domingo, 29 de janeiro de 2023

AS MULHERES RENDEIRAS DA PRAIA DE JACUMÃ


A renda de bilro é uma tradição nas praias de Muriu, Jacumã e Porto Mirim que estão localizadas no litoral de Ceará-Mirim. A arte de tecer a renda de bilro tem sido transmitida de geração à geração e, por muitos anos, as rendeiras têm lutado para que a arte não desapareça. Em 2003 havia sete rendeiras produzindo na praia de Jacumã. Atualmente o artesanato está muito difícil de ser encontrado, pois, a maioria das artesãs faleceram e outras, pela difícil comercialização dos produtos confeccionados, deixaram de fabricar as belas peças de renda de bilro. No passado a renda de bilro era parte do sustento das famílias que moravam na praia. Os pescadores saiam para a pesca e suas esposas ficavam em casa para cuidar da família, nesse tempo, passaram, também, a produzir a renda para que ajudasse nas despesas de casa.

É um trabalho feito manualmente com muito amor e dedicação. As mulheres rendeiras sentem prazer em desenhar no papelão, colocá-lo sobre a almofada e, posteriormente, trançar, sobre os desenhos, as linhas com o jogo mágico feitos com os bilros e espinhos de mandacaru.

As peças produzidas são finas e maravilhosamente lindas, dependendo da peça a ser fabricada uma artesã leva até 03 meses para conclui-la e o retorno financeiro muitas vezes não é compensador, eis que a peça mais cara gira em torno de R$ 700,00 e o lucro obtido é rateado entre elas. Uma peça pequena leva em média 06h para ser confeccionada.

Na praia de Jacumã as poucas rendeiras que estão em atividade colocam suas produções para comercializar em um local no restaurante Naf Naf.  

Na confecção das suas peças as artesãs utilizam um papelão grande e quadriculado de modo que não seja preciso limitar o tamanho das peças a serem feitas na almofada que fica sobre um suporte de madeira e que é feita de tecido (geralmente de algodão) e recheada com palha de bananeira. Os bilros são feitos da macaúba e com uma madeira leve, já as linhas são presas no papelão com espinhos de mandacaru.

É emocionante o depoimento da artesã Marta quando diz que ama aquele ofício e fica muito triste porque tem certeza que a renda se acabará em nossas praias uma vez que elas não poderão repassar sua sabedoria às novas gerações. Marta além de confeccionar a renda, cria todos os desenhos... É uma artesã completa. Atualmente está afastada de suas atividades por problemas de saúde.

São poucas mulheres que fabricam renda de bilro na praia de Jacumã. A Associação das Rendeiras de Jacumã não está em atividade e as poucas artesãs que, heroicamente, resistem e tecem manualmente suas rendas, com mãos de fadas, o fazem em suas residências.

A renda de bilro, por ser uma arte transmitida de geração a geração é um patrimônio cultural imaterial, pelo modo de fazer e pela criação dos desenhos e, também, é patrimônio material quando seus desenhos criativos, misturados às linhas, espinhos de mandacaru e bilros são magicamente transformados em lindas peças de labirintos.

As mulheres rendeiras de Ceará-Mirim ficaram conhecidas internacionalmente pelas mãos incríveis do escultor e mestre Etevaldo Santiago. As esculturas produzidas pelo artista espalhou-se por todo o mundo, onde ganhou várias premiações, em diversos concursos que participou. É preciso que as mulheres rendeiras da praia de Jacumã ganhem seu espaço pela luta e arte maravilhosa que produzem. O reconhecimento de sua arte é muito importante para a valorização, fortalecimento e preservação de tão significativo patrimônio deixado pelos ancestrais dessa geração.

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