Texto do livro “Oiteiro, Memória de uma Sinhá Moça” de Madalena Antunes - 1952
A VISITA DE D. JOSÉ
Ao descrever a religiosidade do povo de minha terra, lembrei-me de um fato ocorrido, quando Ceará Mirim recebeu pela primeira vez a visita de um bispo.
Embora fosse muito criança ainda, recordo-me dos comentários feitos. Se hoje os relembro, outro não é meu intento senão realçar num contraste, o progresso atual da nossa gente e a expressão adiantada de nossa mentalidade.
Ceará Mirim de hoje, no lugar do conterrâneo Nilo Pereira, “não é apenas uma cidade à margem de uma estrada de ferro, como se diz na simplificada niveladora dos compêndios. Ela é sobretudo uma cidade à margem de um vale; e nêste vale surgiu com o cíclo da cana de açucar a aristocracia rural, a família única dos senhores de engenho ― única pelos sentimentos, pela afeição à terra, pela grandeza do trabalho, pelas raizes morais e emocionais.”
A nossa terra de verdes canaviais será sempre olhada por seus filhos com magna emoção. E êsse aspecto da profunda admiração com que lhe recordamos os nomes e fatos ancestrais é uma prova de quantos somos dignos dela.
Tem razão Nilo Pereira:
“As cidades não morrem... Até mesmo quando caem em ruínas, salva-as do aniquilamento aquela alma fecundada que as revive.”
Há mais de sessenta anos, anunciaram os jornais e os sacerdotes nos púlpitos, a visita pastoral ao Ceará Mirim, do excelso representante da fé católica, o augusto bispo D. José da Diocese de Pernambuco, que abrangia Paraíba e Rio Grande do Norte.
Natal recebeu o príncipe da Igreja com extraordinárias e tocantes homenagens. E Ceará Mirim preparou-se também para a grandiosa visita.
A notícia percutiu por tôda parte, propagando-se com entusiasmo pela cidade e arredores atingindo mesmo os pontos mais longinquos do município, e afervorando as almas para a festiva recepção.
A distinção episcopal ia merecer uma consagrante demonstração de carinho. Nos caminhos de trânsito difícil, providenciaram-se medidas, recompondo pontes, desobstruindo rios, abrindo atalhos, de encurtamento à cidade, possibilitando o povo comparecer em dia aprazado à chegada de Sua Excelência, Reverendíssima, na santa paz do Senhor.
A cidade exultava.
Aprestavam-se comissões. As manifestações atingiram, por certo, proporções nunca vistas. O sucesso seria inevitável. E todos, sem distinção de classe, irmanados num único pensamento, só esperavam o grande dia.
Entre outras deliberações, foi aceito o fidalgo gesto de Alexandre Varela, nobre filho do Barão de Ceará Mirim, que ofereceu sua luxuosa caleça, para conduzir o eminente antistite.
Era o melhor veículo da quêles tempos adquirido na Europa, havendo apenas um similar em Recife. Para maior realce de condução, o bolieiro envergava libré. O Antonio da Gangorra, escravo de estimação dos barões, seria o condutor. Claro, alto, espadaudo, de barbas bastas, queixos rijos, braços compridos e mãos volumosas, desenvolvia grande esfôrço no ajustar-se ao casacão verde de botões dourados, da recomendável libré.
As botas a Luiz XV com palainas brancas e abotoadas por grampos metálicos prateados, também lhe davam que fazer. A cabeça suportava galhardamente, o bicudo chapéu alto e listado, com penachos multicores.
O seu maior sacrifício estava no calçar as luvas brancas,encarregadas de manter em atitude rígida as rédias dos corcéis, puro sangue, devendo segurar com elegância o chicote de vareta empalhada e sedosa, mal terminada em afilada e torcida correínha estalante.
Como aquela figura de bolieiro, com os seus bronquéis, ainda hoje se conserva nítida em meu espírito! Quem melhor do que êste heróico condutor de parelhas finas, de pescoço lustroso, colarinho alto, ressaltando a árdua responsabilidade do ofício, conduziria Sua Eminência com segurança à cidade dos verdes canaviais?
A multidão se apinhava pelas ruas, excitada pelo acontecimento inétido. Pelas avenidas embandeiradas, girândolas, música, autoridades, formatura da Irmandades, perfilamento de Oficiais da Guarda Nacional, agentes de Polícia e copiosa aglomeração de povo.
