quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A ESCRAVIDÃO NO VALE DO CEARÁ-MIRIM

A ESCRAVIDÃO NO VALE DO CEARÁ-MIRIM
Por Wellington Márcio Bezerra de Lima
CASA GRANDE DO ENGENHO TIMBÓ DE DENTRO (demolida)

A partir do século XV, na “Era dos Descobrimentos”, o conjunto territorial que futuramente formaria o Brasil foi transformado em colônia de Portugal. Tal empreendimento foi realizado através de uma política mercantilista, baseada no trabalho escravo, principalmente de negros africanos, traficados em navios tumbeiros que, pelos portos de Salvador, Recife e Rio de Janeiro, eram comercializados para o trabalho nos engenhos do Nordeste.
No Rio Grande do Norte, a vinda de escravos teve início no século XVI, porém foi somente durante o século XIX que houve o aumento de sua presença, em razão da ampliação da produção açucareira na Província. Os cativos, então provenientes do Maranhão, eram desembarcados em Mossoró, Areia Branca e Macau, e vendidos aos grandes centros produtores de açúcar, os municípios de Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Goianinha e Canguaretama.
Em meados do século XIX, Ceará-Mirim despontou como um importante centro da monocultura canavieira. A fertilidade das terras do vale do Rio Ceará-Mirim proporcionou a instalação de mais de cinqüenta engenhos. Como conseqüência, a mão-de-obra escrava negra utilizada foi significativa, girando em torno de 3 mil escravos, sendo a maioria de origem angolana. Somente o Coronel Manuel Varela do Nascimento - Barão do Ceará-Mirim - proprietário do antigo Engenho São Francisco, fundado em 1857, chegou a possuir mais de 200 escravos, tratados com severidade.
A boa ou má fama do senhor era conferida aos senhores de engenho de acordo com os castigos aplicados à escravaria. As obras sobre a história de Ceará-Mirim, escritas com base em memórias, retratam a vida dos Engenhos Oitero, Verde Nasce e Timbó. O Tenente-coronel José Antunes de Oliveira e Victor de Castro Barroca, proprietários dos dois primeiros engenhos, ficaram conhecidos como senhores que mantinham relações amenas com os escravos, em especial os domésticos.
O Engenho Timbó, que pertenceu a Zumba, era visto como destino final de todo negro “ruim”, que porventura existisse nos demais engenhos do vale e redondezas. A ameaça de venda pelos senhores àquele local evidenciava o rigor indiscriminado no tratamento dispensado aos cativos da casa-grande e do eito. Tormentos e sofrimentos foram as características que marcaram o lugar e que repercutiram no imaginário popular, criando lendas e perpetuando ao longo do tempo a imagem negativa da crueldade de seus proprietários.
Durante a segunda metade do século XIX, o contingente de escravos negros foi declinando no município. Em 1855 eram apenas 1.126, pois com a Lei Eusébio de Queiroz, de 1850, proibiu-se o tráfico negreiro. Outro motivo foi a grande seca de 1877, que em todo o Rio Grande do Norte obrigou muitos senhores a venderem seus escravos para outras províncias. Por fim, com a campanha abolicionista, a partir da década de 1880, o número de negros em Ceará-Mirim, segundo dados da Sociedade Libertadora Norte Rio-Grandense de 30 de junho de 1884, era somente de 777, caindo para 201, às vésperas da abolição, de acordo com o boletim número 08, de 15 de abril de 1888.
Em Ceará-Mirim, a luta pelo fim da escravidão teve início em 05 de fevereiro de 1888, com a fundação da Sociedade Libertadora de Ceará-Mirim, por Francisco Sales de Meira e Sá. A propaganda em favor da abolição antecipou a libertação de alguns escravos, fato registrado na publicação quinzenal número 06, de 18 de março de 1888 da Sociedade Libertadora Norte Rio-Grandense, que noticiava a entrega da carta de liberdade, por Bernarda Varela Dantas – Baronesa do Ceará-Mirim – e por Alexandre Varela do Nascimento, seu filho, aos seus 18 últimos escravos.
O empenho das sociedades libertadoras apenas reforçou a longa resistência negra ao trabalho forçado. Em Ceará-Mirim isso aconteceu através das fugas dos escravos dos engenhos, que conquistaram a liberdade formando as comunidades de Coqueiros e Primeira Lagoa, antes de ocorrer a alforria geral de 13 de maio de 1888.

Fonte: Livro Ceará-Mirim Tradição, Engenho e Arte - 2005 - Sebrae - UFRN - Prefeitura de Ceará-Mirim.

2 comentários:

  1. Caro Gibson Machado, você sabe quem são os filhos do português Francisco Xavier de Souza Sobral??

    Sou tetraneto de Maria Cândida de Souza Sobral de Ceará-Mirim e gostaria de saber mais sobre a família.

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    1. A família Sobral dessa raiz é muito grande. Minha esposa é bisneta de Francisco Sobral e neta de João Xavier de Souza Sibral.

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