O BOI DE REIS DE MATAS
No dia 19 de março de 2010 fui convocado pelo Mestre Luis Chico para comparecer na comunidade de Matas, no Assentamento Pedregulho, afim de participar da apresentação do Boi de Reis durante o encerramento das festividades de São José. Não tinha como faltar ao "apito" do Mestre!!!
Já se passaram alguns anos desde que tive a honra e a grande satisfação de conhecer o Mestre Luis Chico. Lembro-me que fazia um trabalho para uma parenta dele e ela trouxe algumas fotografias de uma apresentação do Boi-de-reis na comunidade de Matas.
Já se passaram alguns anos desde que tive a honra e a grande satisfação de conhecer o Mestre Luis Chico. Lembro-me que fazia um trabalho para uma parenta dele e ela trouxe algumas fotografias de uma apresentação do Boi-de-reis na comunidade de Matas.
Na ocasião não me chamou muito a atenção, no entanto, quando me aprofundei no trabalho, percebi que aqueles personagens da fotografia me lembravam o tempo de infância quando assistia, nos anos 1970, o boi-de-reis desfilar no carnaval de Ceará-Mirim, juntamente com as tribos indígenas, os cabocolinhos, bambelô, os blocos de rua, etc.
Em 2000 resolvi fazer uma visita ao Mestre e fiquei impressionado com sua simplicidade. Aquele homem tinha uma sabedoria impressionante. Na medida em que íamos conversando minha admiração aumentava cada vez mais e, a partir daquele dia, ficamos amigos e, sempre que posso, vou ao seu encontro enriquecer-me com sua sapiência.
A história do Boi-de-Reis no Rio Grande do Norte, segundo o folclorista Deífilo Gurgel, remonta aos festejos que em Portugal e no Brasil marcavam o ciclo natalino nos séculos passados e ao desenvolvimento da pecuária nordestina, determinando o surgimento de todo um complexo cultural que favoreceu, sobremodo, a evolução do folguedo, nos seus estágios mais primitivos.
Em 2000 resolvi fazer uma visita ao Mestre e fiquei impressionado com sua simplicidade. Aquele homem tinha uma sabedoria impressionante. Na medida em que íamos conversando minha admiração aumentava cada vez mais e, a partir daquele dia, ficamos amigos e, sempre que posso, vou ao seu encontro enriquecer-me com sua sapiência.
A história do Boi-de-Reis no Rio Grande do Norte, segundo o folclorista Deífilo Gurgel, remonta aos festejos que em Portugal e no Brasil marcavam o ciclo natalino nos séculos passados e ao desenvolvimento da pecuária nordestina, determinando o surgimento de todo um complexo cultural que favoreceu, sobremodo, a evolução do folguedo, nos seus estágios mais primitivos.
Apresentação da figura da Burrinha
Era um Auto hierático do ciclo natalino e vinculava-se, em suas origens, aos Ternos e Ranchos que, nos séculos passados, percorriam as ruas de nossas cidades, visitando as residências de pessoas amigas, onde, recebidos com lautas ceias, cantavam e dançavam, comiam e bebiam tudo em louvor ao nascimento do Messias.
Os Ranchos ou Reisados apresentavam-se sempre conduzindo um animal de fantasia e tomavam os mais variados nomes, sob a invocação desse animal ou de planta ou ente fantástico que levavam. Havia assim o reisado da Borboleta, do Maracujá, da Caipora, etc.
Os Ranchos ou Reisados apresentavam-se sempre conduzindo um animal de fantasia e tomavam os mais variados nomes, sob a invocação desse animal ou de planta ou ente fantástico que levavam. Havia assim o reisado da Borboleta, do Maracujá, da Caipora, etc.
Apresentação da figura encantada do Jaraguá
No Nordeste brasileiro, devido ao desenvolvimento da pecuária, determinou o surgimento das mais variadas manifestações e influências em nossa cultura popular. Os Reisados sempre encerravam com a exibição da figura do Boi, por isso, sua supervalorização entre as manifestações populares nordestinas.
Luis da Câmara Cascudo, em suas pesquisas, considera que as Tourinhas portuguesas teriam sido o marco inicial, a influência mais significativa do Auto do Boi. Elas consistiam em uma pantomima em que um rapaz, metido numa armação de cipós, recoberta de pano, imitando um touro, corria atrás de seus companheiros para atingi-los, numa tourada de brincadeiras.
Apresentação da principal figura, o Boi
A primeira notícia do Bumba-meu-boi data de 1840, publicada no jornal O Carapuceiro, escrita pelo padre Lopes Gama. Naquele tempo o folguedo era considerado brincadeira da ralé.
O Bumba-meu-boi é um auto popular com bailados e cantos, tratando de assunto religioso ou profano, representada no ciclo natalino (dezembro e janeiro). A este tipo de espetáculo ou folguedo Mario de Andrade denominou dança dramática, em contraposição às danças puras, que não apresentam qualquer encenação teatral. O Bumba-meu-boi é a representação da morte e ressurreição do próprio animal.