De tôda parte acorriam roceiros e tabaréus, ardorosos de verem um bispo, certamente diferente dos padres e do vigário, vestido de outra forma, andando de outro modo, até dizendo missa e abençoando de outro jeito...Tinha o povaréu rude uma noção diversa e espontânea das coisas. Ia, agora, ver de perto um bispo.
Inadvertido, incauto, impulsivo pela ignorância inculpável, superexcitado pelas emoções estranhas do momento, aquêle mundo de gente de fora d cidade e até vinda de outros municípios, deu lugar ao mais ridículo e desastrado incidente de que se poderia guardar memória.
Ao entrar a caleça do eminente D. José, em Ceará Mirim, pela Rua Grande, onde desembocava o caminho de Natal, viu-se o famoso Antonio Gangorra desapiado da boléia do carro que conduzia o bispo.
Uma onda humana, brusca e impetuosa, não lhe dera tempo de abrir a portinhola para sair o senhor bispo D. José que devia transportar a pé as ruas até chegar à igreja, abençoando o povo.
A multidão caiu sôbre o bolieiro, beijando-lhe as mão e clamando: Viva o senhor bispo! Viva o senhor bispo!
Em vão o homem se debatia nas garras do poviléu, tentando convencer o povo que não era o Bispo!
A Raquel, espôsa do Gangorra, presente, vendo o marido todo machucado, desvairada gritava:
― Minha gente! Êste não é o bispo! E’ Antonio, meu marido e o bolieiro de seu Xandú Varela!...
Enquanto isso, o Príncipe da Igreja, espírito culto e bondoso, mantia-se sereno, embora pasmado ante o espetáculo observado através dos vidros do pomposo “coupê”.
Usava o traje respeitável e austero, o solidéu vermelho e pendente ao peito, o cordel de ouro com o crucifixo rodeado de pedras preciosas...
Sentia-se, entretanto, numa cidade de comprovado e tradicional devotamento religioso, de criaturas finalmente educadas e de nobres princípios morais, tradições sociais e políticas, com filhos diplomados em Pernambuco, Baía, Rio, e no estrangeiro, uns a exercer profissões liberais e altos cargos administrativos, outros a serviço da Pátria.
(...)No dia seguinte estava anunciada a visita do bispo a Ceará Mirim. Frequentes rápidos aguaceiros, demoravam por alguns minutos a partida, até que S. Excia. Revma. Para não alterar o programa de sua viagem, depois de agradecer as obsequiosidades dos cavalheiros que o acompanhavam até à corôa, montou a cavalo e partiu com a comitiva.
Esta compunha-se de seu secretário, do padre José Alexandre, vigário de Ceará Mirim, do autor destas linhas, de um criado particular, um pagem e um guia.
Às 9 horas da manhã chegava a pequena comitiva à passagem da vila de Extremoz. Às duas montou a cavalo novamente e partiu lançando uma benção ao povo. O caminho que vai de Extremoz a Ceará Mirim é um deserto. Nem uma casa, nem uma palhoça, nem um albergue qualquer. São 24 quilômetros de fastidiosa monotonia; nunca, porém, por aquelas paragens atravessou tão elevado número de cavaleiros em uma hora dada.
As turmas sucediam-se umas às outras, sem interrupção. Trinta e três cavaleiros partiram de Extremoz e ao chegarem ao Ceará Mirim contavam-se mais de 250.
Às cinco horas da tarde S. Excia. Apeava-se à entrada da cidade onde o juiz de direito, doutor José Inácio Fernandes Barros e doutor Vicente Inácio Pereira o esperavam com suas respectivas famílias e outros cavalheiros.
S. Excia. Foi convidado a ocupar um belo “coupé”, a que estavam atrelados duas parelhas de lindos cavalos e fazer nêle sua entrada na cidade. O doutor Barros recebeu e hospedou em seu palacete o Bispo, que era ao mesmo tempo seu padrinho e amigo.
Ao entra ali S. Excia. Foi recebido por uma comissão de distintas senhoras que sôbre êle arremessaram uma saravaida de flores. A hora do jantar foi solene.
O que o luxo e o bom gôsto podiam reunir em um banquete no Ceará Mirim estava ali patente em uma mesa de 24 talheres. Era um banquete principesco. A mesa estava em forma de “T”, e a cabeceira, que representa a haste superior e horizontal, era ocupada por S. Excia. Tendo à sua direita a respeitável Sra. Baronesa de Ceará Mirim e à esquerda a distinta consorte do Sr. Doutor Barros, digna filha da Exma. Sra. Baronesa.
