O Engenho Cruzeiro em Ceará-Mirim, foi fundado pelo inglês Samuel Bolshaw, natural de Manchester, onde nasceu em 1838. Em 1870, aquele súdito britânico já se encontrava na nossa Província, quando, a 19 de maio, contratou com o Presidente Silvino Elviro Carneiro da Cunha, o transporte de cargas e reboque de navios, a ser desenvolvidos no Rio Potengi mediante um barco a vapor, moderno e devidamente aparelhado. Mr. Bolshaw era sócio, no empreendimento, de Afonso de Paula Albuquerque Maranhão. À falta de capitais suficientes, o empreendimento não pôde ser devidamente concretizado. Em 1872, Samuel Bolshaw encontrava-se na vila do Ceará-Mirim, casando-se com D. Joaquina, filha de Victor José de Castro Barroca, senhor do tradicional Engenho “Verde Nasce”. Foi então que o britânico fundou o Engenho Cruzeiro, no vale do Ceará-Mirim, e hoje, foi demolido.
O mecanismo inteiramente novo implantado por Bolshaw no seu engenho, teve influência modificadora nos equipamentos açucareiros da fértil região. Mr. Bolshaw foi o responsável por grandes plantações canavieiras, nos vales do Maxaranguape, Punaú e Fonseca.
Do Ceará-Mirim, o dinâmico britânico transferiu-se para Goianinha e Arês, onde também criou centros de produção. Sua ação logo atingiu a ilha do Maranhão, no município de Canguaretama.
Bolshaw tornou-se um homem exclusivamente do campo, não tendo sido atraído pela vida mais fácil da capital. Sua descendência perpetuou-se no Brasil, através dos casamentos de suas filhas.
Samuel Bolshaw faleceu na então vila de Arês, aos 9 de julho de 1899. Com apenas 61 anos, achava-se esgotado pela batalha vital. Câmara Cascudo visitou, há muitos anos, o túmulo do dinâmico súdito de Sua Majestade Britânica, existente no cemitério de Arês.
Sintetizando a personalidade de Mr. Bolshaw, Câmara Cascudo assim o descreveu: “Era homem de imaginação prática, trabalhador inesgotável de planos, com iniciativas e esforços no terreno econômico, merecedor de recordação”.
A Casa-Grande do Engenho foi construída no final do século passado, concluída provavelmente em 1899, segundo a inscrição existente na fachada. Trata-se de um prédio de relevante interesse arquitetônico. Desenvolve-se sobre um porão alto, com forro de madeira, que constitui o piso do pavimento superior.
O prédio, de grandes proporções, apresenta uma fachada bastante vazada por portas e várias janelas, todas em vãos de vergas retas. As janelas são compostas de duas folhas de madeira pintada, com bastantes bandeiras de vidro.
A casa possui cobertura com duas águas, apresentando frontões triangulares e platibanda com ornamentos de massa, arrematada por cornija. O interior da casa conserva ainda o antigo piso de tijoleira, e tabuado corrido sobre o porão.
Apesar de manter a mesma grandiosidade de sua volumetria e a mesma distribuição interna, é bastante precário o seu estado de conservação. Apresenta-se a casa abandonada, praticamente em ruínas. Algumas de suas paredes já desmoronaram.
A Capela do engenho foi edificada ao lado da residência, em 1904, pelo então proprietário do engenho, o coronel Francisco José Soares. Trata-se de um sólido edifício, de relevante valor arquitetônico, desenvolvido em um único pavimento. O templo apresenta partido de planta cruciforme, em cujo trancepto foi construída uma cúpula. A nave principal da capela possui cobertura de duas águas, apresentando na fachada um frontão triangular ladeado por duas torres abertas para superior, por grandes arcadas com cercaduras e colunatas de massa. A cobertura dessas torres foi confeccionada em forma de pirâmide.
O acesso à capela é valorizado por uma escadaria, possuindo uma porta central em vão de verga reta, encimada por dois óculos, além de uma pequena janela e um ninho. As capelas laterais também apresentam cobertura de duas águas, com telhas de cerâmica.
O templo mantém as mesmas características de sua fábrica original, tanto em relação a sua volumetria, quanto à sua distribuição interna. Apenas uma modificação foi introduzida: a substituição de quatro vitrais nas fachadas laterais, por janelas de madeira.
O piso do templo é revestido de cimento e tijoleria, apenas na capela-mor. Possui colunas internas com acabamento esmerado. O madeiramento de estrutura da cobertura foi cuidadosamente selecionado, tendo sido utilizadas peças de madeiras, caprichosamente trabalhadas, na confecção das tesouras.
Ainda é realizada missa uma vez por mês, pelo vigário Cônego Rui Miranda e é regular o seu estado de conservação. A casa-grande e a capela do engenho cruzeiro em Ceará-Mirim formam um conjunto arquitetônico de expressivo valor, que merece ser contemplado com recursos suficientes para a sua estabilização, evitando-se assim um iminente desmoronamento, o que representaria uma lastimável perda, para a cultura e a memória do Vale dos Canaviais.
Fonte: O Poti - Jeanne Fonseca Leite Nesi - 07/08/1991
visitei semana passada. encontra-se em bom estado, bem conservada mas infelizmente, por falta de uma política que preserve essas construções, fizeram uma instalação de luz elétrica bem na frente da parede, do lado esquerdo, alterando significamente a originalidade da igreja, quando da sua construção, o que considero uma total agressão! Acorda Governo do Estado! Acorda Prefeito da Cidade de Ceara Mirim
ResponderExcluirMuito interessante, achar um pouco da historia da minha família.
ResponderExcluirObrigado Jeanne!
ResponderExcluirVejo hoje tudo isso praticamente abandonado, não só capela de são francisco como também os demais acervos do nosso município, triste pra quem ama essa terra.
ResponderExcluirVisitei a capela e gostaria de saber se tem algum documentário recente com fotos ou vídeo.
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