quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

AO MESTRE COM RESPEITO

AO MESTRE COM RESPEITO
Do livro Eu lembro, você lembra, nós lembramos... 
Maria das Graças Barbalho B. Teixeira
O ano de 1958, trás para mim, muitas lembranças em Ceará-Mirim, minha cidade natal a 30 km da capital, Natal/RN. A chegada de Seu Djalma com toda a sua família é motivo de alvoroço na cidade, trazendo para todos à realização de um sonho, que era a formação de uma banda municipal com participantes da própria cidade. Alguns músicos já existiam na cidade, todavia, faltavam-lhes, organização, disciplina, qualificação e responsabilidades profissionais. O Mestre, como todos o chamavam, abriu às portas da sede que ficava localizada entre a sua casa e o bar de Jorge na Rua do Patu, hoje, General João Varela, dando início as aulas de música para a moçada da época, e aos poucos descobrindo o talento de cada um. É claro que muitos não conheciam se quer uma clave, uma nota musical, um solfejo, uma escala, uma partitura, mas, todos se empenharam com afinco e em poucos meses os resultados já favoreciam o Mestre e toda sua competência. Seu Djalma não era um homem de muitos diálogos, sabia ser duro e exigente com os alunos; todavia, sempre foi muito respeitado e querido pelos cearamirinenses; ele chegou como sargento da polícia militar, passando depois a tenente. Para nosso deleite, a sede da banda ficava praticamente em frente da minha casa, e todas as noites muitas pessoas da rua inclusive a criançada, se aglomeravam na porta e na calçada, para ouvir os ensaios da banda, era uma festa só. Que boas lembranças me trazem os acordes dos dobrados, das marchas rancho, frevo, outras.
Banda de Música Feminina
Vale salientar que muitos dos aprendizes e posteriormente músicos profissionais, não possuíam instrumentos, utilizavam os comprados pela Prefeitura, à época, administrada por Edgar Gouveia Varela. Algumas famílias com a do meu Padrinho Zé Costa, marido de minha tia Maria, tinha condições e todos os filhos tinham seus próprios instrumentos. Outros também puderam comprar: Diassis Barbalho, Tadeu Marques, Damião, Armando e Ernani, filhos de Seu Júlio Soares que tinha um local no mercado, assim como Zé Costa, afora, outros que os já possuíam. 

O êxito da Banda ultrapassou os limites da cidade graças ao talento do Mestre e a evolução dos músicos tomou novos rumos, dando início a uma série de convites para apresentarem-se em outras cidades e na capital do Estado. Anos atrás, era tradição em cidades do interior, a criação de suas próprias bandas de música; conceituá-las com esmero passou a ser um mecanismo de disputas entre si, para ver quem era a melhor. Quando das festas de padroeiras, São João, Natal, Ano Novo e Carnaval principalmente, muitos músicos formavam suas orquestras e lá iam os mesmos a tocarem em outras cidades; era também uma oportunidade para ganhar dinheiro; vale salientar, que tudo isso era feito através de um contrato formal. Tocavam em clubes, blocos, vaquejada, etc. 

Quem não se lembra da banda tocando a alvorada no dia 08 de dezembro, acordando todo mundo com o foguetório dando vivas a padroeira, Nossa Senhora da Conceição? E das retretas? Das músicas sacras, na procissão do Senhor Morto? Do toque respeitoso na hora da elevação da hóstia nas missas solenes? Das novenas no mês de Maio? Nas datas cívicas, 07 de Setembro e nos festejos juninos (Santo Antonio, São João e São Pedro)? E no carnaval tocando frevo? Vassourinhas, Lampião, Maria Bonita; Gente de Deus parece que ainda estou em Ceará-Mirim, na minha infância e adolescência, de pé no patamar da Igreja, vendo os balões artesanalmente feitos pela família de Seu Cristino o fogueteiro, lindos, multicoloridos, subir, subir, em direção ao céu estrelado, todos batendo palmas, dando vivas, e a banda tocando. Hoje esse folguedo é proibido, por causar danos ao meio ambiente. Mais que era bonito e mágico era, muitas pessoas em suas crenças, faziam pedidos de casamento, de cura aos santos quando o balão ia subindo. 

