domingo, 29 de janeiro de 2023

O BATIPUTÁ E O ÓLEO DE BATÍ

 

Arbusto do Batiputá - 2013 - Foto Gibson Machado

O Batiputá é um arbusto encontrado, regionalmente, nos tabuleiros entre as bacias dos rios Maxaranguape, Ceará-Mirim e Mudo.

A Ocnaceae, Ouratea parviflora conhecida popularmente como batiputá, é encontrada nos tabuleiros (cerrados) do Nordeste Brasileiro. O óleo dos frutos tem larga aplicação na medicina popular, por exemplo, na cura de processos inflamatórios e enfermidades localizadas na pele. O trabalho foi realizado com o óleo extraído dos frutos, cuja composição em ácidos graxos, foi determinado por análise qualitativa e quantitativa, pelo processo de cromatografia de fase gasosa. Através de ensaios microbiológicos "in vitro", foi avaliada a atividade antifúngica e antibacteriana do extrato bruto e de seus constituintes insaponificáveis, obtendo-se resultados expressivos nas concentrações de 500 e 250 ug/ml.

Há um estudo sobre o Batiputá de autoria, à época, da mestranda Talita Rocha de Miranda Pinto realizado pela Universidade de Ceará em 2017. Escreve a mestranda que “o Batiputá (Ouratea fieldingiana (Gardner) Engl.) de cujos frutos pode ser extraído um óleo que é utilizado tanto na culinária, para fritar peixes e carnes, quanto na medicina alternativa no combate a dores reumáticas, gripe, gastrite e inflamações. O nome popular Batiputá é dado no Nordeste do Brasil às espécies do gênero Ouratea, tratando-se de plantas pertencentes à família Ochnaceae que são plantas essencialmente arbóreas ou arbustivas, também empregadas em ornamentação urbana (BARROSO et al., 1986 apud ARAÚJO, 2010). A população costuma fazer uso das espécies de Ouratea como tônicas e adstringentes (O. castanaefolia e O. parviflora), como anti-inflamatório e em doenças da pele (O. parviflora) e no tratamento de doenças gástricas (O. spectabilis) (CORREA, 1974; PAULO et al., 1986; FELICIO et al., 2004 apud ARAÚJO, 2010)”.

A pesquisadora continua sobre o estudo: “Avaliou-se o efeito do óleo de Ouratea spp. (Batiputá) sobre a cicatrização de feridas cutâneas em modelos experimentais in vivo. O óleo vegetal foi adquirido comercialmente em Fortaleza, Ceará, Brasil, e analisado química e microbiologicamente. Camundongos (n=30) Swiss, machos, pesando cerca de 30 gramas foram distribuídos em três grupos (n=10): Grupo I tratado com NaCl a 0,9%; Grupo II tratado com óleo de Helianthus annus (grupo de referência) e Grupo III tratado com óleo de Ouratea spp. Feridas cutaneas foram induzidas no dorso de todos os animais que receberam 100 µL de cada tratamento aplicado na lesão, diariamente, por 12 dias consecutivos. Parâmetros macroscópicos e a mensuração da área da lesão foram realizadas diariamente e fragmentos das lesões foram coletados nos dias 2, 7 e 12 para avaliações histológicas. O óleo de Ouratea spp. apresentou como principais constituintes os ácidos linoléico (40,88%) e oléico (28,29%). O óleo de Ouratea sp. iniciou o processo de retração da área da lesão no 4º dia, enquanto que o óleo de H. annus e NaCl a 0,9% iniciaram o processo de retração da área da lesão no 7º e 6º dia, respectivamente (p<0,05). O tratamento com o óleo de Ouratea spp. apresentou uma colagenização mais acentuada quando comparado aos outros tratamentos (p<0,05). Estes efeitos podem estar associados aos altos níveis de ômega-6 e ômega-9 presentes nesse óleo. Concluiu-se que o óleo de Ouratea spp. apresenta um grande potencial terapêutico para uso em cicatrização cutânea. Palavras-chave: Ouratea spp., Ochnaceae, ácidos graxos, cicatrização, feridas cutâneas”.

Em 2013 iniciei pesquisa sobre a coleta e produção do óleo de Batí na comunidade de Aningas, em Ceará-Mirim/RN. Saímos bem cedo para o tabuleiro (mata nas dunas) para a coleta do fruto do Batiputá. No tabuleiro, nessa região pesquisada, há predominância de mangabeiras e batiputá. O período da coleta foi no mês de abril de 2013 quando os arbustos de Butiputá estão todos com os frutos amadurecidos.

Seleção dos frutos do Batí - 2013 - Foto Gibson Machado

Após a coleta dos frutos, foi iniciado o processo de seleção e posteriormente a trituração dos frutos através do pilão. A trituração concluída, o material passa pelo processo de lavagem para separar os resíduos de um óleo amarelado. Esse óleo é separado da água e levado para apuração em um fogo à lenha. Após algumas horas, o óleo ainda quente, é passado em um tecido para retirar os restos de material que ficaram misturados durante o processo. Finalmente o óleo de Bati está apurado e pronto para consumo.

Pilando os frutos do Batí - 2013 - Foto Gibson Machado

A produção e o uso do óleo de Batí é uma herança cultural dos povos originários que habitavam nos vales dos rios Ceará-Mirim, Maxaranguage e Mudo e seu processo de produção artesanal foi transmitido de geração a geração, por essa razão, é patrimônio cultural imaterial. Por ser sua fabricação artesanal muito trabalhosa, está ficando cada vez mais difícil encontra-lo no mercado. 

Separando o óleo do bagaço do batí - 2013 - Foto Gibson Machado
Cozinhando o Óleo de Batí - 2013 - Foto Gibson Machado
coando o óleo de Batí depois de cozinhado - 2013 - Foto Gibson Machado

Óleo de Batí já apurado - 2013 - Foto Gibson Machado

Sobre o Batiputá:

https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/28011/1/2017_dis_trmpinto.pdf

https://saboresdacidade.com/chef-bel-coelho-ensina-receita-com-oleo-produzido-pelo-povo-indigena-tremembe-da-barra-do-mundau/


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