O doutor Barros fêz o brinde de honra ao Sr. Bispo. Foram quatro palavras eloquentes que abrangiam as virtudes e predicados do ilustre hóspede e afeiçoado padrinho; e S. Excia., mostrou-se sensível no agradecimento ao generoso anfitrião e particular amigo.
Seguiu-se então, não menos expansivo e não menos brilhantes, o do Sr. Vicente Inácio Pereira, ao qual S. Excia. Retribuiu com igual soma de afeto e cordialidade.
Cruzam-se outros brindes. Chegou a S. Excia. Ocasião de levantar o último brinde e como sempre o consagrou a S. S. Leão XIII e a S. M. o Imperador.
Era a fé e a lei que êle saudava e não faltou o sentimento de entusiasmo para aplaudí-lo.
A música em frente do palácio, também exibiu-se no hino nacional e às 9 horas e meia terminou o jantar. Pela manhã do dia seguinte, S. Excia. Revma., revestido episcopalmente, precedido das irmandades e acompanhado de uma multidão superior a 4.000 pessoas, sob o palácio, seguiu para a matriz cuja capela-mor estava decorada para a recepção do Bispo, graças aos cuidados e zêlo do vigário José Alexandre.
S. Excia. Fêz ali sua entrada solene. Terminaram as cerimônias com o “Te-Deum Laudamus”.
À tarde houve crisma. Foram oito dias de festas. As comissões sucediam-se umas às outras trazendo ao conhecimento do ilustre prelado fatos, todo agradáveis. Agora era a mocidade que falava pela bôca do seu orador doutor Matias Maciel, depositando nas mãos de S. Excia. Revma. Uma carta de liberdade em honra sua; logo eram os artistas que faziam intérpretes dos seus sentimentos ao Sr. Doutor Augusto Rapouso da Câmara; depois era a comissão de festejos, ou a Câmara Municipal que rendia preito de homenagem a S. Excia. Revma. Trazendo à sua frente como orador o doutor Meira e Sá.
Para maior realce da festa organizavam-se comissões que com maior empenho procuravam agenciar pecúlio suficiente para fazerem-se libertações.
O germen do cativeiro já ia murchando como flor venenosa. Nesta diligência distinguiram-se principalmente os srs. Capitães João Pacheco, Enéas C. de Vasconcelos, negociante Torquato Câmara e outros.
A VISITA DE D. JOSÉ
Ao descrever a religiosidade do povo de minha terra, lembrei-me de um fato ocorrido, quando Ceará Mirim recebeu pela primeira vez a visita de um bispo.
Embora fosse muito criança ainda, recordo-me dos comentários feitos. Se hoje os relembro, outro não é meu intento senão realçar num contraste, o progresso atual da nossa gente e a expressão adiantada de nossa mentalidade.
Ceará Mirim de hoje, no lugar do conterrâneo Nilo Pereira, “não é apenas uma cidade à margem de uma estrada de ferro, como se diz na simplificada niveladora dos compêndios. Ela é sobretudo uma cidade à margem de um vale; e nêste vale surgiu com o cíclo da cana de açucar a aristocracia rural, a família única dos senhores de engenho ― única pelos sentimentos, pela afeição à terra, pela grandeza do trabalho, pelas raizes morais e emocionais.”
A nossa terra de verdes canaviais será sempre olhada por seus filhos com magna emoção. E êsse aspecto da profunda admiração com que lhe recordamos os nomes e fatos ancestrais é uma prova de quantos somos dignos dela.
Tem razão Nilo Pereira:
“As cidades não morrem... Até mesmo quando caem em ruínas, salva-as do aniquilamento aquela alma fecundada que as revive.”
Há mais de sessenta anos, anunciaram os jornais e os sacerdotes nos púlpitos, a visita pastoral ao Ceará Mirim, do excelso representante da fé católica, o augusto bispo D. José da Diocese de Pernambuco, que abrangia Paraíba e Rio Grande do Norte.
Natal recebeu o príncipe da Igreja com extraordinárias e tocantes homenagens. E Ceará Mirim preparou-se também para a grandiosa visita.
A notícia percutiu por tôda parte, propagando-se com entusiasmo pela cidade e arredores atingindo mesmo os pontos mais longinquos do município, e afervorando as almas para a festiva recepção.
A distinção episcopal ia merecer uma consagrante demonstração de carinho. Nos caminhos de trânsito difícil, providenciaram-se medidas, recompondo pontes, desobstruindo rios, abrindo atalhos, de encurtamento à cidade, possibilitando o povo comparecer em dia aprazado à chegada de Sua Excelência, Reverendíssima, na santa paz do Senhor.
