quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um dia, em uma de minhas aulas sobre Cultura do RN, falava a respeito do patrimônio histórico de Ceará-Mirim. Como seria importante preservar o que ainda resta de nossa história, ensinar como é significativo valorizar aqueles testemunhos tão representativos. Uma das alunas presentes pediu licença e falou que tinha ligação com a Usina Ilha Bela e mostrou-me um poema escrito por sua Mãe chamado "Lamento" e o mesmo transmitia a agonia da velha Madona de tijolos!!!




LAMENTO





Chamo-me ILHA BELA
Mas hoje choro a solidão
Pois não sei qual foi o rumo
De minha população.




Eu fui um coração de mãe
Onde sempre coube mais um
Acolhi tantos filhos
não vejo mais nenhum.




Onde estão tantas crianças
Que em meu pátio corriam?
Será que são felizes
Como foram aqui um dia?

Sinto saudade dos homens
Que em mim já trabalharam
Quais deles estão com o Pai?

Quais deles se aposentaram?



Procuro as professoras
Que em minha escola trabalharam
E com muita dedicação
Os meus filhos educaram.


Todas as minhas casinhas
Demoliram sem piedade
E dos que nela moravam
Só me resta a saudade.

O meu clube cultural
Até esse foi ao chão
Foi triste o meu fim
Que homens sem coração!


Meu campo de futebol
Onde vocês jogavam bola
Transformou-se em matagal
Só lembrança resta agora

Minha linda capelinha
Essa também não vejo mais
Pois lá só resta o cantar
Dos inocentes pardais.


O meu verde natural
De tão triste escureceu
A fauna que aqui vivia
Também desapareceu.


Meus rios estão secando
Minhas águas escuras estão
Os peixes se escondendo
Temendo a poluição.

Anoitece e amanhece
Tudo aqui é solidão
Somente a coruja voa
No meio da escuridão.


Apenas os pássaros cantam
Tentando me consolar
Uns cantam de verdade
Outros pra não chorar.


Quando chega o inverno
Meu verde tenta surgir
Mas logo desaparece
Por não ter ninguém aqui


A minha natureza chora
Pois sofre igual a mim.
E você chorará também,
Se um dia voltar aqui.


Por muitos e muitos anos
Muitas famílias abriguei
E em tristes ruínas
Foi em que me transformei.


Se um dia voltares aqui
Diga a quem lhe perguntar
Que minhas ruínas choram,
E que venha me visitar.


Não falem no meu nome
Com revolta e nem rancor
Pois aqui todos viveram
Com abrigo, paz e amor.

Choram os pássaros e a natureza
Em uma tristeza total
Pois não recebo visita
Nem no dia do natal.

ANA MARIA COSTA DOS SANTOS

Ex-moradora de ILHA BELA


Atualmente reside em Ceará-Mirim.

2 comentários:

  1. belo poema esse voucolocar entre os melhores de minha bibliteca particular!!!!

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  2. Parabéns pelo Poema que tanto retrata a realidade de todos ex-moradores da Usina Ilha Bela. Sou ex-morador, passei minha infância na Usina Ilha Bela e de vez enquando eu retorno lá, para matar a saudade. É triste ver o que fizeram com a Ilha Bela, quando retorno lá, sinto uma coisa nostálgica dentro de mim, uma mistura de alegria e tristeza. Alegria por esta pisando onde cresci, onde brinquei, onde aprendi muita coisa que levarei comigo para sempre. Tristeza em ver o que fizeram com aquele lugar encantado, lugar de gente boa, tristeza em ver que acabaram com um patrimônio histórico.
    Fabiano Fernandes

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