Mestre Luis Chico
A história do Boi-de-reis em Ceará-Mirim, provavelmente, se inicia com o desenvolvimento da economia canavieira, pois, há relatos de grupos existentes nos velhos engenhos primitivos.
O folguedo existente em Matas é remanescente de antigos grupos que existiam na ribeira do rio Ceará-Mirim entre as comunidades de Capela, Matas e Mineiros. Ele surgiu no início dos anos 1950 com a chegada de um taipuense que fazia a figura do Mateus e montou o grupo cujo primeiro Mestre chamava-se Zé de Rosa.
A partir de 17 de maio de 1957, com a saída do Mateus, o senhor Luis Chico assume o grupo e, também, a figura do Mateus, passando a liderar seus marujos até os dias atuais. Durante esses 53 anos o folguedo tem enfrentado as mais variadas dificuldades, desde a morte dos velhos marujos até a desvalorização do brinquedo pela sociedade e, principalmente, pelo poder público que não viabiliza oportunidades para a sua preservação.
Apesar de todas as dificuldades o Mestre Luis Chico tem sido um verdadeiro Herói na condução de uma tradição tão importante para a história e cultura de nosso município.
O Boi-de-reis é formado por personagens humanos, animais e seres fantásticos. Os humanos são o Mateus, O Birico, Nanã, os Galantes e as Damas. Atualmente os animais são a Burrinha e o Boi e representando os seres fantásticos, o Jaraguá.
Todos os participantes diretos são do sexo masculino. Os personagens femininos são rapazes ou meninos travestidos. É o caso da Nanã e das damas.
Atualmente o folguedo tem sofrido muitas transformações, principalmente no que diz respeito às figuras, pois já não existe tempo suficiente para suas apresentações. As encenações que havia durante o evento, também, foram abolidas, pois a duração fica em torno de vinte a trinta minutos, o que impossibilita desenvolvê-las plenamente, principalmente a moagem do engenho e a matança e ressurreição do boi.
A representação do boi, atualmente, limita-se a danças e cantigas, como as cantigas de abertura, compreendendo saudações e louvações aos “donos da casa”, ao Messias, pelo seu nascimento e aos Santos Reis; loas declamadas pelo mestre e pelo trio de cômico, Mateus, Birico e Nanã; apresentação das figuras da Burrinha, Jaraguá e o Boi e as cantigas de despedidas.
Os enfeitados do boi são o mestre, as Damas e os Galantes. Eles se apresentam festivamente vestidos, cantam velhas cantigas religiosas, louvações e saudações, além de tradicionais baianos. O Mestre é o responsável pela brincadeira, é a pessoa que contrata as apresentações e convoca os componentes do grupo para os ensaios.
Os Galantes, em numero de quatro, vestem-se de maneira idêntica ao Mestre. Durante a representação, dispõe-se em duas alas ou cordões e realizam evoluções, cruzamentos, meias-luas, etc. As Damas, em número de duas, são meninos de dez a doze anos, travestidos de mulher.
A figura principal do folguedo é o Boi. É o último que se apresenta. Depois que ele sai de cena, cantam-se as despedidas.
No último dia 19 de março fui à comunidade de Matas, no assentamento Pedregulho, juntamente com o pessoal do Ponto de Cultura Boi Vivo (João Lins, Bianca e Lenilton) onde, assistimos e registramos a apresentação do Boi-de-reis que encerrava as festividades do padroeiro São José. Quando terminou a Novena toda a comunidade ficou para prestigiar o evento. O mais impressionante foi a participação de todos os presentes acompanhando e aplaudindo os bailados cantados pelo mestre Luis. Crianças e adultos prestavam atenção aos movimentos e encenações representadas pelas figuras do folguedo.
O folguedo existente em Matas é remanescente de antigos grupos que existiam na ribeira do rio Ceará-Mirim entre as comunidades de Capela, Matas e Mineiros. Ele surgiu no início dos anos 1950 com a chegada de um taipuense que fazia a figura do Mateus e montou o grupo cujo primeiro Mestre chamava-se Zé de Rosa.
A partir de 17 de maio de 1957, com a saída do Mateus, o senhor Luis Chico assume o grupo e, também, a figura do Mateus, passando a liderar seus marujos até os dias atuais. Durante esses 53 anos o folguedo tem enfrentado as mais variadas dificuldades, desde a morte dos velhos marujos até a desvalorização do brinquedo pela sociedade e, principalmente, pelo poder público que não viabiliza oportunidades para a sua preservação.
Apesar de todas as dificuldades o Mestre Luis Chico tem sido um verdadeiro Herói na condução de uma tradição tão importante para a história e cultura de nosso município.