A cidade exultava.
Aprestavam-se comissões. As manifestações atingiram, por certo, proporções nunca vistas. O sucesso seria inevitável. E todos, sem distinção de classe, irmanados num único pensamento, só esperavam o grande dia.
Entre outras deliberações, foi aceito o fidalgo gesto de Alexandre Varela, nobre filho do Barão de Ceará Mirim, que ofereceu sua luxuosa caleça, para conduzir o eminente antistite.
Era o melhor veículo da quêles tempos adquirido na Europa, havendo apenas um similar em Recife. Para maior realce de condução, o bolieiro envergava libré. O Antonio da Gangorra, escravo de estimação dos barões, seria o condutor. Claro, alto, espadaudo, de barbas bastas, queixos rijos, braços compridos e mãos volumosas, desenvolvia grande esfôrço no ajustar-se ao casacão verde de botões dourados, da recomendável libré.
As botas a Luiz XV com palainas brancas e abotoadas por grampos metálicos prateados, também lhe davam que fazer. A cabeça suportava galhardamente, o bicudo chapéu alto e listado, com penachos multicores.
O seu maior sacrifício estava no calçar as luvas brancas,encarregadas de manter em atitude rígida as rédias dos corcéis, puro sangue, devendo segurar com elegância o chicote de vareta empalhada e sedosa, mal terminada em afilada e torcida correínha estalante.
Como aquela figura de bolieiro, com os seus bronquéis, ainda hoje se conserva nítida em meu espírito! Quem melhor do que êste heróico condutor de parelhas finas, de pescoço lustroso, colarinho alto, ressaltando a árdua responsabilidade do ofício, conduziria Sua Eminência com segurança à cidade dos verdes canaviais?
A multidão se apinhava pelas ruas, excitada pelo acontecimento inétido. Pelas avenidas embandeiradas, girândolas, música, autoridades, formatura da Irmandades, perfilamento de Oficiais da Guarda Nacional, agentes de Polícia e copiosa aglomeração de povo.
De tôda parte acorriam roceiros e tabaréus, ardorosos de verem um bispo, certamente diferente dos padres e do vigário, vestido de outra forma, andando de outro modo, até dizendo missa e abençoando de outro jeito...Tinha o povaréu rude uma noção diversa e espontânea das coisas. Ia, agora, ver de perto um bispo.
Inadvertido, incauto, impulsivo pela ignorância inculpável, superexcitado pelas emoções estranhas do momento, aquêle mundo de gente de fora d cidade e até vinda de outros municípios, deu lugar ao mais ridículo e desastrado incidente de que se poderia guardar memória.
Ao entrar a caleça do eminente D. José, em Ceará Mirim, pela Rua Grande, onde desembocava o caminho de Natal, viu-se o famoso Antonio Gangorra desapiado da boléia do carro que conduzia o bispo.
Uma onda humana, brusca e impetuosa, não lhe dera tempo de abrir a portinhola para sair o senhor bispo D. José que devia transportar a pé as ruas até chegar à igreja, abençoando o povo.
A multidão caiu sôbre o bolieiro, beijando-lhe as mão e clamando: Viva o senhor bispo! Viva o senhor bispo!
Em vão o homem se debatia nas garras do poviléu, tentando convencer o povo que não era o Bispo!
A Raquel, espôsa do Gangorra, presente, vendo o marido todo machucado, desvairada gritava:
― Minha gente! Êste não é o bispo! E’ Antonio, meu marido e o bolieiro de seu Xandú Varela!...
Enquanto isso, o Príncipe da Igreja, espírito culto e bondoso, mantia-se sereno, embora pasmado ante o espetáculo observado através dos vidros do pomposo “coupê”.
Usava o traje respeitável e austero, o solidéu vermelho e pendente ao peito, o cordel de ouro com o crucifixo rodeado de pedras preciosas...
Sentia-se, entretanto, numa cidade de comprovado e tradicional devotamento religioso, de criaturas finalmente educadas e de nobres princípios morais, tradições sociais e políticas, com filhos diplomados em Pernambuco, Baía, Rio, e no estrangeiro, uns a exercer profissões liberais e altos cargos administrativos, outros a serviço da Pátria.
(...)No dia seguinte estava anunciada a visita do bispo a Ceará Mirim. Frequentes rápidos aguaceiros, demoravam por alguns minutos a partida, até que S. Excia. Revma. Para não alterar o programa de sua viagem, depois de agradecer as obsequiosidades dos cavalheiros que o acompanhavam até à corôa, montou a cavalo e partiu com a comitiva.
