HISTÓRIA DAS BANDAS DE MUSICA
Estava à toa na vida
e o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisa de amor.
A minha gente sofrida
despediu-se da dor
pra ver a banda passar
cantando coisa de amor.
(A banda, Chico Buarque de Holanda)
Difundida na Europa, a banda de música parece ter suas origens na França.
As bandas civis, que herdaram a disciplina e a organização das bandas militares, foram criadas por todo o Brasil. Havia bandas de músicas, tanto nas cidades, quanto em vilas, povoados e até em sítios e fazendas. As cidades do interior organizavam suas bandas civis, que passavam a ser um veículo de entretenimento coletivo, participando de movimentos políticos, acontecimentos religiosos, cívicos e sociais.
No dias de apresentação, as bandas saíam da sua sede em formação militar, com os músicos de uniformes limpos, engomados, sapatos engraxados, quepes na cabeça, desfilando pelas ruas ao som de dobrados, em direção ao coreto da praça principal, onde executavam o melhor do seu repertório, que além de dobrados incluíam xotes, quadrilhas, valsas, choros, maxixes, frevo, aberturas de óperas.
As bandas desempenharam um papel fundamental na formação de novos músicos e na revelação de grandes talentos. Só para citar dois exemplos, o famoso compositor Carlos Gomes, autor de O Guarany, foi um músico de banda em Campinas, SP, sua terra natal e o maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, o internacionalmente conhecido Eleazar de Carvalho, tocava baixo-tuba na banda dos Fuzileiros Navais.
Em Ceará-Mirim há registro da atuação da Banda de Música municipal desde o final do século XIX, como cita Manoel Ferreira Nobre em Breve Notícia sobre a província do Rio Grande do Norte, pg 193: Tem uma banda marcial que satisfaz na localidade ao duplo fim de sociedade recreadora e instrutiva. Há cerca de 5 anos que se organizou. O livro foi escrito em 1877, portanto nossa banda de música foi organizada em 1872.
Em meu livro Ceará-Mirim memória iconográfica – publicado em 2008 – há uma fotografia datada de 1901 na da inauguração das torres da matriz e colocação do sino. Naquela ocasião, a nossa banda já estava presente recepcionando a comunidade.
Julio Gomes de Senna em seu livro “Ceará-Mirim – exemplo nacional – Vol II, página 114, diz que: “Vê-se que a banda marcial, que outra coisa não era, senão uma banda de música, também estava integrada na campanha da instrução.
Mas as bandas de músicas, daí por diante, sempre existiram na cidade. Lembramo-nos, muito bem, da recepção feita ao Presidente da República, Dr. Afonso Penna, quando, em 1907, foi inaugurar a estação da Estrada de Ferro Central, quando 2 bandas cearamirinenses tocavam ao lado de uma grande banda de música, procedente de um vaso de guerra, ancorado no porto de Natal.
Eram duas bandas locais afeiçoadas às correntes políticas. A banda “13 de Maio”, dirigida pelo maestro Prisco Rocha, bandeava para a oposição, enquanto a banda “12 de Outubro” acompanhava o Governo e era dirigida pelo mestre Venerando Cocentino.
Muitas vezes assistimos, por ocasião das festas da Padroeira N. Sra. da Conceição, em 08 de dezembro de cada ano, a disputa ardorosa dessas duas instituições musicais, em que cada uma desejava superar a outra, na quantidade e na qualidade das “peças” exibidas.
E a população se dividia na torcida, como hoje se torce por time de futebol. Para terminar a contenda, era necessário que alguém de influência aparecesse e rogasse o recolhimento, do contrário permaneceriam na porta da igreja até o dia seguinte.
Vários foram os maestros de nossa banda, como por exemplo, o grande músico e comerciante Luis Ferreira e, nos anos 1970, o inesquecível Tenente Djalma Ribeiro, que além de regê-la em eventos sociais introduzia crianças no mundo musical com oficinas de leitura e execução de instrumentos.
Entre os anos 2005 e 2008 a banda passou por uma reformulação, sob a regência do maestro David em parceria com o músico Marcos Machado e o Regente do Coral Municipal Araraú, Bacharel Kleber Jonatas e montaram a Big Band (Banda e Coral) para alguns shows de final de ano e shows específicos com musicas de Roberto Carlos e outro com musicas de Roupa Nova.
Todos os antigos músicos na ativa ou afastados pela aposentadoria lembram do mestre Djalma Ribeiro. Recordam um período em que os músicos da banda eram voluntários, e, mesmo assim, vestiam a camisa da orquestra, tocavam por amor e orgulho de ser músico e representar a cidade a que pertenciam. O Maestro conduzia seu grupo de músicos como se fossem seus filhos – inclusive, penso que todos os filhos homens do mestre tocaram na banda – Ele levava tão à sério seu ofício que parecia um Quartel Militar – todos os dias, antes dos ensaios, a fanfarra saía pelas ruas da cidade animando a todos com velhos e inesquecíveis dobrados.
São velhas recordações que ainda aliviam nossas sorumbáticas memórias!! O saudoso maestro além de reger nossa banda, coordenava o grupo de escoteiros Nossa Senhora da Conceição (talvez tenha sido um dos seus fundadores). Aquelas crianças e adultos o respeitavam como um Pai, porque ele era um homem digno, honesto e cumpridor de seu dever. Sua palavra era mais importante e confiável, do que qualquer papel assinado pelos prefeitos da época, pois a banda sempre foi vinculada à Prefeitura de Ceará-Mirim, porém, sua palavra era a última – e talvez – a única ouvida pelos seus superiores.
Ao futuro da Banda Tenente Djalma Ribeiro, resta à memória de seus antigos componentes e a esperança dos novos músicos de que surjam projetos onde valorizem essa tradição centenária de nossa cidade e, consequentemente, esse patrimônio seja preservado para as futuras gerações e que, futuramente, não necessite recorrer às humilhações e peregrinações em busca de sua sobrevivência enquanto patrimônio cultural municipal.
Será que era possível oficializá-la como PATRIMÔNIO MUNICIPAL através de Lei? Ou, a Câmara poderia sugerir ao executivo que isso fosse feito? Taí uma provocação aos representantes do povo de nossa Briosa Vila baquipiana.
FONTES CONSULTADAS:
ALVES, Gibson Machado. Ceará-Mirm memória iconográfica – Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim, 2008.
IRMÃO, José Pedro Damião. Tradicionais bandas de música. Recife: CEPE, 1970. 184 p.
NOBRE, Manoel Ferreira. Breve Notícia sobre a Provincia do Rio Grande do Norte. 2ª edição – Pongetti – 1971.
SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Bandas musicais de Pernambuco: origens e repertório. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria do Trabalho e Ação Social, Fundo de Amparo ao Trabalhador, 1998. 395 p
SENNA, Julio de Gomes. Ceará-Mirim exemplo nacional – vol II. Pongetti – RJ – 1975.
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