O Boi-de-reis é formado por personagens humanos, animais e seres fantásticos. Os humanos são o Mateus, O Birico, Nanã, os Galantes e as Damas. Atualmente os animais são a Burrinha e o Boi e representando os seres fantásticos, o Jaraguá.
Todos os participantes diretos são do sexo masculino. Os personagens femininos são rapazes ou meninos travestidos. É o caso da Nanã e das damas.
Atualmente o folguedo tem sofrido muitas transformações, principalmente no que diz respeito às figuras, pois já não existe tempo suficiente para suas apresentações. As encenações que havia durante o evento, também, foram abolidas, pois a duração fica em torno de vinte a trinta minutos, o que impossibilita desenvolvê-las plenamente, principalmente a moagem do engenho e a matança e ressurreição do boi.
A representação do boi, atualmente, limita-se a danças e cantigas, como as cantigas de abertura, compreendendo saudações e louvações aos “donos da casa”, ao Messias, pelo seu nascimento e aos Santos Reis; loas declamadas pelo mestre e pelo trio de cômico, Mateus, Birico e Nanã; apresentação das figuras da Burrinha, Jaraguá e o Boi e as cantigas de despedidas.
Os enfeitados do boi são o mestre, as Damas e os Galantes. Eles se apresentam festivamente vestidos, cantam velhas cantigas religiosas, louvações e saudações, além de tradicionais baianos. O Mestre é o responsável pela brincadeira, é a pessoa que contrata as apresentações e convoca os componentes do grupo para os ensaios.
Os Galantes, em numero de quatro, vestem-se de maneira idêntica ao Mestre. Durante a representação, dispõe-se em duas alas ou cordões e realizam evoluções, cruzamentos, meias-luas, etc. As Damas, em número de duas, são meninos de dez a doze anos, travestidos de mulher.
A figura principal do folguedo é o Boi. É o último que se apresenta. Depois que ele sai de cena, cantam-se as despedidas.
No último dia 19 de março fui à comunidade de Matas, no assentamento Pedregulho, juntamente com o pessoal do Ponto de Cultura Boi Vivo (João Lins, Bianca e Lenilton) onde, assistimos e registramos a apresentação do Boi-de-reis que encerrava as festividades do padroeiro São José. Quando terminou a Novena toda a comunidade ficou para prestigiar o evento. O mais impressionante foi a participação de todos os presentes acompanhando e aplaudindo os bailados cantados pelo mestre Luis. Crianças e adultos prestavam atenção aos movimentos e encenações representadas pelas figuras do folguedo.
Os brincantes do Boi de Reis, eu e a equipe do ponto de cultura Boi Vivo.
Em 2008 fui procurado por um amigo contemporâneo do tempo que estudava na UFRN, João Lins, teatrólogo e arte-educador, habilitado em artes cênica. Ele estava organizando, com outras pessoas, um ponto de cultura, cujo fim era a revitalização e preservação dos grupos de Boi-de-Reis existentes na grande Natal. Na oportunidade ele perguntou o que podia ser feito para incluir o Boi de Matas e, prontamente, procurei Mestre Luis e falei sobre o projeto do ponto de cultura Boi Vivo e da possibilidade de fazermos uma parceria que seria muito significativa para o fortalecimento e preservação do grupo.
No início de 2010 João Lins procurou-me e solicitou que marcássemos uma reunião, com o pessoal do Ponto de Cultura Boi Vivo, afim de que pudessem conhecer a comunidade de Matas e iniciar os primeiro contatos com os brincantes do boi. A partir desse momento, foram discutidos alguns detalhes sobre o projeto e as oficinas foram iniciadas.
O objetivo do “Boi Vivo” é, durante três anos, realizarem várias oficinas em que os brincantes do boi terão oportunidades de participar de aulas de músicas manuseando diversos tipos de instrumentos, aula de dança para aprimorar a expressão corporal, aulas de confecção de figurinos e finalmente, fechando o ciclo, será produzido documentário sobre o folguedo.
Nesse período o Boi Vivo estará auxiliando o Mestre Luis e seu grupo, o que proporcionará muitos contatos com outros grupos e com algumas instituições fazendo com que sejam conhecidos fora da comunidade e, também, possam participar de eventos dentro e fora do Rio Grande do Norte.
Acredito que a contribuição do Boi Vivo proporcionará muitos momentos de felicidades para a comunidade de Matas, principalmente, porque, certamente, eles deixarão a semente do respeito e da valorização plantadas nos corações e nas mentes daqueles que ficarão ligados às atividades culturais e reflexivas, cujos focos principais são: o fortalecimento, o revigoramento, a revitalização e, acima de tudo, a preservação de uma manifestação popular secular de nosso vale, vale que viu tantas tradições serem levadas pela fuligem de chaminés esquecidas.
obrigado, por não deixar o boi morrer na nossa cultura!
ResponderExcluirOlá Gibson gostaria, de saber se você tem como saber do povoado de rio dos índios?
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