Esta compunha-se de seu secretário, do padre José Alexandre, vigário de Ceará Mirim, do autor destas linhas, de um criado particular, um pagem e um guia.
Às 9 horas da manhã chegava a pequena comitiva à passagem da vila de Extremoz. Às duas montou a cavalo novamente e partiu lançando uma benção ao povo. O caminho que vai de Extremoz a Ceará Mirim é um deserto. Nem uma casa, nem uma palhoça, nem um albergue qualquer. São 24 quilômetros de fastidiosa monotonia; nunca, porém, por aquelas paragens atravessou tão elevado número de cavaleiros em uma hora dada.
As turmas sucediam-se umas às outras, sem interrupção. Trinta e três cavaleiros partiram de Extremoz e ao chegarem ao Ceará Mirim contavam-se mais de 250.
Às cinco horas da tarde S. Excia. Apeava-se à entrada da cidade onde o juiz de direito, doutor José Inácio Fernandes Barros e doutor Vicente Inácio Pereira o esperavam com suas respectivas famílias e outros cavalheiros.
S. Excia. Foi convidado a ocupar um belo “coupé”, a que estavam atrelados duas parelhas de lindos cavalos e fazer nêle sua entrada na cidade. O doutor Barros recebeu e hospedou em seu palacete o Bispo, que era ao mesmo tempo seu padrinho e amigo.
Ao entra ali S. Excia. Foi recebido por uma comissão de distintas senhoras que sôbre êle arremessaram uma saravaida de flores. A hora do jantar foi solene.
O que o luxo e o bom gôsto podiam reunir em um banquete no Ceará Mirim estava ali patente em uma mesa de 24 talheres. Era um banquete principesco. A mesa estava em forma de “T”, e a cabeceira, que representa a haste superior e horizontal, era ocupada por S. Excia. Tendo à sua direita a respeitável Sra. Baronesa de Ceará Mirim e à esquerda a distinta consorte do Sr. Doutor Barros, digna filha da Exma. Sra. Baronesa.
O doutor Barros fêz o brinde de honra ao Sr. Bispo. Foram quatro palavras eloquentes que abrangiam as virtudes e predicados do ilustre hóspede e afeiçoado padrinho; e S. Excia., mostrou-se sensível no agradecimento ao generoso anfitrião e particular amigo.
Seguiu-se então, não menos expansivo e não menos brilhantes, o do Sr. Vicente Inácio Pereira, ao qual S. Excia. Retribuiu com igual soma de afeto e cordialidade.
Cruzam-se outros brindes. Chegou a S. Excia. Ocasião de levantar o último brinde e como sempre o consagrou a S. S. Leão XIII e a S. M. o Imperador.
Era a fé e a lei que êle saudava e não faltou o sentimento de entusiasmo para aplaudí-lo.
A música em frente do palácio, também exibiu-se no hino nacional e às 9 horas e meia terminou o jantar. Pela manhã do dia seguinte, S. Excia. Revma., revestido episcopalmente, precedido das irmandades e acompanhado de uma multidão superior a 4.000 pessoas, sob o palácio, seguiu para a matriz cuja capela-mor estava decorada para a recepção do Bispo, graças aos cuidados e zêlo do vigário José Alexandre.
S. Excia. Fêz ali sua entrada solene. Terminaram as cerimônias com o “Te-Deum Laudamus”.
À tarde houve crisma. Foram oito dias de festas. As comissões sucediam-se umas às outras trazendo ao conhecimento do ilustre prelado fatos, todo agradáveis. Agora era a mocidade que falava pela bôca do seu orador doutor Matias Maciel, depositando nas mãos de S. Excia. Revma. Uma carta de liberdade em honra sua; logo eram os artistas que faziam intérpretes dos seus sentimentos ao Sr. Doutor Augusto Rapouso da Câmara; depois era a comissão de festejos, ou a Câmara Municipal que rendia preito de homenagem a S. Excia. Revma. Trazendo à sua frente como orador o doutor Meira e Sá.
Para maior realce da festa organizavam-se comissões que com maior empenho procuravam agenciar pecúlio suficiente para fazerem-se libertações.
O germen do cativeiro já ia murchando como flor venenosa. Nesta diligência distinguiram-se principalmente os srs. Capitães João Pacheco, Enéas C. de Vasconcelos, negociante Torquato Câmara e outros.
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