A palha é um produto da carnaúba que tem importância no Nordeste, principalmente na produção artesanal. A atividade artesanal existe nos três estados produtores, aproveitando a palha na confecção de inúmeros objetos como tarrafas, escovas, cordas, chapéus, bolsas, vassouras, redes, esteiras e cobertura de casas.
O corte da folha de carnaúba é feito com varas de bambu de três tipos, de acordo com a altura da planta (variando de 5 a 12 metros de comprimento), conhecida como “vara de cortar olho”, com uma foice presa na extremidade. O talo seco da palha serve para amolar a foice, com ajuda de terra e pedra de amolar. O trabalho de corte é árduo e oferece sérios riscos: as hastes pontiagudas das folhas podem cair sobre o operador com alta velocidade, podendo, inclusive, mudar de direção pela ação do vento; ao realizar a operação de corte, o foiceiro puxa a foice em sua direção, o que aumenta a probabilidade da folha cair sobre ele e provocar acidentes, inclusive cegueira. Apesar destas desvantagens, o foiceiro consegue obter elevada produtividade com essa ferramenta (laça 3 a 5 folhas de cada vez e corta de 1.500 a 2.000 folhas por dia).
Em geral, são cortadas de 35 a 40 folhas por palmeira, as quais, após derrubadas, sofrem o corte do talo e são aparadas em feixes com 20, 25 ou 50 folhas, dependendo da região e tipo de transporte utilizado. Os feixes, presos de 2 em 2, formam os “cambos”, os quais servem de base para o pagamento aos trabalhadores, se for o caso de serem remunerados por produtividade.
Durante a coleta, as folhas da carnaubeira são separadas em “olho”, que são as folhas mais novas, ainda fechadas, e “palha”, que são as folhas mais velhas, completamente abertas. Elas produzem o “pó de olho” e o “pó de palha”, sendo o primeiro mais valorizado por conter menos impurezas e produzir uma cera de melhor qualidade.
Do local do corte, as folhas são levadas ao lastro. O lastro é o local, ainda no campo e exposto ao sol, onde é feita a separação da palha “olho” das demais e a secagem das mesmas. O transporte das palhas até o lastro pode ser feito por jumento, carroça (puxada a boi ou burro) ou caminhão, dependendo da região. A coleta dura, em média, 120 dias, no período do verão (em que não há ocorrência de chuvas). A operação de secagem é demorada (dura entre seis e doze dias) e feita no chão, expondo o produto à chuva, desperdiçando grande quantidade de pó, principalmente no manuseio das folhas secas.
Infelizmente as reservas de carnaúba existentes em Ceará-Mirim foram derrubadas para o cultivo da cana de açúcar. Atualmente são poucas as ilhas de matas de carnaúba preservadas, podemos encontrá-las em Carnaubal e em alguns pontos no vale, principalmente entre o Engenho Igarapé e engenho laranjeira. Assim mesmo, os artesãos que utilizavam a fibra da carnaúba abandonaram o ofício em função da proibição e escassez da matéria prima.
É difícil entender o porquê das proibições, uma vez que a palha da carnaúba é renovável, e, em pouco tempo, brota e cresce para mais uma coleta. Essa atividade poderia tirar várias famílias de situação de miséria, e, também, daria atividade para jovens e adolescentes em situação de risco, evitando o êxodo para a área urbana.
Em Ceará-Mirim a Carnaúba já foi grande fonte de renda para os artesãos que viviam da fabricação artesanal dos produtos oriundos da folha de carnaúba. Aqui eram produzidos chapéus, esteiras, bolsas, tipiti, usada em casa de farinha e vassouras. Esta última ainda é produzida pela família do Sr, Manoel, conhecido por Maninho, no distrito de Ponta do Mato.
Saindo de Ceará-Mirim com destino ao distrito de Ponta do Mato cerca de 8 quilômetros, encontramos a residência do Sr. Maninho. Lá, sob um enorme cajueiro, estão espalhadas as folhas de carnaúbas já secas e prontas para serem manuseadas.
A produção de artesanato é familiar e já é uma tradição de muitos anos na comunidade e na própria família. Todos os membros da família desenvolvem uma atividade, seja na limpa das fibras até o acabamento das vassouras.
Maninho fazendo a limpeza e abrindo a palha da carnaúba.
A tarefa é dividida por etapas, primeiro Maninho abre as palhas e, com a faca, vai soltando as fibras uma das outras. Em seguida sua esposa, junta as fibras e faz uma amarração nos talos das folhas. A terceira etapa é realizada pelo filho do artesão, que evolve a parte superior das folhas com embiras de agave e em seguida faz o acabamento aparando as pontas da palha e envolve um cordão onde será posteriormente introduzido o cabo.
A produção é comercializada através de encomendas para as cidades circunvizinhas e, também, para a feira livre realizada em Ceará-Mirim aos sábados. A média de preço varia de R$ 1,50 (um real e cinqüenta centavos), depende do produto fabricado, que pode ser espanador, vassoura ou vassourão.
Maninho passa o dia trabalhando na confecção de vassouras e, à noite, vai a Ceará-Mirim para frequentar a Escola Estadual Otto de Brito Guerra onde cursa o terceiro ano do Ensino Médio. Tenho o maior orgulho de ser seu professor de Artes e foi através de um ensaio fotográfico, sobre nosso patrimônio histórico e cultural, que descobri um "patrimônio" na propria sala de aula.
Apesar de toda a luta pela sobrevivência com o trabalho artesanal, Maninho tem um objetivo de vida: cursar o IFRN - Instituto Federal de João Câmara em 2010. Faço votos que lute e persista porque assim você conseguirá seus ideais. Vá em frente!!! Você é um exemplo a ser seguido!!
PODERIA NOS PASSAR PESSOA DE CONTATO PARA CONFECÇÃO DE CAIXINHAS E BOLSINHAS PARA LEMBRANCINHAS??
ResponderExcluirOlá Gibson: Gostei de dessa postagem sobre a carnaubeira onde há pouco tempo atrás era abundante no Vale do Assu, minha querida região. Falo um pouco sobre essa árvore que me apaixona chamada pelos mais antigos com "O Boi Vegetal" porque do boi tudo se aproveita. Da carnúba não se perde nada. Sou primo segundo de seu pai Jadson que ainda não conheço pessoalmente. Um abraço. Veja o meu blog (blogdofernandocaldas.blogspot.com).
ResponderExcluirFernando Caldas