Mas, como tudo é passageiro, esse tempo também já passou, contudo, nada mais imortal que as boas recordações, boas amizades, convívio com nossas famílias, primeiros amores; e se tudo isso é saudosismo, podem acreditar, me encaixo diretinho nesse termo. Enquanto viver, estarei sempre fazendo a conexão entre o passado e o presente; essa é uma maneira de não esquecermos nossas origens, nossa cidade natal, nossas amigas e amigos, os acontecimentos exitosos e a alegria da vida. Ah! ia me esquecendo, 1958, também foi o ano de minha 1ª Comunhão, acontecimento esse, já mencionado em um artigo anterior e também a realização do meu sonho de criança que era estudar no Ginásio Santa Águeda. Iniciava-se nesse ano, os melhores momentos da minha infância e adolescência, frente aos laços de amizade que se fizeram e que até hoje perduram.
Ao Mestre Djalma, pelo mérito e apreço que sempre teve por todos, pelo pioneirismo na fundação do escotismo em Ceará-Mirim e por ter dado a cidade um modo de vida mais dinâmico já que interagiu com a juventude e suas famílias, muitas vezes de modo disciplinar, outras vezes com muita paciência e persistência acreditando no potencial de cada um dos seus discípulos. 

Acrescento e agradeço também, a paciência de Jó que teve para comigo, quando dos ensaios da Banda Marcial no Ginásio Santa Águeda para os desfiles de 07 de setembro; me fez acreditar que eu tinha ritmo e habilidade para tocar tarol. Sinto-me ainda favorecida através dos meus dois queridos irmãos (Diassis – in memoriam, e Paulo), que tocavam na banda. Aliás, a maior e melhor banda de música que a cidade de Ceará-Mirim já teve. 

Encerro esse artigo, fazendo também uma homenagem a todos que a minha memória lembra e que fizeram parte da banda de música nos anos de 1958 a 1968, enlevando assim, as muitas alegrias que nos deram quando a víamos passar, perfilados, uniformizados, com seus quepes, sapatos pretos lustrosos, brilhantina no cabelo, na maior envergadura, sob a batuta do Mestre. Djalma Ribeiro da Silva – Mestre da Banda de Música de Ceará-Mirim – In memoriam Aldecerjan ( Decinha), filho de Seu Djalma – Instrumento - Piston Antonio Cerqueira Neto – (Neto) – Instrumento – Saxofone Almir (filho de Seu Djalma) – Instrumento - Tarol Antonio Borges – Instrumento – Contrabaixo – In memoriam Antonio (filho de seu Djalma) Instrumento – Bombo Armando Soares – Instrumento – Tenor – In memoriam Benedito – Instrumento – Piston – In memoriam Chico Pindoba – Instrumento – Saxofone Batista – Instrumento – Trombone de sopro ou pistol – In memoriam Cícero de Castro – ( Cisso Perrii) – Instrumento – Baixo – In memoriam Damião Soares – Instrumento - Trombone de sopro ou pistol - In memoriam Damião Velho – Instrumento – Trombone de sopro ou pistol Ernani Soares – ( Buxudinho) – Instrumento – Clarinete – In memoriam Francisco de Assis Barbalho Bezerra - (Diassis)- Instrumento – Trombone de sopro ou pistol Francisco de Assis Soares (Liliu) – Instrumento – Clarinete Ionaldo Costa – Instrumentos – Bateria, surdo, bombo Itamar Costa – Instrumento – Piston – In memoriam Irimar Costa – Instrumento - Saxofone – In memoriam Itaci Costa – Instrumento – Clarinete – In memoriam Izulamar Costa – Instrumento – Trompa – In memoriam Manoel – (Mané Beju) – Instrumento - Surdo Nenên de Chico Padre – Instrumento – Clarinete – In memoriam Paru – Instrumento – Pratos – In memoriam Paulo Barbalho – Instrumentos – Surdo e Bombo Tadeu Marques – Trombone de sopro ou pistol – In memoriam Zé Gago – Instrumento – Sax Tenor – In memoriam. “...A chegada de Seu Djalma com toda a sua família é motivo de alvoroço na cidade, trazendo para todos à realização de um sonho...”

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