domingo, 29 de janeiro de 2023

ENGENHO UMBURANAS

GALERIA HISTÓRICA

Engenho Umburanas

Texto: Professor Gerinaldo Moura

Casa Grande do Engenho Umburanas - 2009 - Foto: Gibson Machado

O Engenho Umburanas (ou Imburanas como costumeiramente várias pessoas pronunciam), foi construído em um local bastante privilegiado, de onde se tem uma esplêndida visão da cidade de Ceará-Mirim, à esquerda da rodovia RN-160, em direção ao Baixo Vale e às praias de Muriú, Jacumã e Porto Mirim.

A propriedade está fora da área margeada pelo rio Ceará-Mirim, em um local que se assemelha a um tabuleiro. O engenho foi fundado pelo Padre Antônio Antunes de Oliveira, provavelmente no início do século XIX, pois, segundo Dr. Júlio Senna, por volta de 1866 já estava funcionando a todo vapor:

Padre Antonio Antunes de Oliveira

“Em 1866, o vale do Ceará Mirim produziu uma grande safra de 287.000 sacos de 60 quilos de açúcar bruto, sedo considerada a maior safra de todos os tempos, somando-se ainda os 210.000 sacos de 82 quilos, cuja notícia foi publicada pelo jornalista Elói de Souza, pelo historiador Tavares de lira e por F. Silva no Jornal A República de 1926 e em 1938”.(Senna, Júlio. Ceará-Mirim exemplo nacional vol.II, página 157. Ed. Pongetti. Rio de Janeiro 1972)

O Engenho Umburanas era considerado de grande porte e estava voltado não só à produção de açúcar bruto, mas também à produção de aguardente. De conformidade com registros existentes no Instituto do Açúcar e do Álcool, após o ano de 1935, o Engenho Umburanas produziu apenas 3.000 sacos de 60 kg de açúcar por ano enquanto que a aguardente produzida até 1925, teve um rendimento de 10.320 litros por ano.

Pesquisas assinalam que foi o Umburanas o primeiro engenho do Ceará-Mirim a utilizar turbinas e caldeiras à vácuo. Nos dias atuais, infelizmente, não existe nada que identifique o prédio ou o local onde funcionou o antigo engenho. Por esse motivo estima-se que a sua produção não tenha ultrapassado a primeira metade do século XX devido ao surgimento das usinas, quando então, quase todos os engenhos foram se transformando em fornecedores de cana, isso quando as propriedades não eram vendidas aos usineiros.

Segundo o historiador Tavares de Lira, entre os anos de 1911 a 1950, existiam apenas três engenhos movidos a vapor e com turbinas. Eram eles: Umburanas, São Francisco e Ilha Bela. O Umburanas também possuía uma boa destilaria que produzia aguardente bastante apreciada pela qualidade.

A casa-grande do Engenho Umburanas encontra-se preservada, não tendo sofrido intervenções que prejudicassem sua arquitetura original. O seu estilo arquitetônico foge aos demais padrões das construções existentes no vale do Ceará-Mirim assemelhando-se ao estilo inglês da era Vitoriana.

A explicação para esse detalhe, está relacionado ao fato de que o engenho era possuidor de um moderno maquinário importado da Inglaterra os técnicos responsáveis pela montagem e manutenção do mesmo vinha daquele país.

O Engenho Umburanas ao que se sabe, foi o único que manteve por um longo período, um técnico inglês em trabalho permanente no local, e que atendia também aos demais senhores dos engenhos da região que investiam em maquinaria inglesa.

Durante algum tempo, a casa grande serviu de retiro espiritual para os padres jesuítas de então. do lado esquerdo da casa-grande existia uma pequena capela, onde o Padre Antunes celebrava Missa apenas uma vez por ano. Geralmente no Natal e a outra Missa ele celebrava no Engenho Diamante da Família Meira. O que resta do conjunto rural do antigo engenho Umburanas é composto apenas por sua casa grande e sua antiga capela, passou a ser  utilizada como depósito.

A professora aposentada, dona  Maria Soledade Azevedo, antiga moradora do Engenho Umburanas e que era também responsável pelo barracão do engenho, deu a seguinte declaração:

“Quando o Umburanas pertencia à família Varela, dona Antonieta Varela e seu esposo, o senador Luiz Lopes Varela, hospedavam todos os anos, vários padres que vinham fazer missão em Ceará-Mirim e todo o vale. Outra recordação de dona Soledade Azevedo é referente ao catecismo que ela passou a ministrar depois de aprender com os missionários, os quais sempre acompanhava em suas pregações. Quando o senhor Rafael Fernandes Sobral se casou com a senhora Lucy Varella, foram morar em Umburanas, sendo ele o novo administrador. Por conta deste fato, Maria Soledade foi trabalhar no barracão da Usina São Francisco, permanecendo por lá entre os anos de 1950 a 1951.

Vendo a dedicação que ela tinha às crianças e jovens daquelas terras, dedicando-se a lecionar nas horas vagas, dona Lucy Varella organizou na casa-grande do Engenho Umburanas a sala de aula para abrigar o grande número de crianças que existia nos arredores necessitando aprender a ler e a escrever, abrindo vagas para a criançada da Usina São Francisco, dos engenhos Diamante, Jericó, Cruzeiro e da comunidade do Gravatá. Dona Soledade Azevedo lecionava nos três turnos, ficando o noturno para atender aos mais velhos”.(Maria Soledade Azevedo Silva, entrevista publicada no face book “Ceará-Mirim Vale de Cultura 2020- Editorial Figura do verde Vale)

A casa-grande do Engenho Umburanas permanece altaneira e majestosa do alto de uma pequena elevação, contemplando o vale e seus momentos de prosperidade e decadência da riqueza canavieira.

Durante vários anos a casa-grande abrigou funcionários da Usina São Francisco, como por exemplo o senhor Clécio Santos, sua esposa dona Zélia Santos e seus filhos, bem como o casal Francisco Flávio da Silva e a professora Ana Teresa Ramalho Praxedes da Silva, que repetiu a mesma trajetória de Rafael Sobral/Lucy Varela, quando foram residir no Umburanas após terem se unido em matrimônio, dentre outros. No entorno da casa-grande existem algumas residências que foram construídas para abrigar moradores que trabalhavam na Usina São Francisco/Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim.

Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100047608250923


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