O MUNDO COLORIDO DE ALICE BRANDÃO
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Já são mais de 15 mil quadros pintados por Alice Brandão, ao longo de 44 anos
O RETRATO DE ALICE
Por
Maria Betânia Monteiro
As telas de Alice Brandão são tão comuns nas paredes das casas e comércios em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, que os moradores da pequena cidade não conseguiram valorizar o trabalho da artista plástica. Ela precisou sair de sua terra natal para ser reconhecida em São Paulo. A qualidade de sua técnica e a diversidade de sua obra sugeriram ao artista plástico Dorian Gray um paralelo entre Alice Brandão e Cândido Portinari. "Portinari, assim como Alice, foi um retratista, além de trabalhar com o expressionismo social. Um artista do nível dela, que executa bem o trabalho figurativo, vai se dar bem em tudo o que fizer. O essencial é que ela saiba pintar e isso ela sabe", disse Dorian Gray Caldas.
Alice conta que em São Bernardo ela é chamada de a Picassiana, por ter feito uma releitura das obras de Picasso. Foram mais de 500 quadros, explorando a fase cubista do pintor espanhol, um número pequeno na frente dos mais de 15 mil quadros pintados por ela, ao longo de 44 anos dedicados às telas. Apesar do sucesso com a releitura da obra do espanhol, foram os retratos de pessoas e paisagens que prenderam a atenção da artista.
Alice Brandão mora atualmente na cidade de São Bernardo do Campo. No interior paulista, ela divide a casa com a família e pouco mais de 800 quadros, que vem acumulando nos últimos anos. "Eu durmo num quartinho nos fundos da casa, porque não tem mais espaço dentro", disse Alice. A confecção de telas faz parte de sua vida desde a infância. A sua mãe era artista plástica e se dedicava às paisagens. Como na cidade de Ceará-Mirim não havia quem restaurasse santos ou fizesse pinturas em igrejas e capelas, Alice passou a realizar a tarefa. Aos 14 anos começou a pintar quadros e a atividade era feita com tanta paixão, que a artista calcula ter feito de 1 a 2 quadros por dia. Alice tem hoje 58 anos.
O seu trabalho tornou-se muito popular em sua cidade, tanto que por lá não há paredes sem uma de suas telas. Apesar do número de trabalhos produzidos, o reconhecimento pelo seu talento e por sua dedicação veio na contramão. "Em Ceará-Mirim nunca recebi um título de reconhecimento. Ninguém me dava valor", disse Alice.
Uma realidade bem diferente da que conheceu em São Paulo. Depois de ficado sem o emprego de enfermeira, que é sua profissão, em São Bernardo dos Campos, a potiguar não viu outra saída a não ser dar aulas de artes plásticas. Procurou os ateliês da cidade e se ofereceu como professora. As pessoas aceitaram com desconfiança, mas acabaram descobrindo o talento da artista. "As pessoas ficaram assombradas com o que eu fazia e me incentivavam: você tem que ir pra São Paulo". E foi o que ela fez. Bateu na porta de um dos mais importantes ateliês paulistas, o Villas Boas e foi muito bem recebida pela dona, que dá nome ao ateliê. "A curadora disse que o meu trabalho deveria ser lançado internacionalmente e que não tinha condições de fazer isso por mim". As obras de Alice Brandão ficaram em exposição por dois anos na galeria.
E foi a galeria o ponto de virada de Alice. Lá ela fez uma faculdade integrada, onde teve os primeiros contatos com a arte do ponto de vista teórico. O curso foi para garantir à pintora, a capacidade de falar ao público sobre o seu próprio trabalho. Com a exposição e o curso, Alice passou a se valorizar e o suas telas ganharam boa cotação no mercado das artes. Se em Natal/RN a pintura de uma fisionomia rendia à artista, cerca de um salário mínimo, em São Paulo chegou a valer cerca de R$ 2.500,00.
A valorização se deu inclusive, pelas contínuas exposições. Uma em Portugal e várias em São Paulo. Sendo a do metrô, a mais significativa delas. Alice foi convidada para participar das comemorações do quadragésimo primeiro aniversário de funcionamento do metrô paulista e vários de seus quadros ganharam destaque nas paredes da estação da Sé, a mais movimentada de São Paulo.
Uma característica peculiar da artista é não vender os seus quadros, ao menos os que ficam em exposição. Foi assim com a releitura de Picasso, com a releitura de Portinari (que fez na década de 70) e tantos outros. Ela vende apenas os feitos sob encomenda que, aliás, garantem parte de seu sustento.
A outra parte é conseguida com as aulas que ministra em sua casa, onde montou um ateliê. Lá ela disse ser professora dos professores e se orgulha com um de seus alunos, um pintor mexicano, Jaime Colo, de 76 anos. "Ele é uma artista e com esta idade, se dirige a mim e me chama de professora".
Maria Betânia Monteiro
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