cultural, a jovem Emiliana, para tratarmos da continuidade do projeto Congo de Guerra e, também, do resgate das diversas manifestações populares que existiram na região e estão esquecidas, dessa forma, poderemos revitalizá-las dando um novo encaminhamento às propostas culturais local e, porque não, regional. Esse será o primeiro passo para podermos fomentar uma série de ações que possibilitem o reconhecimento e valorização das diversas tipologias artesanais tradicionais existentes e, também, revitalizar o Congo de Guerra, através de oficinas de dança e aulas teóricas sobre o fortalecimento da cultura popular.
Recentemente recebi o convite para participar do 47º Festival de Folclore de Olimpia no Estado de São Paulo, que se realizará nos dias 23 a 31 de julho. O convite se estende aos grupos folclóricos Cabocolinhos e Congo de Guerra. O festival homenageará o Estado do Rio Grande do Norte e Ceará-Mirim deverá, como outras cidades, representá-lo, pois o município tem o privilégio de ter dois Patrimônios Vivos que são Os Cabocolinhos e Mestre Tião Oleiro. É necessário que haja o apoio das instituições públicas para que nossa participação seja possível. Confiamos na sensibilidade daqueles que tem o poder de patrocinar um evento de tamanha importância para o município e, também, para o país, lembrando que no festival estarão representantes de vários estados brasileiros e diversos países.
A fim de fechar meu pequeno diário vou concluí-lo com um texto de Chaplin que fala da importância que é a amizade, a liberdade, a beleza e, principalmente da valorização da vida, sem cobiça, falsidade, desonestidade e tantas outras desumanidades. Um fragmento literário para reflexão:

“Caminho da Vida

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”

2 comentários:

  1. Gibson, boa noite!
    Nosso Estado é considerado um recanto privilegiado do Brasil e essas considerações não são meras palavras, pois termos o privilégio de possuir e, inúmeras vezes, participar de experiências maravilhosas como a de sermos apresentados a pessoa de Seu Tião. Você não faz idéia da minha emoção e do quanto privilegiada me sinto e do quanto me senti revigorada para trabalhar mais e mais em prol de nossos velhos costumes. Maravilha também descobrir uma pessoa com você - sangue nobre para as cosas que valem a pena. Obrigada por fazer parte hoje desse universo.
    Estou na luta para irmos ao Festival nacional de Folclore e lá apresentarmos as maravilhas d enossa cidade.
    Grande abraço no Birico, figura sensacional e no velho mestre.
    Abraços
    Séphora Bezerra
    Coordenadora do Pastoril DOna Joaquina
    São Gonçalo do Amarante - RN

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  2. Caro amigo professor e historiador Gibson Machado,é com imensa satisfação que venho postar mais um comentário no seu blog Ceará Mirim Arte e Cultura; desta vez para te agradecer pela oportunidade de ter em minhs mãos um exemplar de seu extraordinário e maravilhoso trabalho literário intitulado "CEARA MIRIM MEMORIA ICONOGÁFICA" creio que cada filho desta terra querida que ler e ver tantas imagens marcantes viaja no tempo como se vivenciando aquela época tão boa e histórica, eu voltei a ser criança nas ruas centenárias imaginando tantas coisas boas que viví no meu mundo encantado chamado CEARÁ MIRIM a voçe amigo Gibson o meu mais profundo OBRIGADO. Muito em breve enviarei a voçe algus dos meus trabalhos poeticos para ilustrar seu blog um grande abraço.Do mais novo amigo e admirador Cosme Frnandes de Souza de João Câmara RN.

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